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Críticas

Cineplayers

Um ode ao fascínio dos heróis.

7,5

Nos últimos anos, tem sido comum observar filmes de heróis emplacarem e arrecadarem milhões em bilheterias. Uns possuem qualidade discutível, outros triunfam pela diferenciação técnica, no entanto a maioria apenas soma, acumulando nas prateleiras como mais uma opção, apresentando apenas um outro conflito maniqueísta e esquemático de roupagem singular. Alguns desses provém de grandes sucessos solos, como Thor (idem, 2011)  e o Capitão América: O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger, 2011); o Homem de Ferro (Iron Man, 2008) consolidou uma franquia de êxito ao passo que Hulk obteve filmes questionáveis. Com isso, uma expectativa em relação à reunião do grupo e à constituição dos Vingadores inflamou quando Nick Fury (Samuel L. Jackson) surgiu recrutando os personagens. Há muito tempo prometido, o aguardado filme reunindo estes protagonistas da Marvel finalmente chegou às telonas trazendo tudo o que seus fãs desejavam ver: um expoente e superlativo filme de ação com figuras ilustres dos saudosos quadrinhos.

Em Os Vingadores - The Avengers (The Avengers, 2012), o planeta está ameaçado por forças alienígenas trazidas pelo asgardiano Loki (Tom Hiddleston), que invadiu a S.H.I.E.L.D roubando o Tesseract. O ataque é caótico, Nova York está sendo destruída. Os humanos com suas limitações pouco podem fazer. O desígnio de Fury é a possível solução para a defesa da terra. Com efeitos especiais eficazes e uma produção generosa, o projeto muito bem dirigido e escrito por Joss Whedon é impactante, se estonteia pelo absurdo, metaforizando a iminência do fim e o cuidado que, numa sociedade destrutiva à espera do remate ocasionado pela própria, é esperado do homem em busca de solução.

Unir tanta gente numa só obra é uma aposta das mais perigosas. Cada um teria tempo de mostrar a que veio? Alguns são priorizados, certamente, porém ninguém sai depreciado. Os heróis juntos têm medida suficiente em cena para impressionar cada um à sua maneira, seja pela ironia ou pelas sutilezas, estabelecendo um vínculo com seu público sedento pela diversão, oferta natural e desejável quando se trata de longas deste gênero.

O equívoco passado pela própria Marvel há alguns anos, no caso o terceiro Homem Aranha, onde o excesso de antagonistas comprometeu o andamento da empreitada tornando-a por vezes maçante, parece ter sido um aprendizado para este projeto. Aqui tudo está bem amarrado com um roteiro afinado à proposta de distração sem temer o absurdo e tampouco o humor voluntário, este funciona não só como um alívio diante a ação estupefata, mas como um acréscimo de ânimo às investidas dramáticas. Não é para se levar a sério em qualquer hipótese.

E justamente por não querer ser levado a sério é que a história contada não ultrapassa a barreira da diversão contagiante. Embora levante questões importantes relacionados aos seus personagens no atual contexto, nada vai além de uma menção, o que torna tudo por vezes juvenil. A falta de profundidade é driblada por carisma e humor. Tal ousadia tão produtiva é encarada como um revés, podendo afastar alguns públicos do cinema graças a possíveis complexidades. Há um solo fértil para tal investimento, todavia ousar fazê-lo requer muita competência e coragem.

Num roteiro que discute moral através de desentendimentos e rixas pela diferença, sobretudo de época e de lugar, o longa de Whedon exprime convicções sobre o coletivo e seus variados ideais. A narrativa é o herói em si, esse papel apreciado e seguido, embora socialmente debatido, segundo os valores estabelecidos. Daí divergem concepções, uns constatando como amparo enquanto outros sugerem aberrações, o ser diferente que assusta, importuna. O horror social com o que nos é estranho está presente nessa alegoria imaginária dos quadrinhos.

Tony Stark se estabelece como o durame da narrativa. As coisas não acontecem a sua volta, mas se inclinam ao seu ego megalomaníaco. As melhores sacadas do texto são dele, desenvolvidas com graciosidade por Robert Downey Jr. Thor mantém a imponência de um deus graças à vaidade de Chris Hemsworth enquanto Chris Evans garante o tom enérgico de Capitão América exalando americanismo. Três armas cujos poderes notáveis dignificam Os Vingadores. Entre os heróis, a coisa melhora é quando Mark Ruffalo aparece com seu Hulk, provavelmente o melhor concebido pelo cinema. Aperfeiçoado e bruto como nunca visto, remete a Dr Jekyll and Mr Hyde, e ainda é capaz de fazer o público no cinema ovaciona-lo por sua violência desmedida constatada em atos estranhamente bem humorados com direitos a gags visuais cômicas. 

Em outra instância, outros dois personagens se equivalem sem os aparatos fantásticos dos já mencionados. A Viúva Negra com sua autoridade e eficiência se garante como um dos atributos mais significativos da trama em diálogos entusiasmados, esbanjando também  muita sensualidade. Scarlett Johansson, esforçada no papel, incendeia. Já o ótimo Jeremy Renner dá dignidade ao seu Gavião Arqueiro em dois âmbitos importantes da narrativa, edificando um herói de guerra, nunca preparado para um confronto universal como o acontecido.

Ostentações técnicas sobressaem cena a cena, o som é expressivo, ouvimos com destreza o barulho da flecha do Gavião Arqueiro ou as latarias amassando. Já a trilha não tem novidades, empolga num dado instante cuja música clássica embala a ação de Loki na Alemanha com um sobrevivente do nazismo negando em se ajoelhar. As aspirações são tremendas e eloqüentes, e a produção constata isso: um filme de explosões, efeitos surpreendentes e adornos floreados. É sumo e acena com o sucesso e com um futuro promissor. De longe, é o mais expressivo trabalho da Marvel, garantindo um sorriso nos fãs das HQ’s.  

Os Vingadores honra esses heróis da Marvel com a magnificência de uma grande produção cujo divertimento proposto é virtuoso. Engraçado e enérgico, o longa se fundamenta no que seus fiéis apreciadores querem e cumpre elegantemente a expectativa gerada acerca dele. Supondo que a idéia de Stark enquanto herói trabalhando sozinho seja destituída do longa pela exigência das situações e pelo senso de justiça – e um motivo inspirador é levantado –, como denuncia uma cena num letreiro, a letra “A” parece perpetuar um novo paradigma ressaltando a inicial de Avengers, representação de unificação, totalizando diferenças como possibilidade real do sucesso. Dividir para conquistar, reunir para defender. E que defesa ao cinema popular é a concepção dessa grandiosa produção.

Comentários (45)

João H. Martini | terça-feira, 10 de Novembro de 2015 - 21:25

Um dos piores filmes que já assisti, disparado.

Alexandre Koball | quarta-feira, 11 de Novembro de 2015 - 07:21

Ele realmente parece perder sem o fator novidade e hype, possível que tenha a imagem daqueles filmes de heróis toscos dos anos 90 dentro de alguns anos.

Matheus Bezerra de Lima | sexta-feira, 07 de Dezembro de 2018 - 19:37

Honestamente, discordo do Koball. Independentemente dos problemas, será um exemplar notório e importante do gênero. Nunca vai ser visto como obra-prima e isso não é um problema.

Walter Prado | sábado, 08 de Dezembro de 2018 - 15:15

Eu tô mais na linha do Koball também...

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