Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Cinema fantástico.

8,0
Baseado no conto homônimo de Neil Gaiman, How to Talk to Girls at Parties é um compêndio cartunesco de referências talvez muito próximas das intenções de seu autor. O trabalho de John Cameron Mitchell, conhecido por filmes como Hedwig – Rock, amor e traição e ShortBus, é transformar e justificar o diálogo entre gêneros e a construção da aura imagética, aqui muito mais pop e acessível.

How to Talk to Girls At Parties é um filme de imediatismos, sem respiros para justificar qualquer inclinação filosófica. O punk, fio condutor da história, está aí e igualmente suas constatações sobre o mundo e sobre o partido conservador, liderado por Margaret Tatcher. E quando o grupo de jovens punks entra em uma festa encontram a ficção-científica e também a metáfora da urgência adolescente, das possibilidades que a juvenil mente inquieta afirma de que todo plano é sagrado e que toda decisão é certa – ainda que toda ação seja permeada por inseguranças. 

E a partir deste ponto, John Cameron Mitchel faz um filme delicioso, de humor agudo e ternura, como um passo à frente do recente Nós Somos as Melhores! de Lukas Moodysson. Em How to Talk to Girls at Parties, as possibilidades estão abertas graças ao cinema fantástico e como ele pode ser amorfo e inconcebível – como o partido conservador – e ao mesmo tempo crível, divertido. 

Portanto, o senso de humor é a luta contra a demagogia feito à inglesa, como o humor ácido dos punks da época, com resíduos de um filme feito para os jovens – jovens estes, logicamente, fãs de Neil Gaiman, no uso de elementos periféricos e concomitantemente histéricos à procura de um significado maior (caso da personagem de Nicole Kidman), mas sempre com visão panorâmica sobre seu objeto de estudo, o estado social da Inglaterra na segunda década dos anos 70.

Era de se prever o arco kitsch que o filme tomaria e que serve como parâmetro emocional e grande manipulador de humor da narrativa, mas o ganho é em como o filme não descarta a sujeira que seu tema implica. A impressão é sempre de ver um desenho, com interlúdios cafonas, de personagens que distanciados, com fronteiras muito bem estipuladas e como os sentimentos serão usados para ultrapassá-las, incentivando um embate de valores e possibilidades do que o cinema pode ou não fazer.

O grande acerto aqui é justamente quando esta questão aparece, quando John Cameron Mitchell parece não entender que precisa de uma declaração e fazer desta ausência um grande dedo do meio para qualquer empecilho, que cada peça seja devidamente encaixada como um filme destes manda. Ele encaixa, mas do jeito que quiser.

Visto no Festival do Rio 2017.

Comentários (0)

Faça login para comentar.