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Críticas

Cineplayers

Cavalo Dinheiro é um filme que se passa em um presente eterno.

9,0

Em Cavalo Dinheiro, o diretor português Pedro Costa volta a ter como protagonista Ventura, o emigrante cabo-verdiano de Juventude em Marcha (2006) e de alguns dos seus curtas desde então. O filme é também é o retorno ao bairro das Fontainhas, que não existe mais, mas foi um significativo reduto de emigrantes africanos.

Cavalo Dinheiro pode ser dividido em três blocos autônomos. Na abertura, temos uma sequência de fotos em preto e branco - fotos do dinamarquês Jacob Riis de trabalhadores americanos no final do século XIX. Em seguida entramos no bloco que comporá a maior parte de filme. Uma espécie de sonho/pesadelo/delírio de Ventura, em que este vaga por locais em sua maioria desabitados, encontrando amigos e vizinhos – que também entram no transe do filme. Por fim, há uma longa sequência de Ventura em um elevador ao lado da estátua de um soldado, em que os dois travam uma espécie de confronto verbal. Essa última parte é é uma versão do curta do diretor Sweet Exorcist, que faz parte do filme coletivo Centro Histórico.

Estamos assim, a maior parte do tempo perambulando com Ventura por um hospital precário, uma construção subterrânea, uma fábrica desativada e os corpos que se arrastam por esses lugares, tão destroçados quanto estes. Uma briga, uma morte, uma viúva (a imponente presença de Vitalina Varela), a guerrilha, a fábrica e o bairro inteiro que não existe mais... Mas mais do que um filme sobre espaços destruídos ou sobre memórias apagadas, trata-se de um filme sobre a impossibilidade de sair deles, ou mesmo de revivê-los no cinema, pois os corpos permanecem suspensos em um tempo que não passa.

Cavalo Dinheiro é um filme que se passa em um presente eterno. Parece um delírio. Não há sequencialidade narrativa na qual se possa ancorar-se, porque não há passagem de tempo – apenas presentes que se sucedem sem nunca passarem. Nesse sentido, não interessa saber /explicar as referências históricas pessoais ou coletivas do filme, porque não existe passado e nem futuro – só o presente. Sabemos que o filme é cheio de referências ao 25 de abril – ou a Revolução do Cravos – período de redemocratização da história de Portugal, também marcado por muitas lutas de descolonização. Mas o que aconteceu a Ventura ou ao marido de Vitalina? Como cada um daqueles corpos adquiriu as marcas que apresentam agora? Como cada memória agora fabulada na tela forjou-se? Isso não cabe no presente da imagem. Nesse sentido, não trata-se de um filme sobre a ruíndo corpo, dos espaços, do país, da vida, dos sonhos, mas um filme sobre o colapso do tempo.

Visto no Festival do Rio 2014

Comentários (2)

Diogo Serafim | domingo, 19 de Outubro de 2014 - 10:48

ansioso por esse, espero que saia no circuito de brasília posteriormente. só assisti no quarto de vanda e juventude em marcha do pedro costa, mais que o suficiente para me tornar um fã.

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