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Críticas

Cineplayers

Incompetente do ponto de vista técnico e absurdamente preguiçoso do ponto de vista artístico.

3,0

O diretor de Villa Lobos - Uma Vida de Paixão, Zelito Viana, escolheu para seu novo filme uma adaptação do folhetim de Pedro Rogério Moreira que tenta imaginar a noite na qual os militares quase mataram o então presidente Juscelino Kubitschek. Co-produzido e estrelado por José de Abreu, o filme é meio que um veículo para o ator e poderia funcionar em mãos competentes. Romancear um evento e transformar um personagem histórico em herói é uma constante no cinema americano, mas infelizmente a tentativa em Bela Noite Para Voar não foi feliz.

A ação se passa em apenas 24 horas e, apesar de fictício, dedica algumas cenas para estabelecer a tensa situação política do momento, com os militares temendo o crescimento do comunismo, estudantes se manifestando, políticos como Carlos Lacerda (vivido por Marcos Palmeira) fazendo duras críticas ao governo, JK dividido entre seu maior projeto, Brasília, e sua amante. Eis que, durante uma viagem a Belo Horizonte para vê-la, os conspiradores decidem atacar.

Há tentativas de desenvolver todos esses lados, mas a direção burocrática acaba tornando esses detalhes maçantes. O filme se arrasta até JK entrar no avião, mas os problemas não param por aqui: o roteiro se perde e o filme passa a ser apenas uma montagem alternando o presidente contando piadas no avião e fazendo breves visitas populistas, sua amante se arrumando, e os militares trocando telefonemas enquanto planejam o ataque. Tudo isso ocupa uma boa parte do filme, que se resolve rapidamente no final sem absolutamente nenhum grande clímax, pois nunca se construiu uma tensão ou empatia bem-sucedidas até então.

O elemento positivo é a interpretação de José de Abreu, que já havia vivido o personagem no teatro e consegue transmitir alguma vida através do pífio roteiro. Mesmo ele e alguns bons atores do elenco cheio de estrelas televisivas lutam para extrair alguma coisa de seus personagens, mas grande parte dos diálogos são como monólogos e chegam ao espectador como um texto sendo lido. A amante vivida por Mariana Ximenes então tem um papel quase constrangedor: a maioria de suas cenas se resumem a caras e bocas enquanto toma banho e se veste, o que deixa os espectadores confusos sobre qual era o tom procurado pelos realizadores, um drama de época ou uma comédia farsesca? Mas não funciona como nenhum deles.

O ator que parece ter melhor entrado no espírito foi Cássio Scapin como Jânio Quadros, sua interpretação caricata rouba o filme por alguns minutos e faz os espectadores desejarem que todo o filme assumisse logo esse tom, e colocando JK distribuindo golpes de caratê nos conspiradores. Mal não ia fazer, mas a reverência aos personagens históricos nunca deixaria isso se tornar realidade.

A direção é quase amadora, os planos e a fotografia são todos muito parecidos e sem inspiração, câmera estática e fechada nos atores falando quase o tempo todo. Não é aceitável ver um filme tão precário nos tempos de hoje. Quase não há planos abertos ou externas, e mesmo que o orçamento não tenha sido dos mais generosos, não é desculpa para isso. Bela Noite Para Voar é um filme monótono, e com todos os erros que perpetuam a má fama do cinema nacional: incompetente do ponto de vista técnico e absurdamente preguiçoso do ponto de vista artístico.

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