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Críticas

Cineplayers

Tarantino em alta definição.

9,0

Falar de Quentin Tarantino hoje é relativamente fácil, já que seu trabalho é  bastante característico e destacado. Mas em 1992, quando Cães de Aluguel foi lançado, a coisa não era tão simples assim: forte em imagem e conteúdo, o filme foi um gás de inovação em um cansado cinema norte-americano, resgatando também o autor como realizador.

Contar uma simples história de assalto a banco de forma desordenada abre espaço para que Tarantino brinque com aquelas que depois tornaram-se algumas de suas principais características: a desconstrução a favor do ritmo e das surpresas, os personagens, os diálogos elaborados e cheios de referências à cultura pop, que só rivalizam em paixão com os pés de suas musas, a violência, os diálogos afiados e a trilha, irônica e icônica.

Com a história contada na ordem que interessa, somos obrigados a pensar, racionar o porquê de certas coisas acontecerem e ficarmos matutando como tais coisas chegaram àquele ponto, até que Tarantino nos dá  as respostas, muitas vezes contrárias aquilo que esperávamos, quando quer e como quer. Sempre com muito bom humor, Cães de Aluguel conquista pela complexidade em cima de algo relativamente simples, batido.

A trilha inesquecível funciona como uma sinfonia para aquelas imagens, violentas e urbanas, mas verossímeis e assustadoras. Ao mesmo tempo em que uma orelha é cortada, um clássico é criado e um sorriso improvável é proferido pelo espectador, a outra parte da equação do cinema. Isso é arte, é paixão, é controle em cima do que se está fazendo.

Os enquadramentos fazem parte da narrativa, da composição, influenciam diretamente no que está sendo dito e no que deve ser essencialmente mostrado ou não – fazem questão de dizer “olha, estou aqui”, mas sem parecer presunção ou arrogância: a seqüência em que um personagem conta para o outro sua versão do assalto, enquanto acompanhamos de longe, em uma câmera fixa, quase como voyeurs hitchcockianos (com direito a McGuffin e tudo!), é sensacional e retrata bem a visão diferenciada e cuidadosa do diretor ao polir sua história.

Referência de seu cinema, Cães de Aluguel, com seus ternos pretos e nomes arco-íris, câmeras em porta malas e muito, muito tiro e sangue, inova onde tudo já foi visto antes. É corajoso e ainda tem fôlego de jovem, de paixão ao cinema e, principalmente, a tudo aquilo que o rodeia.

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