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Críticas

Cineplayers

Um dos piores vencedores do Oscar de Melhor Filme de todos os tempos. Apesar da técnica interessante, o filme é absolutamente vazio.

4,0

As Aventuras de Tom Jones é um filme inglês que faz parte de um pequeno grupo de filmes vencedores da principal categoria do Oscar que são realmente ruins. Ao seu lado, figuram bobagens como E o Vento Levou e Gigi. Na realidade o Oscar de seu respectivo ano foi disputado com candidatos não muito inspirados, e a vitória ficou um pouco mais fácil para o filme do diretor Tony Richardson. A prova da mediocridade de Tom Jones é que hoje ele não figura em nenhuma lista importante que contenha filmes considerados bons, ou seja, quase cinquenta anos depois o filme apenas sobrevive por ter vencido esse popular prêmio. O diretor também levou, naquele ano, a estatueta de melhor direção, vencendo inclusive Fellini, que naquele ano disputava com 8 ½.

Trata-se de uma comédia sexual de época e costumes, ambientada no século XVIII, onde um bastardo (Tom Jones, feito pelo ator Albert Finney perto do auge de sua juventude e beleza), criado entre a nobreza, leva uma vida fácil lotada de aventuras sexuais com prostitutas e educadas damas da alta sociedade, que parecem sentir um prazer extra ao relacionar-se com alguém de menos classe. Entre tantas mulheres, há uma que teria o poder de tirá-lo dessa vida e fazê-lo casar: Sophie Western (a realmente bela Susannah York). O problema é que ele não possui riquezas, e o pai da moça quer ver ela casada com alguém que possa dar a ela uma vida confortável.

Quando pensa-se em um filme de época, além dos belos trajes e costumes, pensa-se logo, talvez, em uma direção clássica, regular, com belas tomadas e movimentos suaves de câmera. Tom Jones, porém, toma uma direção totalmente contrária. A direção de Richardson, inspirada certamente pela Nouvelle Vague francesa, que teve seu ápice no início da década de 1960, é o grande diferencial do filme, pelo menos à sua época. Não pode-se negar que o estilo ousado imposto pelo diretor funciona como um elemento de surpresa. A montagem irregular, câmera acelerada, balbúrdia em cena, falta de simetria e ritmo são algumas marcas do filme. A isso, somam-se cenas com o narrador conversando com o público e os atores encarando diretamente a câmera. Isso sem falar do ato inicial do filme, que introduz os personagens e o passado bastardo de Tom como em um filme mudo. Bastante original.

E esse estilo um tanto quanto anárquico é o que salvou um pouco Tom Jones da mediocridade total, transformando-o em um filme um pouco mais interessante. Se fosse filmado da forma clássica, seria um trabalho absolutamente insuportável. Tom Jones, o filme, possui personagens ruins e não passa de uma sequência de cenas com teor sexual. Obviamente, na prática, nada é mostrado, o filme apenas insinua inúmeros jogos de interesse entre todos os personagens, com intrigas desinteressantes entre as mulheres abastadas de dinheiro, que precisam preencher suas vidas com seus amantes. Nesse caso, falamos de Tom Jones, é claro. Não há, porém, algo requintado como Barry Lyndon, Ligações Perigosas ou mesmo o recente Orgulho e Preconceito, onde os mesmos elementos da aristocracia são filmados em conjunto com o bom desenvolvimento dos personagens e tramas realmente intrincadas, interessantes. Tom Jones é bastante superficial e preocupa-se mais em apresentar estilo do que conteúdo.

A fotografia do filme, porém, ao contrário do interessante estilo técnico, não é boa, proporcionando cenários sem vida mesmo quando estamos no campo e uma Londres feia e desagradável. As atuações são bastante prejudicadas pois não há grandes diálogos ou acontecimentos importantes pelos quais os personagens passam. É apenas uma comédia de época bastante limitada na qualidade de suas piadas, onde a maior preocupação da atriz principal é fugir em busca de seu amor proibido mesmo que ela saiba que não é (e provavelmente não será) a única mulher de sua vida. Contudo, pelo menos é agradável para qualquer cinéfilo mais novo ver Albert Finney no início de sua carreira, mesmo que em um papel extremamente caricato, que qualquer outro ator dotado de beleza razoável poderia fazer.

Se Tom Jones fosse lançado nos dias de hoje, seria quase que totalmente ignorado. Porém, como foi lançado em 1963, deve-se avaliá-lo como um filme da década de 1960. Mesmo aí os problemas sobrepõem-se às boas qualidades. É um filme vazio e, pelo menos em minha opinião, sem graça. Ser vazio foi uma das características da Nouvelle Vague para muitos filmes (não é possível para dizer, por exemplo, que Acossado apresenta um conteúdo profundo), mas aqui, além de vazio, é absolutamente banal e desinteressante. São mais de duas horas de filme que poderiam ser resumidas em um média-metragem. Ou simplesmente não existirem.

Comentários (1)

Shin Chan | terça-feira, 27 de Agosto de 2013 - 15:16

Quem deveria ter vencido o Oscar de melhor filme e diretor é Elia Kazan(Terra de Um Sonho Distante).Aquele foi até ruim pelo fato de Cleóprata não ter sido indicado a melhor direção;os filmes O Cardeal,O Indomado e 8 ½ não terem sido indicados a melhor filme.

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