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Críticas

Cineplayers

O destaque principal é a atuação de Daniel de Oliveira como Cazuza. Filme emociona.

6,0

Quem foi jovem na década de 80 sabe muito bem o quanto Cazuza significou para a música nacional. E quem também não era jovem (como eu, apenas uma criança lá por aqueles idos) também sabe o quão importante é esse personagem (sim, um personagem, cheio de devaneios, aventuras e trágico final) que acaba de ter um filme retratando a sua vida, numa mostra que parte do cinema nacional está voltando suas câmeras para o (re)descobrimento de seus ídolos.

Cazuza era o típico adolescente no início da década oitentista, ainda remanescente dos liberais anos anteriores, vivenciando o turbilhão cultural que vivia o Rio de Janeiro na época. Mimado, transgressor por natureza, apaixonado pela vida, atraído por desafios e perigos, Cazuza começa a apresentar características artísticas ainda no Circo Voador, para depois se juntar a um grupo de rock que estava em formação, o Barão Vermelho. Começa os pequenos shows até a carreira do grupo decolar, virar um estrondo, para depois Cazuza se projetar em carreira solo e ter seu chão desabado com a descoberta que ele tinha contraído o vírus HIV.

Sandra Werneck (de "Pequeno Dicionário Amoroso" e "Amores Possíveis") chamou o premiado diretor de fotografia Walter Carvalho (um dos melhores fotógrafos da atualidade, magistral em filmes como "Amarelo Manga" e "Central do Brasil") para a co-direção do roteiro, baseado no livro escrito pela própria mãe de Cazuza, Lucinha Araújo. Mas mesmo com todo esse pessoal talentoso envolvido, não conseguiram entregar uma grande obra. Descobriram sim um grande ator, Daniel de Oliveira, que interpreta o músico homônimo ao filme, em uma atuação capaz de envolver até mesmo aqueles que conviveram com Cazuza. Daniel se despe de todos os tipos de preconceitos, entregando uma atuação apaixonada, convincente e muito tocante. Até um regime ultra-radical o ator se submeteu, para que pudesse, no espaço de alguns dias, encarnar seu personagem já em estágio terminal da AIDS. Daniel consegue até mesmo driblar a superficialidade na qual o roteiro submete seu personagem ao recriar um Cazuza verossímel, imitando-o até no gestual e na voz (diz-se que quando o produtor do cantor, Ezequiel Neves ? interpretado por Emílio de Mello no filme, ouviu algumas canções gravadas para a película, não soube identificar qual material era do Cazuza e qual era o de Daniel), numa prova da complexidade e do nível a que chegou o Daniel no filme.

Mas o filme peca, e muito. O roteiro parece enxugado ao máximo, a ponto do filme mostrar o Barão Vermelho em um pequeno show e já, na cena seguinte, se apresentando no Rock in Rio (em uma trucagem muito mal feita, totalmente artificial). Há também uma desnecessária narração em off, que nada acrescenta. E o que dizer de certas tomadas, como aquela em que a câmera focaliza as ondas do mar por preciosos momentos? O filme também descarta um personagem importante na vida de Cazuza, Ney Matogrosso, que muitos dizem ser a grande paixão do cantor. Até mesmo Frejat (no filme, Cadu Fávero) e os outros integrantes do Barão Vermelho são relegados a último plano, com a conseqüente falta de dimensão e importância que estes tiveram.

Mas todos os erros cometidos são relegados a segundo plano com o magistral Daniel de Oliveira. Ele não interpreta Cazuza no filme, ele é o próprio. Bem ancorado por excelentes coadjuvantes - Marieta Severo está perfeita como Lucinha Araújo e Reginaldo Farias tem o tom exato do seu personagem, o filme tem algumas boas sacadas como, por exemplo, sua fotografia, de câmera na mão e trêmula - na fase marginal do poeta, e certeira e acadêmica, na segunda parte, o da decadência física.

E como não se emocionar com a subida dos créditos ao som de 'Faz parte do meu show'?

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