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Críticas

Cineplayers

Nada a acrescentar.

3,0
Há quase dez anos atrás, os criadores da série de televisão britânica Spaced (1999-2001) - o diretor Edgar Wright e os atores Simon Pegg e Nick Frost - lançavam Chumbo Grosso (Hot Fuzz, 2007), brilhante comédia que brincava com os chavões exagerados de filmes policiais, as relações que os personagens referenciais traçavam e como poderiam ser armas para o combate de uma realidade opressiva. Lá pelo clímax do filme, enquanto o policial local tenta impedir o policial forasteiro de lidar com a suspeita elite da pequena cidade apontando uma arma para ele, mas a amizade desenvolvida ao longo do filme faz com que ele atire para cima, descarregando o pente da arma. De forma brilhante, o trio homenageava, tirava o sarro e dava um novo significado a um dos momentos mais icônicos de um dos filmes de ação mais marcantes dos anos noventa: Caçadores de Emoção (Point Break, 1991).

Dirigido por Kathryn Bigelow - vencedora do Oscar por Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2008) -, o filme, protagonizado por Keanu Reeves como o agente do FBI infiltrado e Patrick Swayze como o carismático surfista fora da lei, se tornou o blockbuster cultuado por muitos ao mesclar o típico filme de policial infiltrado com o mundo dos esportes radicais. Com o passar do tempo, muitas reprises na televisão aberta e a cabo e um novo mundo de tecnologias nascendo no século vinte, o interesse do público pela modalidade esportiva só aumentou.

Foi então anunciado em 2011 que um remake seria produzido, estando em fase de roteirização por Kut Wimmer, autor de Salt (idem, 2010) e de outro remake, O Vingador do Futuro (Total Recall, 2012). Quem ganhou a cadeira de diretor vendendo a ideia para a Warner Bros. foi Ericson Core, que trabalhou como diretor de fotografia em Velozes e Furiosos (The Fast and The Furious, 2001) e Demolidor - O Homem Sem Medo (Daredevil, 2003).

Segundo as histórias da pré-produção, Ericson Core ambicionava um tom quase fantástico para o filme, com cenas que desafiassem as leis da física. O resultado do filme que pretende ser o grande sucesso de bilheteria da Warner mantém um tom um pouco mais verossímil, mas ainda abusando da tecnologia de ponta e de todos os modismos da linguagem cinematográfica contemporânea - filmagem em 3D, efeitos gerados em computador, tomadas aéreas, edição picotada… E, bem, basicamente é isso.

É incrível perceber que Caçadores de Emoção: Além do Limite, como acontecia com a refilmagem de O Vingador do Futuro, é extremamente reverente ao filme original, copiando cenas icônicas e as vezes até mesmo reproduzindo diálogos, apenas atualizando referências para as gerações de vinte anos depois, inserindo elementos como celulares e o YouTube. E se utiliza de tal material arquetípico sem muita consciência, sem apresentar novas propostas para o que já era conhecido. Tudo é levado muito a sério, ideias improváveis são dialogadas em tom sério e de forma expositiva. A proposta do filme de mesclar o filme policial e os esportes radicais pouco faz para incorporar o absurdo do filme de ação, raramente convencendo aquele universo que está sendo construído e provocando momentos de riso involuntário frequentemente por tentar injetar tons mais sérios a ver com passado, culpa e escolhas - trabalhando de forma pouco decente com a dramaturgia escolhida.

A referência à comédia de ação de Edgar Wright se dá pelo fato que pela verdadeira gramática e coletânea instituída para os filmes de ação irrefreável construída aos longos dos anos mostra que o cinema contemporâneo baseado em referências não devem parar na simples reprodução do que era clássico, mas antes conjugar debaixo de um mesmo teto para então se libertar, construir a partir da construção, tentar aplicar uma sabedoria de composição. Essa é uma refilmagem fadada a ser esquecida, por basicamente se apegar de maneira preguiçosa a modismos linguísticos - que são ferramentas, não muletas - para tirar daí um pálido fantasma de o que tornou-se marcante por ter uma substância e um frescor de utilizar o que já era conhecido. Os erros daqui apenas engrandecem o original - e leva a impressão que muitos produtores preferem apenas faturar em portos seguros e nomes marcados que já atraem ao invés de investir em uma fagulha criativa e duradoura.

Comentários (2)

Felipe Ishac | sábado, 06 de Fevereiro de 2016 - 21:33

realmente, um filme desnecessário.

o original eu já acho chatinho... passo longe desse ai.

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