Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Prazer culposo sem prazer.

3,5
A intenção/diversão do criador Guillermo Del Toro a bordo do primeiro Círculo de Fogo era recriar as aventuras orientais envolvendo ataques de kaijus (os típicos monstros destruidores de cidades que construiu o lado mais óbvio da cultura nerd japonesa) dos anos 50 e 60, obviamente para homenagear e também pra pôr na rua mais um sonho de criança ao comandar uma dessas produções. Assim nascia a ideia do original que poderia tranquilamente ter construído uma franquia, que não foi adiante porque o sucesso do filme não veio. Não faltaram méritos próprios, e o filme tinha fãs que compraram a ideia de Del Toro. De visual arrojado, cores fortes e humanização certeira, o primeiro filme tinha muitos acertos mesmo. O tempo passou e Del Toro saiu do comando de sua obra, que recebeu sinal verde dada a força do público oriental. Enquanto construía a história que lhe renderia o Oscar, o novo capítulo seria conduzido pelo estreante Steven DeKnight, um cara responsável por seriados do calibre de Spartacus, Angel e Buffy.

Logo, a premissa de Del Toro (que já abrigava um universo expandido, e com certeza deve ter sido pensada assim) é explorada aqui de maneira ampla e múltipla, num processo que claramente observa o todo ainda muito maior. Logo somos apresentados por uma narração em off ao nosso protagonista: Jake, vivido por John Boyega, é filho do personagem de Idris Elba, que faleceu no capítulo anterior. Ao contrário do pai, o rapaz, se tem talento para seguir seus passos, não tem vocação. Mas isso é relativamente fácil, porque o filme mostra que os robôs 'jaegers' venceram a guerra contra os monstros 'kaijus' e o círculo de fogo foi fechado. Logo, hoje a humanidade vive de estudos da época passada e de um treinamento constante para uma nova ameaça, mesmo que ela não se concretize (são os EUA né, eles podem vencer 20 guerras mas eternamente estarão se preparando para as próximas) e nosso protagonista é encontrado pelo governo nesse início, e como é reincidentes em roubos de ferro-velho robô, não tem escolha e é reenviado para um centro de treinamento, onde obrigatoriamente será mentor de um grupo de jovens cadetes. Bom, aos poucos o filme se justificará, pois obviamente a paz está com os dias contados.

Vamos começar pelas más notícias, já que elas são muitas: os 'kaijus' mal aparecem, praticamente tudo restrito à meia hora final. Ao invés disso, os robôs lutam entre si! Pois é, no estágio da trama, um grupo (que pode ser rebelde ou traidor) dominou alguns 'jaegers', o que os levará a lutar em lados opostos. Sem disfarçar, o novo roteiro cria um jeito de colocar 'jaegers' lutando "onde nunca se viu", então luta no gelo da Sibéria e no fundo do mar. A impressão que dá é que há um esforço para construir gracinhas com esses deslocamentos pelos arredores do planeta como se fosse um filme do 007, com a diferença de que em Círculo de Fogo os lugares diferentes são claramente CGI. A boa notícia aqui nesse caso das lutas é que tudo continua bem explorado, claro e com boa visibilidade, tratando os grafismos de maneira eficiente e mantendo o visual definido e despoluído em suas linhas de design.

Outra má notícia? Bom, os 'jaegers' agora se movimentam praticamente como uma pessoa normal, sem qualquer dificuldade. O que significa que eles correm, lutam, pulam sem qualquer esforço de peso, mesmo tendo algumas toneladas provavelmente. Isso deu agilidade ao filme, mas jogou a pá de cal na verossimilhança. Mas... bem... são monstros e robôs né? Deixa essa tal verossimilhança pra lá... mas a suspensão da descrença não pode ser desligada em nenhum momento. Ah, por conta dessa conquistada agilidade, o filme "homenageia" Michael Bay (esse abertamente até) e Zack Snyder a profusão, detonando prédios a torto e direito sem qualquer preocupação com as milhares de vidas que com certeza foram perdidas no filme e nos mais de 50 prédios que vão abaixo como se fossem de papel. Ponto positivo para quem queria ação descerebrada non stop.

Quanto ao material humano na frente e atrás das câmeras... bem, o roteiro do filme entope a produção com a tal equipe de jovens cadetes, onde todos têm ao mesmo tempo personalidade e nenhuma profundidade, um grupo de estereótipos no mais. O personagem de Boyega e sua relação com uma jovem ladra que acaba caindo também nos treinamentos é boa e humana; já os retornos de Rinko Kikuchi e Charlie Day estão níveis contrários, ela desperdiçada e ele super exposto. Além disso há uma tentativa de criar um triângulo amoroso entre Boyega, Scott Eastwood e Adria Arjona que simplesmente não faz qualquer sentido e é bem sem graça. Logo, o elenco nem tem culpa do filme ter seus muitos baixos e pouquíssimos altos; não é um filme de elenco, na verdade tudo é um dispositivo meio vagabundo de desfilar um sem número de efeitos especiais bacanas em contexto aleatório e repetitivo. A primeira experiência do tal DeKnight pode até ter um certo retorno de bilheteria ou funcionar como um 'guilty pleasure', mas é difícil encontrar prazer quando o maestro condutor resolveu apenas repetir a cartilha do gênero sem qualquer traço novo. Da expressão, só fica a culpa.

Comentários (2)

Alexandre Koball | quinta-feira, 22 de Março de 2018 - 10:53

Não lembro nada do primeiro, só que foi surpreendentemente divertido (bem melhor que a franquia Transformers). Esse novo deve seguir o mesmo caminho, mas sem a "novidade", aí complica mesmo.

Mateus da Silva Frota | quarta-feira, 06 de Junho de 2018 - 15:25

"são os EUA né, eles podem vencer 20 guerras mas eternamente estarão se preparando para as próximas"

hahahahaha

Faça login para comentar.