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Críticas

Cineplayers

Um filme diferente e menor de Eric Rohmer, mas, ainda assim, ótimo.

7,0

Quatro Aventuras de Reinette e Mirabelle, de Eric Rohmer, é o filme feito entre os marcantes O Raio Verde (Leão de Ouro no Festival de Veneza) e O Amigo de Minha Amiga. Ou seja, uma obra de transição, pois Rohmer abandona as discussões filosóficas de Pauline na Praia e, principalmente, A Colecionadora, para dar vazão à banalidade completa, ou seja, agora importa ao cineasta e roteirista francês os pequenos desvios do cotidiano, as frases jogadas que magoam, as dúvidas, mesquinharias, sordidez e preocupações amiúdes da classe média francesa.

As personagens de Rohmer não são glamourosas. Vestem-se mal, são angustiadas e muitas vezes feias, inseguras, tristes, têm problemas de dinheiro, não conseguem arranjar parceiros amorosos. Enfim, rigorosamente reais. Não são chiques, não têm arroubos sentimentais, muito menos vivem “grandes amores cinematográficos”. Suas mais ferrenhas discussões e brigas se dão por motivos tolos e, muitas vezes, fúteis, meros pretextos para a enxurrada de diálogos.

Como “Quatro aventuras” é passado na década de 80, a coisa é ainda mais triste por causa dos cabelões, da música cafona, das roupas horrendas e, o pavor, o pavor, das congas (para quem nasceu depois, é um sapato horroroso, de cores suaves, de conforto discutível e estética deplorável). Duas amigas se encontram no campo e trocam idéias. Percebem que têm afinidades. Vão morar juntas em Paris, pois uma delas vai cursar a academia de pintura. A falta de dinheiro, o cinismo das grandes cidades, os pequenos incidentes com demais pessoas são motivo para discussões entre as visões purista da interiorana e pragmática da urbana.

É fascinante. Claro que, no conjunto da obra do diretor, os grandes tratados morais que Rohmer fez nos “Contos morais” são superiores a essas “Comédias e provérbios”, mais suaves, leves, sutis, mas jamais descartáveis. Alguns críticos literários dizem que os tupinambás de cá não sabem ser leves na pena – Manuel Bandeira seria a grande exceção. No cinema, então, a coisa engrossa para pior. Talvez seja por isso a banalidade de Rohmer incomode tanto e cause tamanha rejeição a boa parte até mesmo de cinéfilos: é preciso se entregar ao diretor e a seu universo pequeno e circunscrito, caso contrário seu cinema é inaceitável.

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