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Críticas

Cineplayers

Resumo raso para o sexo de boutique.

2,5
Pra assustar logo todo mundo, não sou do time que sentiu vontade de jogar chumbo derretido na retina ao assistir a Cinquenta Tons de Cinza. Longe de ser uma maravilha cinematográfica, a verdade é que passamos anos e anos "entretidos" com o festival do amadorismo que era a série Crepúsculo, uma produção de pobreza franciscana. Ao dar de cara há dois anos atrás com um produto tecnicamente digno, com fotografia e trilha sonora acima da média e uma protagonista muito boa, eu já agradeci. Lógico que era um filme brega, de diálogos hilarios de tão cretinos e um protagonista de talento quase inexistente, mas acabei me surpreendendo mesmo com tão pouco. A continuação daquele produto é uma descida de ladeira, ainda que aqui e ali ajam pontos a ressaltar. 

É bom avisar que ninguém precisa ter pena do diretor James Foley, como foi ensaiado que o cara ia dirigir as duas últimas partes da saga escrita por E. L. James. A verdade é que Foley tem dois ótimos filmes no currículo, Caminhos Violentos, drama com um muito jovem Sean Penn, e O Sucesso a Qualquer Preço, espécie de excelente teatro filmado com um elenco sensacional que já faz 25 anos, mas no meio e após esses dois Foley dirigiu uma coleção de bombas, e há 10 anos entregava sua última vergonha, A Estranha Perfeita, com Bruce Willis e Halle Berry. Logo, o diretor certo para o material, sem nada a perder e com tudo a ganhar (bilheterias altas dos filmes entre elas). Você pega esse diretor meia boca e entrega a adaptação do livro a um estreante desconhecido chamado Niall Leonard e, voilá, está pronto o angu. 

O que temos? Um resumo porco do livro. Não, não uma adaptação, mas um resumo. Com situações de conflito (bem mais de 5) estabelecidas numa cena e resolvidas na seguinte ou no máximo 5 minutos depois, o vexame que Cinquenta Tons de Cinza provocou na crítica deve ter feito os produtores ligarem o botão do "dane-se", e o filme perdeu coerência, a pouca elegância, a fotografia bem cuidada; virou um arremedo de produto, para consumo rápido e rasteiro que justifique apenas o pagamento dos ingressos e que ninguém tá nem aí se virão novas vitórias no Framboesa de Ouro. Mas preciso colocar que uma coisa boa esse roteiro faz, que é suprimir as frases de efeito que tinham a cada piscar de olhos no primeiro. Enfim, ainda é um produto com uma mínima bossa, mas o interesse agora quase que exclusivamente atende pelo nome de Dakota Johnson. 

A filha de Melanie Griffith e Don Johnson está presa aqui mesmo, então resolve não ter a má vontade que toda a produção parece ter. O rico personagem de Jamie Dornan passa a exigir mais dele (em vão para os seus parcos recursos), e cabe a Johnson funcionar por ambos. A entrada em cena de Kim Basinger tinha sido anunciada como bombástica, mas sua personagem deixou toda a ambiguidade que devia ter no material impresso; ficou parecendo uma senhora intrigueira e chata, que persegue a mocinha por um ciúme ridículo. Outro personagem é apresentado como ponto de conflito e o desfecho do filme tenta se agarrar numa virada/gancho com ele, mas as expectativas não são nada boas. Nos resta acompanhar Johnson e suas investidas muito expressivas e dedicadas, uma bela jovem atriz que merece mais que essa série. 

Com tanta coisa ruim a se notar em cena, ou melhor, com tão pouca coisa boa, a trilha sonora continua poderosa e o filme clama para ser encarado como uma novela cada vez mais. Com tintas fortes que envolvem a apresentação de novos apetrechos sexuais que Christian Grey usará em Anabelle Steele mais uma vez timidamente e a revelação de um mocinho cada vez mais frágil emocionalmente, conseguimos ver claramente que a série que nasceu como uma ideia de 'fanfic' justamente de 'Crepúsculo' teria molho pra encorpar essa caldo e debater coisas mais sérias sem perder muito e sem perder público também. Mas foi opcional fugir de conflitos e apenas entregar um pacote vazio e despropositado ao público, como essas novelas mais pesadas que passam tarde da noite; não será muito difícil encontrar alguma com mais profundidade que Cinquenta Tons Mais Escuros.

Comentários (8)

Alexandre Koball | domingo, 12 de Fevereiro de 2017 - 19:12

O melhor que se pode dizer sobre esse filme é que perdeu na estreia para Lego: Batman. E von Trier é deus, nunca faria algo desse tipo.

Polastri | domingo, 12 de Fevereiro de 2017 - 23:25

Nunca viram Anticristo e Ninfomaníaca? São a versão arthouse adolescente niilista desse filme 😏

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