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Críticas

Cineplayers

Humor desvairado e bruxas histéricas.

7,0

As Bruxas de Zugarramurdi, novo filme do ótimo Álex De La Iglesia, é abarrotado de atos longos que embora ágeis e palpitantes, são demasiado prolongados comprometendo a experiência de apreciação. Alguns gostarão, outros odiarão tanta energia. Inegavelmente divertidas, especialmente com relação a sua desvairada cena introdutória, tais cenas não economizam na ação, esgotando o público com a quantidade de informação e movimentos de câmera. Ainda que comprometidas, as cenas são tão bem construídas que adentramos em instantes em seu universo, partilhando de sua profundidade e observando, seja com deslumbramento ou escárnio, sua categorização que transita do insano ao ridículo, identidade construída por seu diretor, um dos mais cultuados e premiados do recente cinema espanhol.

O filme esgota o público ao mesmo tempo em que o entretém com seu desatino. Tudo é realmente divertido. E melhor, o filme tem uma das aberturas mais malucas e cômicas numa cena de assalto realizada por duas estátuas vivas – uma delas fantasiada de soldado de plástico e outra de Jesus Cristo. Ahhh, não poderia ser melhor. Um universo de piadas provém da figura religiosa retratada. Essa é uma das cenas mais duradouras, a acompanhamos do assalto até a fuga, e assistimos toda a ação conduzida pela justificativa em diálogos delirantes com uma criança. Tudo é construído num ritmo alucinante até seguirem numa estrada rumo aos campos espanhóis, local o qual encontram uma pequena civilização assustadora.

Questionavelmente vem, entre diálogos e situações, menções ao sexo feminino, algo que eventualmente pode irritar algumas mulheres. No filme elas são acusadas de serem as destruidoras da vida dos homens que se juntam numa fossa compartilhada lembrando a miséria provocada pelas mesmas. Há outras cenas que trazem seus comportamentos, como uma especificamente em que não estranharia se fosse originada de Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos, quando uma das vampiras tem um surto histérico por conta de um homem que lhe nega amor. Mas não se trata de um filme machista, a ridicularização é tratada independente de gênero. Os homens da história são estúpidos e triviais, e se revelam à medida que o medo os consome.

Por vezes a obra se assume B, flertando ainda com outros gêneros, experimentando da violência explícita e do humor deliciosamente inadequado, características assumidas por De La Iglesia que contribuíram para formação de um público específico; e para despertar atenção de curiosos. A estética é uma constante abstraída de um estilo gore, sua tonalidade escura favorece a sublimidade plástica tradicional de sua filmografia, reconhecida mundialmente em seu ótimo Balada do Amor e do Ódio. Provavelmente esse é seu trabalho mais popular. Uma das heranças desse é a estonteante Carolina Bang, atriz que decididamente formou parceria com De La Iglesia, surgindo aqui como uma das bruxas carregada de volúpia e benevolência contraditória. 

Outra presença marcante é a da veterana Carmen Maura, umas das atrizes mais queridas da Espanha. Pode-se esperar de tudo aqui, as surpresas se acumulam nessa piração coletiva muito bem filmada. A balbúrdia intencional até parece fugir do controle de seu realizador, a câmera tem liberdade e o roteiro se constrói ao longo da filmagem com inventividades adaptadas. Mas nada, na verdade, foge do domínio do diretor que brinca e se diverte juntamente seu inspirado elenco. As Bruxas de Zugarramurdi é um filme livremente adaptado de um caso acontecido em Logronõ, em 1610, época em que a Inquisição assassinou dezenas de seus habitantes por serem consideradas bruxas. Este é mais um trabalho desorientado e deliciosamente bizarro do cineasta. Ao contrário dos anteriores, prioriza completamente o humor negro e explana uma aventura improvável a partir de anti heróis.

Visto na 38º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Comentários (1)

Alexandre Carlos Aguiar | sexta-feira, 14 de Novembro de 2014 - 13:08

Uma filme muito bem bolado e com algums referências, principalmente a inicial, que lembra MacBeth. As bruxas fazendo adivinhações com um baralho de truco é fabuloso. Há um humor a Monthy Phyton escondido aqui e ali, muito sutil e humor negro que parece algo de Família Adams.
Um filme divertido e interessante. Vale a pena.

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