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Críticas

Cineplayers

Stone apostou na celebração à vida humana, e não na política, para falar do ataque terrorista.

5,5

Quando um segundo avião atingiu o World Trade Center, quase todo o complexo novaiorquino ruiu e, com ele, a arrogância, a prepotência e a certeza norte-americana de ser um país invulnerável. Citando o ex-primeiro ministro indiano Jawaharlal Nehru em sua frase mais famosa, “a arte de um povo é reflexo autêntico de sua mentalidade”, penso que os Estados Unidos vêm se tornando um país mais maduro, e seu cinema reflete isso. Afinal, cinco anos após os terríveis acontecimentos de 11 de setembro, são lançados dois filmes importantes a respeito dos trágicos acontecimentos – este As Torres Gêmeas e o anterior Vôo United 93, de Paul Greengrass – e, por incrível que possa parecer, não vemos na tela cidadãos enrolados na bandeira ianque, nem distorção dos fatos, nem música grandiloquente.

Já não era de se esperar algo do tipo de Oliver Stone, de posições políticas bem definidas e sempre um cineasta na contramão do que geralmente é produzido em Hollywood. Sua filmografia é qualitativamente inconstante, mas nunca alheia ao mundo. Por isso é surpreendente constatar que neste seu novo trabalho o tom é assumidamente apolítico, logo mais em se tratando de tema tão delicado. Stone não tenta encontrar causas nem apontar culpados; seu intuito aqui é contar a história real de dois sobreviventes do desabamento dos prédios do WTC. Sim, é uma celebração à vida, de um cineasta que outrora chocou multidões em filmes como Assassinos por Natureza.

Os policiais John McLoughlin (um estranho Nicolas Cage) e Will Jimeno (Michael Pena, o chaveiro latino de Crash – No Limite) acordaram naquele 11 de setembro da mesma forma como em quase todos os dias de serviço. Levantaram cedo, despediram-se das famílias e foram trabalhar. Era uma manhã rotineira até que foram informados que um avião colidiu com uma das torres do World Trade Center. Ainda sem muitas informações, resolveram entrar dentro daquele pandemônio, junto a outros corajosos colegas de profissão, com a finalidade de auxiliar e resgatar as vítimas. Não esperavam que um outro avião colidisse e que os prédios viessem abaixo. Presos nos escombros durante horas, travaram uma batalha para se manterem acordados e vivos, até que o resgate chegasse. 

Escrito pela estreante Andrea Berloff, a partir de depoimentos dos dois sobreviventes, As Torres Gêmeas é um filme cheio de altos e baixos. Seu melhor momento é mesmo sua parte inicial, pré-desabamento, mostrando através das impressões das pessoas comuns – que se tornam os olhos do próprio espectador naquele dia – algo até então inimaginável. Afinal, o que estaria realmente acontecendo? E o que você faria se estivesse ali, presenciando tudo? Na pele dos policiais, entraria naquele prédio arriscando a própria vida?

Quando o filme segue então a luta dos dois, entre os escombros, para se manterem vivos, o filme perde força. Em parte, porque de antemão já sabemos o desfecho; em outra, que Stone inunda-nos com flashbacks desnecessários e uma outra narrativa, mostrando como os familiares dos dois estavam reagindo ao que estava acontecendo (entrando em cena as maravilhosas Maggie Gyllenhaal e Maria Bello, como as esposas dos policiais). Há também um certo enxerto metafísico desnecessário e contrastante com o tom naturalista que o filme assume desde o princípio.

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