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Críticas

Cineplayers

Diversão e delicadeza se fundem num filme singelamente harmonioso.

7,0

Férias! Muita diversão e confusão estão previstas para aquele conhecido e simpático menino imaginativo que tantos aprenderam a gostar, tanto na literatura, a partir dos livros de René Goscinny, quanto no cinema. É isso que o novo filme de Laurent Tirard, As Férias do Pequeno Nicolau (Les Vacances du Petit Nicolas, 2014), planeja apresentar. Proveniente do sucesso do filme anterior, esse leva os graciosos personagens a um outro contexto. A forma parece a mesma, uma autêntica extensão das peripécias passadas com rostos diferentes. Vale revisitar a década de 50 observando o pequeno Nicolau juntamente seus novos e, tal como no anterior, sistemáticos amigos. Não só isso, Nicolau segue pessimista sobre possibilidades do futuro, ter um caçula já não o assombra, mas com quem poderá se casar lhe tira o sossego.

Toda sequência geralmente enfrenta questionamentos com relação ao que se fez anteriormente. Aqui não é diferente, é relativamente inferior, ainda que singelo e simples. A sensação nostálgica por sua vez beneficia a homogênea trama. A história é branda e caminha por uma nova direção sem nunca deixar de evidenciar o futuro do menino que o imagina com terror. Apesar de se manter fiel e próximo ao que já fora feito, haverá uma queixa para os saudosistas: Mathéo Boisselier entra no lugar de Maxime Godart, o primeiro Nicolau. As razões são óbvias, muito tempo se passou após o primeiro filme e Godart foi preterido por alguém mais novo, alguém que, felizmente, carrega a doçura daquele pequeno infante que encantou o mundo no primeiro filme lançado em 2009.

Os pais do garoto, novamente vividos pela dupla Kad Merad e Valérie Lemercier, planejam as férias. Nicolas se vê dividido entre praia e montanha. A praia subitamente torna-se o destino, mas esta escolha vem acompanhada por um custo, o que refuta as aspirações de sossego e descanso almejadas pelo patriarca. Sua sogra viajará junto: aí reside a guinada com o núcleo de relações objetivando o conforto da velhinha que é responsável pelas grandes confusões da história, especialmente vinculadas ao genro. A relação entre ela e o neto é curiosa e quase justifica essa sequência.

Com este trio estão os principais momentos, carregados com um humor intensivo e inofensivo, às vezes soando aborrecido. Só nas repetições, pois a narrativa é um enlevo. Após pouco tempo, vem novas relações com outras crianças pelo caminho: cada personagem ganha uma função exclusiva e a obra pouco oferece de substancial, a não ser a recreação do público. As caracterizações de singularidades aqui são econômicas. Cada um com sua particularidade encontra um mesmo objetivo. Nessa linha há algumas extenuações: o menino que somente chora, por exemplo, acaba tendo de repetir a piada até um momento em que o espectador sorri por convenção. Enquanto acompanhamos essa história, outra subtrama paralela roda em Paris tratando de solidão.

Gravado na Ilha de Noirmoutier na França, a obra ganha beleza bucólica e ressuscita o mesmo estilo fotográfico e artístico visto em O Pequeno Nicolau (Le Petit Nicolas, 2009). As cores quentes podem ser vistas espalhadas por todo o cenário ornando com o figurino de seus bem caracterizados personagens centrais. Ágil, a trama se estrutura num roteiro que busca a diversão ao passo que se preocupa com a sensibilidade de seus carismáticos intérpretes. É preciso cativar adultos e crianças. A fórmula em outra hora deu certo, por quê não repeti-la? O bom diretor Laurent Tirard acerta em manter a postura delicada do roteiro em favor do entretenimento descompromissado, no entanto, se em outro momento havia reflexões a cerca de tantas coisas, aqui é dado margem quase que unicamente para brincadeiras. Por sorte elas são perfeitamente funcionais. Já o futuro questionado fica em suspensão.

Visto durante o 6° Paulínia Film Festival

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