Saltar para o conteúdo

Batman Begins

(Batman Begins, 2005)
7,6
Média
1302 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Um filme que dá um novo rumo e traz das cinzas a franquia milionária da Warner de maneira extremamente eficiente.

7,0

Muito se falou sobre esse novo Batman, seu estilo mais realista de ser e sobre toda a tentativa de retomada da franquia, que, desde o carnaval de Joel Schumacher, tinha virado motivo de piada entre todos. Batman Begins se propõe a ser realmente um novo começo para o personagem, mostrando suas mais primordiais origens e apostando em um mundo onde as pessoas assistam ao filme e pensem que os personagens realmente poderiam existir.

Sendo assim, começamos a história com um Bruce garoto, onde claramente percebemos sua forte ligação com os pais e todo um poderoso background nesse sentido vai sendo construído. Aos poucos, vamos entendendo as motivações do personagem, que tipo de treinamento recebeu para poder lutar contra os bandidos, porque seu medo de morcegos é tão grande, e por aí vai. É um roteiro absolutamente bem amarrado, que respeita o assassinato dos pais de Bruce como no HQ, que se preocupa, principalmente, em explicar cada mínimo detalhe de como um dos maiores heróis da história surgiu. O roteiro é o ponto mais forte de todo o filme.

O diretor, Christopher Nolan, conhecido por seu ritmo lento e construtivo de narrativa, cria um mundo absolutamente interessante e sombrio, mas sem nunca parecer irreal. Se antes éramos jogados ao mundo do personagem e íamos nos acostumando aos poucos com seu universo, agora contamos com um personagem de início absolutamente comum e embarcamos juntos em seu mundo de descobertas e novas idéias. Sabemos o porque de cada item que utiliza, a capa é explicada, o batmóvel... Afinal, apesar de milionário, como ele poderia encomendar um carro desses sem levantar a suspeita de ninguém? Mas as explicações não param por aí.

A vida social de Bruce Wayne, a falsa impressão que ele tem de causar aos outros para não levantar suspeitas, o modo como a batcaverna é construída... Como o universo de Batman foi levado a um patamar muito fantasioso pelos últimos filmes, era realmente necessário que Nolan mostrasse cada mínimo detalhe desta construção para que, na segunda metade do filme, as pessoas estejam convencidas de que Batman realmente possa existir. Por isso, quando assistirem ao filme, não esperem ver o homem morcego logo de cara. A ação aqui é importante, mas não o principal. Ela se torna uma conseqüência do filme, não seu objetivo. É necessário assistir ao longa preparado para ver toda a preparação do personagem antes que ele possa agir contra alguma coisa.

Mesmo que essa realidade seja alcançada com sucesso, é óbvio que existem alguns pontos falhos nesse sentido. Me corrijam se estiver errado, mas por que, por exemplo, Batman ficaria parado no topo de um prédio enorme, sendo que ele não pode voar, escalar paredes ou subir por um elevador? Por que não há rampa na entrada da cachoeira da barcaverna? Afinal, o carro entra e sai voando de lá... Como uma arma daquelas mostradas pode dizimar a água das cidades, mas não destrói uma pessoa, já que o corpo é feito em sua grande maioria de água? Fora que Gotham City segue um padrão próprio de infra-estrutura, meio termo entre o presente e o futuro, mas não tão irreal quanto os gárgulas de Burton e sem nunca fugir do conceito emprego antes.

Se o público mais relaxado, que não costuma se preocupar com esse tipo de coisa, agüentar a primeira parte do longa na boa, a segunda não vai decepcionar. A ação do Batman está mais convincente, assim como a personalidade do personagem está infinitamente mais forte. Não temos mais um Batman caladão, e sim um que fala forte, com voz grossa, impositiva, que sem a menor dúvida dá medo em qualquer um que fique frente a frente com ele. Não temos mais o super herói piedoso, e sim um homem disposto a livrar Gotham City da sujeira total em que se encontra. É muito bacana também ver que algumas coisas, que antes passaram despercebidas, ganham um novo sentido com a realidade do filme, como os pequenos ganhos que têm nos antebraços.

