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Críticas

Cineplayers

Mesmo inofensivo e com as boas presenças de Seyfried e Redgrave, é um romance totalmente previsível e artificial.

5,5

Desde que estrelou o fraco Mamma Mia, em 2008, a carreira de Amanda Seyfried não parou mais de crescer. De lá pra cá, a atriz passou a ser vista em produções com temáticas bastante diferenciadas, como o terror adolescente Garota Infernal e o drama independente O Preço da Traição, sempre demonstrando uma boa presença em tela e certo talento dramático, independente da qualidade do filme em questão. O último trabalho de Seyfried, este romance chamado Cartas Para Julieta, é, de certa forma, apenas mais um veículo para sua ascensão, uma vez que a atriz novamente consegue se destacar diante de um material com qualidade bastante questionável.

Seyfried interpreta a jovem Sophie, responsável por checar os fatos para as reportagens do New Yorker e noiva de Victor, um chef que está prestes a abrir seu restaurante. Pouco antes do casamento, o casal parte em uma viagem à Itália para que Victor possa entrar em contato com seus fornecedores. Sophie, por sua vez, decide visitar a Casa de Julieta, em Verona, um lugar onde mulheres de todo o mundo deixam cartas contando seus casos de amor para a personagem clássica de Shakespeare. Lá, ela encontra uma carta nunca antes vista, datada de 50 anos atrás, e decide respondê-la. Duas semanas depois, Sophie recebe a visita da remetente da carta e decide ajudá-la na busca de seu antigo amor, enquanto também começa a ter sentimentos pelo neto dela.

Escrito por José Rivera e Tim Sullivan, Cartas Para Julieta se revela um filme bobo e previsível, praticamente construído de acordo com o manual de histórias de romance. A trama não apresenta qualquer sinal de originalidade ou sentimentos reais e, das poucas vezes em que realmente consegue se conectar com o público, é graças à boa presença do elenco. O roteiro utiliza os clichês do gênero sem qualquer vergonha e, ainda pior, não consegue trabalhar com eles de forma diferenciada. Assim, temos a mocinha que busca uma oportunidade para mostrar que é uma escritora de talento; o namorado que não a valoriza o suficiente; a relação que começa com ódio e vira amor; e assim por diante. Para piorar, alguns diálogos são de fazer a plateia corar de vergonha, como quando Sophie pergunta a Charlie se ele pode se mexer, ao que o rapaz responde: “Somente meus lábios”.


Se o material não apresenta inspiração, o trabalho de direção de Gary Winick pouco faz para superar o problema. O cineasta (responsável pelos fracos Noivas em Guerra e De Repente 30) comprova novamente a sua mediocridade ao conduzir a história apelando para recursos narrativos fáceis e piegas, que exaltam a artificialidade, como aumentar a trilha sonora para tentar gerar algumas lágrimas da plateia. Além disso, Winick ainda consegue fazer com que Cartas Para Julieta perca o ritmo por diversas vezes, tornando-se cansativo: a procura do trio pelo verdadeiro Lorenzo, por exemplo, é muito mais longa que o necessário, assim como os quinze minutos finais, especialmente pelo fato de que não há qualquer surpresa no que irá acontecer.

Assim, o pouco que se salva em Cartas Para Julieta cabe mesmo ao elenco, principalmente o feminino. Amanda Seyfried novamente apresenta potencial para ser uma estrela, imprimindo uma doçura e romantismo à sua personagem que realmente fazem a plateia acreditar que alguém poderia se apaixonar por ela. Da mesma forma, a veterana Vanessa Redgrave surge completamente à vontade no papel de Claire Smith e é responsável por alguns dos melhores momentos da produção, inclusive em termos de comédia – ao seu favor, está o fato de que a história de sua personagem é muito mais interessante que a de Sophie. Aliás, as poucas vezes em que Cartas Para Julieta consegue despertar alguma emoção genuína é exatamente graças às presenças de Seyfried e Redgrave, atrizes capazes de transmitir algum sentimento.

Por outro lado, a escolha de Christopher Egan como o interesse romântico da protagonista foi uma decisão nada sábia de Winick. O ator não possui carisma e, prejudicado pelo fraco tratamento que o roteiro dá ao seu personagem, oferece muito pouco para convencer a plateia de que poderia se tornar o interesse romântico de Sophie. Mais do que isso, Egan e Seyfried não possuem química juntos e Cartas Para Julieta perde seu apelo sempre que enfoca a história entre os dois e deixa de lado a personagem de Redgrave. Porém, se serve de consolo a Egan, o texto pouco oferece aos demais personagens masculinos: o Victor de Gael García Bernal é totalmente unidimensional e Franco Nero pouco tem a fazer além de exibir charme no papel do tão idealizado Lorenzo.

Cartas Para Julieta é inofensivo e faz a plateia se sentir bem, o que pode agradar aos românticos. Como cinema, porém, o filme tem muito pouco a oferecer além de dar novos sinais do talento de Amanda Seyfried, uma atriz que parece ter características mais interessantes do que uma produção como essa é capaz de mostrar. Resta esperar.

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