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Praias de Agnès, As

(Plages d'Agnès, Les, 2008)
8,2
Média
43 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Documentário autobiográfico de Varda tem grande fôlego criativo.

8,0

“Para mim a realidade não importava e eu não sabia nada da vida.”

Com a frase acima a cineasta francesa Agnès Varda entrega uma das chaves para entendimento de seu cinema e de seu olhar quase infantil sobre o mundo. O interessante neste documentário dirigido por ela e sobre ela é que do alto dos seus 80 anos e da sua condição de cineasta que esteve envolvida com as origens da Nouvelle Vague, sua história  coincida com a história de vários movimentos culturais importantes da 2ª metade do século XX, do que o filme acaba se tornando também um painel.

Seu cinema se esclarece quando conhecemos a trajetória intelectual de Varda. Filha de um imigrante grego, aos 18 anos ela passou um período vivendo e trabalhando numa comunidade de pescadores, o que diz muito de sua atenção em documentar vidas comuns.

Seu engajamento às lutas feministas a favor do direiro de dispor do próprio corpo em questões como o aborto pode se relacionar com a maneira como Agnés lida com o corpo em seus filmes, sempre recheados de nus, ajudando a transpor um pequeno tabu sobre a gratuidade da nudez no cinema, levando o corpo a ser encarado de outra perspectiva.

Sua explicação sobre o surgimento da Nouvelle Vague mostrou-se bastante diferente do comum maravilhamento dos relatos que retornam ao movimento: com sua sensibilidade quase infantil, a diretora descreve o momento em que Goddard é perguntado por outra pessoa que faça um cinema como o dele – barato – ao que ele indicou Varda.

Dentre os momentos de intimidade mostrados pelo filme, vemos a cineasta dizer que não é cinéfila, ao que podemos concluir sua relação quase orgânica com o cinema. Em vários momentos do filme ela conta sobre alguns pintores cuja influência podem ser percebidas na criação de suas imagens e também como alguns acontecimentos de sua vida se transformaram em cenas de filme. É nessa perspectiva que Varda explica o filme que fez em homenagem ao marido Jacques Demy, que já doente, escreveu suas memórias e pediu que ela as filmasse. A cineasta fala de como alguns acontecimentos da infância do marido podiam ser claramente vistos em cenas de filmes dele.

Com grande fôlego criativo, Agnès Varda transforma o que poderia ser apenas uma monótona coleção de histórias sobre sua vida num documentário que ensina também a fazer cinema.

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