Quando o tom conclusivo da trama vai se formando, todo o tom de catástrofe, com diversos danos pesados à estrutura de Gotham, há um tom pretensiosamente grandioso mesmo. O bacana é que isso não é um ponto ruim, e sim há um espetáculo, dentro da realidade, das proporções catastróficas que um vilão como aquele, com o plano articulado e funcionando, poderia causar à uma cidade. Gotham não terá tempo para se reconstruir, já que o filme termina com um gancho claro para uma continuação, ou seja, quando Batman for enfrentar seus próximos desafios (que o filme deixa claro que já estão em atividade), a cidade ainda estará com belos danos, e isso provavelmente será mantido no filme, devido à realidade imposta a seu conceito.

Talvez o maior defeito seja não ter um vilão tão forte quanto Jack Nicholson foi no primeiro ou Danny DeVito foi no segundo. Isso acaba sendo gerado por esse aspecto introdutório ao novo mundo, somado à realidade, pois um vilão não pode simplesmente surgir do nada. Mesmo que em forma de roteiro esteja excelentemente bem explicado as intenções dos vilões da história, fica um tom insatisfatório quanto ao vilão principal em si. É algo, digamos, normal demais. Volto a afirmar que gostei de suas intenções, principalmente por fugir do clichê. Aqui, a destruição da cidade se justifica e, olhando pelo seu ponto de vista, conseguimos entender seu pensamento (isso é fascinante).

A gama de atores coadjuvantes ajuda a construir um mundo perfeito para Christian Bale deitar e rolar como Batman. Mais jovem que os anteriores, o ator concede uma nova força ao personagem devido sua energia. É como um jovem mesmo descobrindo um mundo novo, pensando no melhor para os outros, mas tendo que parecer um almofadinha babaca para proteger a si e a todos que o amam em volta (um rumo diferente para o mesmo fim de Homem-Aranha).  O melhor: quando põe a armadura, a veste bem e com estilo. Não é aquela coisa robótica com mamilos de antigamente, e sim uma roupa mais versátil, que dá para sentir os movimentos, com uma máscara bem mais flexível, tudo nos mais perfeitos moldes - mesmo que o símbolo seja menos expressivo e moderno demais.

Gary Oldman como comissário Gordon, com uma participação altamente importante para a trama; Morgan Freeman como Lucius Fox, inventor da empresa da família, e ao contrário do que declarou, é uma peça importante para o novo estilo do Batman funcionar; Liam Neeson se especializando em mentores, como o sábio e violento Ducard; Tom Wilkinson caindo um pouco para o clichê como o vilão Falcone; Cillian Murphy como o Espantalho (importantíssima participação, excelente origem para o personagem); Ken Watanabe em uma pequena participação como Ra's Al Ghul; Katie Holmes como o interesse romântico do personagem, que não se limita apenas a gritar e a fazer o papel da gostosa; e, como não poderia faltar, o melhor de todos: Michael Caine como o eterno mordomo Alfred.

Os efeitos especiais são convincentes e utilizados para dar vida à necessidade do roteiro, e não para transformar tudo em um show pirotesco sem sentido. Mesmo que não haja nada espetacular nesse sentido, pelo menos a utilização do Espantalho é genial, pois mesmo dentro de uma realidade, o roteiro encontrou brecha para inserir imagens fantasiosas de maneira absolutamente inteligente. O som é uma porrada impactante de peso. Sentimos a todo momento o chão tremendo, os efeitos sonoros são convincentes e utilizados para reforçar as idéias do longa, como por exemplo o medo do morcego. O som é tão alto e perturbador nesses momentos que fica não difícil entender o que o jovem Bruce passou.

A sensação que fica ao final de Batman Begins é de total satisfação, mesmo que haja uma certa estranheza tamanha tanta realidade e não tenham cumprido a promessa com a seqüência da perseguição (diziam que era como em Operação França; total heresia). A primeira parte é tão diferente da segunda que parece que vimos um filme totalmente diferente, mas o modo como elas se completam é o que faz o filme dar certo. Dos trabalhos anteriores, os rumos são diferentes, o ambiente também, mas a essência do homem morcego está lá, mesmo que tudo seja menos fantasioso desta vez. Depois de tantos anos, finalmente um Batman digno do nome que carrega.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 23 de Novembro de 2013 - 13:46

Começo digno para o meu herói favorito. Liam Neeson é ótimo!!

Faça login para comentar.