Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Bons efeitos não salvam filme de um roteiro falho e atores inexpressivos.

3,0

Besouro conta a história do maior capoeirista de todos os tempos, uma figura mítica dentro da historia brasileira, que defendeu os direitos dos negros após a abolição da escravidão e a liberdade religiosa e cultural. E apesar do preciosismo estético, o personagem merecia um roteiro mais bem elaborado e atores mais experientes. O filme realmente promete, mas fica no meio do caminho.

Tudo começa a dar errado logo no começo. O besouro digital da primeira cena fica bem inferior a qualidade dos efeitos do resto do filme, e com ele surgem cartelas intermináveis, redundantes e com uma narração cansativa do Milton Gonçalves (trabalho este que o ator já havia feito, e com muito mais habilidade e com melhores resultados no curta de animação Yansan, de Carlos Eduardo Nogueira). Com isso, já fica estabelecido o tom do filme, em que tudo vai ser mastigado ao máximo para o espectador.

O maior problema do filme reside na abordagem do personagem principal. O roteiro trata Besouro como uma pessoa vaidosa, irresponsável, e que após cometer um erro, que leva seu mestre a morte, se refugia na floresta para pensar enquanto seus amigos são castigados pelo branco opressor. Ele então parece fazer um pacto com os orixás, ganha superpoderes, fecha o corpo e começa a combater o mal. Ele não possui nenhuma virtude que o caracterize como merecedor do posto de herói, além de ser um bom lutador. Até suas atitudes, de queimar o canavial e quebrar máquinas, parecem insensatas e mal planejadas. Enquanto Mestre Alípio, em menos de cinco minutos em cena, parecia articulador e com ambição de unir os negros para conseguir seus direitos, Besouro parece acreditar que se isolar e tomar atitudes sem explicação vão libertar os ex-escravos da opressão. E Ailton Carvalho, ex-guia turístico e professor de capoeira, não consegue conferir a complexidade necessária pra um personagem tão dúbio.

Como se não bastasse um protagonista mal de desenvolvido, ele ainda se envolve em um triângulo amoroso tão defeituoso quanto. Embora Jessica Barbosa seja facilmente a melhor atriz do elenco, é triste ver como sua personagem abandona seu namorado de infância para se envolver com Besouro. Ela mesmo pertencente a uma outra subtrama interessante e mal elaborada, do abuso sexual das ex-escravas, e acaba se perdendo em uma história de amor pouco interessante.

A decisão mais acertada seria focar no misticismo da história. É onde o roteiro flui melhor, as cenas de luta e vôo são melhor inseridas e o filme faz mais sentido. De resto, os personagens são facilmente manipulados pelo vilão Coronel Venâncio. É irritante a forma como ele convence a população negra de que está do seu lado, depois de tudo que eles passaram, e como arranca uma informação importante de Quero-quero, a terceira ponta frouxa do triângulo amoroso.

O filme tem seus pontos positivos. A música foge um pouco do lugar comum, e embora seja mal utilizada em alguns momentos, no geral é muito boa. A fotografia é bonita, as cenas de luta são bem elaboradas, e pra quem ignorar o roteiro, pode até se divertir. Não é a toa que o filme fez 500 mil espectadores nos cinemas, cifra alta pra um filme sem atores globais no elenco. Funciona melhor como filme de ação e misticismo, e deve agradar aos adeptos da capoeira, que já conhecem a história de Besouro e não precisam de um roteiro inteligente para lhes informar. Mas baseado no filme, Besouro foi apenas um irresponsável, que nem ganhando super-poderes conseguiu ser um herói eficiente.

Comentários (0)

Faça login para comentar.