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Críticas

Cineplayers

Thriller investigativo eficiente que busca fugir das convenções do gênero.

7,0

Desde que foi redescoberto pelo cinema de ação em 2008 com o thriller Busca Implacável, Liam Neeson veio nos acostumando a vê-lo em tela interpretando um único tipo de personagem: aquele sujeito introspectivo, de poucas palavras, mas que quando o “bicho pega”, mostra que sabe manejar uma arma e sai soltando tiros, porradas e bombas em cima daqueles que ficam em seu caminho. Esta persona ao qual Neeson se mantém agarrado já nos trouxe filmes como Desconhecido, A Perseguição e o mais recente Sem Escalas, todos filmes onde o ator assume esse papel do herói improvável.

Olhando por este lado, Caçada Mortal pouco difere destes outros títulos. Baseado na série de livros do escritor Lawrence Block, o filme nos apresenta a típica trama batida de um ex-agente (Neeson) que trabalha como investigador não profissional e é contratado por um homem cuja esposa fora sequestrada e assassinada por dois homens, mesmo após o sujeito tendo pago o pedido de resgate requisitado pelos sequestradores. Ao investigar o caso, o ex-agente Matt Scudder descobre outros desaparecimentos seguidos de assassinatos que podem estar interligados ao primeiro caso, e no meio disso tudo, o protagonista ainda se vê num antigo conflito pessoal devido a um trágico erro do passado.

Engana-se, entretanto, quem acredita que Caçada Mortal (tradução infame de A Walk  Among the Tombstones) é um filme exclusivamente definido pela trama batida e pelos clichês amontoados ao longo da narrativa. O diretor e roteirista Scott Frank (que já trabalhou no roteiro de ótimos filmes como Minority Report – A Nova Lei e Marley & Eu) opta por deixar de lado a ação constante e descerebrada e coloca ênfase no desenvolvimento da própria história, que apesar dos traços de previsibilidade, é capaz de segurar a atenção do espectador graças à condução firme e competente de Scott Frank, que busca valorizar os detalhes mais sutis da trama.

Aliás, Caçada Mortal funciona também como uma espécie de filme experimental para Scott Frank, que demonstra notável evolução após seu primeiro trabalho atrás das câmeras, o mediano O Vigia. O diretor constrói belíssimos planos com sua câmera, que chegam a transformar certas cenas em puro momento de contemplação, algo que é ressaltado pela fotografia cinzenta de Mihai Malaimare Jr., que mergulha o filme num clima depressivo e angustiante. Através destes pequenos diferenciais, Caçada Mortal pode ser visto quase como uma espécie de protesto ao próprio gênero, cujos exemplares atuais parecem desesperados em preencher a tela com um número de incontável de tiros e explosões, deixando o conteúdo de lado. Scott Frank faz o contrário com Caçada Mortal, e talvez por isso o filme não vá encontrar uma boa recepção diante do grande público.

Não que Caçada Mortal não carregue seus próprios problemas. Além da previsibilidade do roteiro (que apesar de não ser um grande empecilho, ainda incomoda), o diretor vez ou outra perde o tato e descamba para um sentimentalismo destoado, especialmente quando tenta se aprofundar no passado fatídico de Matt Scudder. Algumas soluções também soam forçadas e quebram um pouco do realismo que a narrativa busca para si, e os antagonistas também pouco intimidam, uma vez que suas poucas aparições na tela nos impedem de sentir que estes soem como uma verdadeira ameaça ao protagonista.

Mas em nenhum momento Caçada Mortal deixa de funcionar dentro de seus objetivos: o de ser um thriller investigativo com um toque mais intimista, por vezes se aproximando de um clima noir que nos remete a certos clássicos de Brian De Palma. Bem conduzido e estruturado, além, é claro, de contar com a sempre forte presença de Liam Neeson, Caçada Mortal é uma boa pedida para quem deseja fugir um pouco de certas convenções do gênero.

Comentários (10)

Toni Santiago | quarta-feira, 21 de Janeiro de 2015 - 23:09

Este é melhor que Sem Escalas, Desconhecidos e até Perseguição, ao meu ver. Filme bom e surpreendente. Junto com Taken, é o melhor de ação de Neeson.

Lucas Souza | quinta-feira, 22 de Janeiro de 2015 - 07:38

"Desconhecido" tem um final broxante...

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