Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Clooney volta seguro à direção, em uma história marcante e de belos diálogos.

7,0

Todos sabemos que, entre um Onze Homens e um Segredo e outros filmes geradores de recursos, a trupe de George Clooney, Brad Pitt e companhia fazem seus trabalhos mais pessoais. Depois do promissor Confissões de Uma Mente Perigosa, a expectativa era relativamente boa quanto ao novo trabalho de George Clooney na cadeira de direção. E essa expectativa só fez crescer quando informações sobre o trabalho foram sendo reveladas: além de retratar um polêmico período da história estadunidense, Clooney fez a opção de filmar em preto-e-branco e de retratar de maneira estética totalmente anti-comercial os acontecimentos, o que com certeza afastarou muitos dólares, mas irá trazer diversos apreciadores ao longo do tempo.

No começo dos anos 50, uma paranóia anti-comunista surgiu por causa do Senador de Wisconsin Joseph McCarthy, que inaugurou uma verdadeira semi-ditadura, taxando de comunista e prejudicando todos aqueles que não concordavam com seus atos administrativos. Porém, o repórter Edward R. Murrow (David Strathaim) e seus companheiros de CBS decidem travar uma verdadeira batalha contra o político, gerando discussões históricas, argumentações de um nível intelectual mais avançado e muita discussão em torno do tema.

Aproveitando de maneira extremamente eficiente a combinação estética escolhida / época retratada, Clooney chupa tudo o que pode de filmes dos anos 50, como o jeito que instrui as falas de seus atores e até mesmo alguns planos (com destaque para aqueles onde, para evitar o corte, ele utiliza o repórter sendo filmado e a imagem da televisão ao fundo, com troca apenas de foco). Um recurso que Clooney poderia ter usado é o envelhecimento da imagem, que a deixaria cheia de rabiscos, menos nítida e com um contraste menos definido – porém, pensando por outra vertente, isso tiraria o impacto do que estava passando na TV ou não, pois a imagem que vemos quando o filme retrata acontecimentos televisivos é exatamente assim.

O elenco conta, além do próprio Clooney, com nomes poderosíssimos, como Robert Downey Jr., Frank Langella e Jeff Daniels, formando uma monstruosidade artística capaz de segurar toda a carga dramática da história de maneira satisfatória e eficiente. Para McCarthy, Clooney utilizou algumas imagens de arquivo, que na exibição teste levaram algumas pessoas a acusar que "o ator que interpretou o Senador  estava exagerado". Mas o nome do filme é mesmo David Strathaim. O homem segura as pontas como o protagonista da história, convencendo durante toda a projeção. Uma pessoa que fez o que fez no começo por obrigação, mas depois embarcou na luta com tudo e com o apoio total (mesmo que receoso) dos poderosos da CBS merecia um trabalho à altura de sua batalha, e foi justamente o que Strathaim conseguiu: criar um personagem sem papas na língua, forte, mas ao mesmo tempo meio perdido naquilo tudo. Sua voz é marcante e, sinceramente, não poderia existir um título melhor para o filme senão Boa Noite e Boa Sorte. Ao assisti-lo, você saberá o porquê.

O filme é argumentativo, explicativo, e, por isso, acabará sendo também extremamente cansativo para aqueles que não vão atrás de bons diálogos. As situações, mesmo as mais graves, não irão te deixar preso na cadeira ou chorando rios de lágrimas nas partes mais dramáticas. Elas são expostas de maneira real, sem dramatizar, quase de modo documental. Ou seja, é um filme de situações. Gira em torno de uma história, mas não a faz o centro das atenções: o que importa aqui é como os personagens reagem a ela. Logicamente, isso deixa o filme pesado, por demais confuso em alguns pontos (nomes demais sendo falados ao mesmo tempo, de maneira rápida), o que o torna mais difícil de ser diluído.

Lotado de detalhes de época, o filme é um primor técnico e de um texto poderosíssimo. Prova que Clooney está indo pelo caminho certo na direção, contando histórias interessantes, sem deslizar para clichês ou quaisquer outros caminhos negros, mas, principalmente, escolhendo com coragem os aspectos de seus trabalhos. Fazer um filme como esse na Hollywood de hoje, tem que ter muita coragem. Fazer um bom então, é preciso muita competência. E é justamente isso que Clooney vem mostrando ao longo do tempo.

Talvez se fosse mais emocionante, acredito que as pessoas gostariam mais. Mas Clooney optou trocar a velha emoção pela potencialidade textual, e pode pagar por isso. Bom, vamos ver no que dá, mas que é um ótimo filme, isso é.

Comentários (0)

Faça login para comentar.