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Críticas

Cineplayers

Uma tentativa de cinema pelo grupo humorístico da TV aberta brasileira. Está mais para comercial de desodorante.

1,0

Depois da sessão de A Taça do Mundo é Nossa, fiquei em dúvida: deveria escrever sobre o pior filme do ano nos cinemas, ou simplesmente esquecer que acabara de jogar fora 90 minutos de minha vida? Bem, aproximadamente 15 dias depois resolvi escrever sobre esta obra cinematográfica do mais importante grupo humorístico da Rede Globo. Alertar os espectadores para que não a vejam... não! Na verdade, isso seria presunção minha, e não creio que tenho essa capacidade de persuasão para com você, caro leitor. Meu objetivo é apenas dar minha humilde opinião sobre o pior filme nacional da chamada “nova safra” do cinema brasileiro (não, não chamo de “filmes” as propagandas da apresentadora Xuxa que são lançadas a cada ano). E como não pretendo chegar perto do épico Acquaria, da dupla de cantores Sandy & Júnior, é provável que o ano acabe e eu não assista nada pior mesmo. Então lá vai...

É uma paródia sobre o período da ditadura militar brasileira, utilizando os mesmos estilos de piadas que são encontrados no programa de televisão do grupo. Programa que já não assisto há mais de ano, embora posso confessar que já fui fã dos humoristas, e ria de boa parte das piadas. Uma coisa que sempre friso quando falo de comédias é que este é o gênero onde as opiniões mais podem variar, ou seja, o que é ridículo para um pode ser hilariante para outro. Aqui neste filme, na opinião deste editor, há sim um ou outro momento engraçado, mesmo que o filme repita descaradamente piadas já usadas não somente nos próprios programas dos Cassetas, mas em centenas de outras comédias. Esse é um grande problema que eu tive com o filme: não há sequer um pingo de originalidade nele (a mesma coisa que aconteceu no também horroroso Os Normais).

No final do filme, há uma piada com um crítico. Os Cassetas deixam bem claro que o filme não foi feito para apreciação crítica, e tentam demonstrar nessa piada que realmente não se importam (será?) com o que vão dizer de seu filme, explodindo literalmente um deles que demonstra indignação com o mesmo. Aliás, esse artifício de o filme citar o próprio filme dentro do filme é um exemplo claro do que falei há pouco. Isso já foi muito bem explorado há muito tempo atrás, com o grupo Monty Python e em alguns filmes do diretor Mel Brooks. Até aí tudo bem, há centenas de filmes totalmente comerciais sendo lançados todos os anos. O problema é quando, além de ignorar os críticos, o filme também ignora a inteligência do público, mesmo o menos exigente.

Considero a coisa mais baixa que existe – e infelizmente acontece bastante no cinema nacional – em termos de falta de respeito para com o espectador, o tal do merchandising. Sim, além de pagar pelo preço do ingresso (seja lá quanto você costuma pagar, sempre vem algum imposto incluso), além de pagar, talvez, pela comida que é consumida durante a sessão, você ainda é obrigado a assistir várias propagandas mal encaixadas, mal feitas e imbecis no meio do filme? A Taça do Mundo é Nossa provê pelo menos dois desses momentos ridículos: um envolvendo uma marca de desodorante e a outra um automóvel.

Há alguns pontos que quase salvam o filme da mediocridade total (nota mínima). Além de meia dúzia de risadas, há um visível esforço para deixar o filme tecnicamente caprichado, com cenários bem cuidados, fotografia propositadamente envelhecida para dar uma noção mais adequada de anos 70, a participação de alguns craques de verdade da Copa de 70, a boa variedade de personagens, com múltiplas interpretações para cada integrante do grupo... enfim, é pouca coisa, mas o suficiente para fazer com que o filme seja “apenas” o pior DESTE ano. Em termos de atuações, creio que seja desnecessário o que vou dizer. Todos os comediantes são horrorosos, incluindo a única mulher do grupo, Maria Paula. Mas não é um ponto tão negativo, visto que isso já era esperado – eles estão no mesmo nível de atuação do programa.

Filmes como esta A Taça do Mundo é Nossa e, em menor escala Os Normais, além de demonstrarem como é perigoso o domínio quase absoluto de uma empresa sobre um mercado (no caso, a Globo Filmes sobre o mercado brasileiro), demonstram também o lado ruim de sucessos de público e crítica de obras-primas como Cidade de Deus (e, em MUITO menor escala – no caso, esqueça a palavra “obra-prima” – Carandiru). O filme de Fernando Meirelles, pra mim, sempre será visto como um divisor de águas no Brasil, quando o público reaprendeu a se orgulhar do nosso cinema e lotou as salas com uma produção tupiniquim (em 1998, Central do Brasil quase fez isso, mas em menor escala). Sucessos como este permitem que os estúdios nacionais fiquem confiantes para começarem a lançar filmes de baixa qualidade à vontade. O ponto é: se Cidade de Deus não existisse (ou nenhum outro com sucesso parecido), A Taça do Mundo é Nossa nunca existiria. É o preço que se paga pelo crescimento de uma indústria. Infelizmente inevitável, em minha opinião.

Mas, afinal, o que esperar de A Taça do Mundo é Nossa? Se você é fã da série, não espere: vá assistir ao filme, se ainda não o fez, porque certamente você vai gostar. Se você detestar a série, a resposta é óbvia demais. Agora, para a maior parte do público de cinema, que é indiferente à série, recomendo ir com muita, mas muita cautela, vá quando estiver com muito bom humor, onde é difícil se aborrecer. Talvez sua experiência não seja tão ruim quanto a minha. De qualquer forma, se filmes como este têm que ser o preço a ser pago para termos filmes como Cidade de Deus, estou disposto a me sacrificar... que venha o próximo filme do Casseta & Planeta.

Obviamente, a frase acima foi uma grande brincadeira.

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