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Críticas

Cineplayers

Tensão vermelho-fogo.

7,0
Com três filmes lançados num espaço de 7 meses, todos como protagonista, há de ser uma espécie de recorde a situação atual de Dwayne Johnson, para sempre The Rock. Os dois anteriores, a nova versão de Jumanji e Rampage, somam um total de quase 1,5 bilhão no mundo todo, confirmando sua posição como o astro mais rentável do cinema na atualidade. A bordo de produções repletas de ação e efeitos especiais, The Rock acrescenta no molho de seus filmes doses fartas de diversão familiar. O risco pelo qual se passa nos seus projetos são reais, mas nada de muito ofensivo ou pesado é colocado em cena. Há uma preocupação clara para que o público não se restrinja, ao mesmo tempo em que as produções precisam se mostrar ágeis e com um senso de urgência que façam a plateia se conectar durante aquela hora e meia.

Dos três, Arranha Céu: Coragem Sem Limite é o mais efetivo tecnicamente. Dirigido por mais um parceiro dele, Rawson Marshall Turber, que também dirigiu um outro hit do astro, Um Espião e Meio, e ao menos um filme muito interessante, Família do Bagulho, de muito sucesso, mas nenhum dos dois tinha uma elaboração visual ou técnica muito amplificada. Aqui, Turber conta com um auxílio pra lá de luxuoso, Robert Elswit. Traduzindo, o fotógrafo de Paul Thomas Anderson, vencedor do Oscar por Sangue Negro, e que ainda tem no currículo Boa Noite e Boa Sorte, 8 MM, Syriana, O Abutre e tantos outros momentos formidáveis. O pensamento mais óbvio é que já existia uma intenção imagética elaborada, e essa opção é clara na tela - o trabalho de correção de cor do filme é muito poderoso, mais que os enquadramentos, que tem sim um diferencial em relação aos demais blockbusters, mas o colorido do filme, o acerto da colorização é um ponto alto, transforma a experiência.

A trama não é um ponto alto desse tipo de produção, uma atualização do Duro de Matar do McTiernan com uma pitada da catástrofe de Inferno da Torre, mas sem as baixas vistas no segundo. Como dito no início do texto, é claramente uma produção que não abre mão de público. Pra isso, as muitas cenas de tiroteio não têm mortes em close, o sangue especificamente só aparece em uma cena, e os outros vilões são mortos em esquema de 'desaparecimento' (quedas do prédio, explosões, etc). Isso é um problema quando a proposta é outra que não a já conhecida por essas produções, então o esquema não incomoda muito. Como é também uma produção com capricho técnico, esse esquema desce sem prejuízos... aliado ao ritmo frenético que o filme nunca esconde a intenção de ter, temos um programa de primeira.

Aliado ao fato de que nosso protagonista é um poço de carisma, um cara que vende muito bem a intensidade de seus personagens e que consegue com facilidade convencer em esquema mais sério ou mais leve, talvez isso justifique o fato de The Rock estar no número 1 do podium hoje, e o filme só mantém seu nome no topo. O longa ainda tenta trazer uma atriz esquecida de volta a ribalta, e Neve Campbell dá conta do recado com uma mocinha nada típica. As credenciais de seu parceiro de cena são conhecidas pela carreira e por um flashback que justifica como eles se conheceram e também o fato dele ter uma perna amputada (aspecto esse que rende muitas cenas excelentes), mas as de sua esposa são apresentadas durante o filme, e Neve corresponde ao que se espera quando suas habilidades são narradas. Em cenas repletas de adrenalina, a eterna Sidney Prescott da série Pânico mostra porque o cinena a subutilizou.

Pra completar o quadro de acertos, é muito bom perceber como John Wick foi positivo para o cinema. Os cineastas e seus longas foram sendo moldados nos últimos anos pelo cinema de Johnnie To e da dupla David Leitch e Chad Stahelski, que foram adaptando e refinando sua visão, sua mise-en-scene. Não estou dizendo que o nível é o mesmo, mas Arranha Céu tem algumas cenas muito especiais, como a primeira luta na qual se envolve o protagonista, num quarto de hotel, de coreografia elaborada, como todo o clima de tensão envolvendo a cena-chave do filme (a do salto) é construída com profundo respeito e cuidado, criando uma experiência incômoda e fascinante, mas principalmente o clímax final, numa estrutura que reproduz uma sala de espelhos, em referência que nasce no Dama de Shangai de Orson Welles e já tinha vindo parar no The Guest de Adam Wingard, que encerra com profundo bom gosto e muita tensão um filme pipoca aditivado por uma vontade de ir além. 

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