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Críticas

Cineplayers

Stone cria belas imagens e momentos fortes, mas a sensação é sempre de estarmos vendo algo desnecessário e forçado.

4,0

As Torres Gêmeas foi feito sob medida para agradar ao ímpeto dos norte-americanos: demonstra sua coragem e atitude sob as piores condições, apoiando-se em uma história verídica que aconteceu em 11 de setembro de 2001, o que torna tudo mais forte e comovente. Já para quem não veste a bandeira americana estampada na camisa ou não possui um mastro com ela no quintal de sua casa o filme pode demonstrar ser simplesmente indiferente e soar deveras forçado. Acontece que os fatos reais, ainda que não vistos de dentro, foram muito mais intensos e emocionantes - e se o objetivo do filme foi emocionar e criar tensão, ele falhou justamente por conta disso.

Há sim alguns momentos bem criados e dirigidos por Stone. Eles geralmente provêm da opção do diretor em mostrar pouco os acontecimentos de fora e tentar dar a sensação para o espectador (e para ele mesmo) de como teria acontecido se estivéssemos no lugar dos policiais e bombeiros que trabalhavam naquela manhã. Não há muito tempo para desenvolver personagens no início do filme, o que acaba por adiantar a cena-clímax, que foi o desabamento da primeira torre. Depois, através de flashbacks é que vamos conhecendo melhor as duas principais vítimas, os policiais John e Will. Esses flashbacks tentam humanizar os personagens e trazer algum apelo sensível ao filme, em meio a tanta destruição e desgraça, porém a maioria deles é de mal gosto e poderiam ter ficado de fora da edição final. Isso porque todos são óbvios demais, bastaria uma cena no máximo para demonstrar como era o relacionamento de John e Will com suas famílias, mas o diretor insistiu e insistiu, e conseguiu tornar-se irritante.

Não é de se estranhar que Oliver Stone resolveria fazer algo mais seguro, após as duras críticas a Alexandre, seu último filme. Stone sempre fez filmes que destacassem o sentimento do povo dos Estados Unidos para com seus heróis e figuras históricas, aqui ele apenas pega sua perícia nesse assunto e torna tudo excessivamente melodramático, irritante e cafona. Há algumas cenas de gosto duvidoso e que interrompem a narrativa em vários momentos, como a aparição de Jesus Cristo para um dos soterrados. Aliás, muitos dos diálogos são simplesmente banais, mas nesse caso isso é bom, pois pessoas de verdade não declarariam odes a seu país sob tais circunstâncias. Talvez no máximo redescobririam o amor pelas coisas simples, mas que realmente importam na vida, como a importância da família.

Como o filme não conseguiria sobreviver ao fato de ter somente cenas escuras sob os escombros, Stone optou por mostrar paralelamente a dor da dúvida sentida pelas esposas de ambos os policiais. Embora o conteúdo dessas cenas seja naturalmente emocionante, elas também são (novamente) óbvias e previsíveis ao extremo. O fato de sabermos desde o início o futuro de ambos os personagens, na realidade, fez tais cenas tornarem-se bastante desnecessárias. A sensação da falta de conteúdo é imensa, e um número menor de cenas de lágrimas e apreensão por parte desses personagens seria bem-vindo.

A melhor parte de WTC é, não surpreendentemente, sua parte técnica. Apesar de contar com alguns efeitos especiais medonhos (a fumaça sobre Manhatan ficou visualmente abominável), de forma geral a fotografia de Nova York ficou estupenda. O filme é bastante escuro, pelo fato de muitas cenas serem sob os escombros, e sempre que uma cena exterior chegava confesso que sentia um alívio. Essas cenas externas demonstram a capacidade técnica de Stone em criar belos quadros vivos, ratificando o que já havia feito em seu filme anterior, Alexandre, que também era felizardo nesse quesito. A trilha sonora excessivamente melancólica fica tocando o tempo todo, em uma tentativa quase desesperada de trazer auto-importância aos acontecimentos, como se isso fosse necessário.

No final das contas, WTC é um dos filmes mais desapontadores da carreira de Oliver Stone. Ora, provavelmente é o mais de todos. Porém ao menos a culpa não é exatamente sua: considerando que foi feito primeiramente (e mais do que qualquer outro filme de sua carreira) para o público norte-americano, é bem sucedido no seu objetivo, ao emocionar e criar belas imagens. Se você aceitar esse fato - de que poderá estar sendo altamente manipulado - e se deixar levar, poderá ver no filme uma boa sessão de entretenimento - sim, não sejamos hipócritas ao negar o conforto de ver a desgraça alheia com som estéreo e belíssima fotografia. No mais, é um filme altamente desnecessário e que não acrescenta nada à história que a maioria de nós vivenciou intensamente, ainda que no conforto de nossas casas, naquela terça-feira.

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