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Críticas

Cineplayers

Acompanhando a turnê do cd A Foreing Sound, Fernando Groistein Andrade transita pela intimidade de Caetano Veloso.

6,0

Quem se interessa pela história da música popular brasileira deve ter trombado com o cantor/compositor Caetano Veloso em algum momento. Polêmico desde sempre, é comum vermos o baiano sendo chamado a dar sua opinião logo que a menor controvérsia cultural aparece, como um intelectual sempre requisitado - aliás, quase como um oráculo a quem os jornalistas recorrem, tanto para embasar suas opiniões como para vender jornais e polêmicas.

Deixando de lado essa caricatura, Coração Vagabundo “conversa” com um Caetano em turnê,  que dá entrevistas e tem seus momentos de sentir-se menor e subdesenvolvido, para dizer que viveu a juventude das cidades do interior de um Brasil dos anos cinquenta e sessenta, e assim justificar-se de não ter essa autoconfiança de um paulista que já nasce consciente de estar inserido no mundo.

Vê-lo comentar a questão do “estar no mundo”, mesmo sendo uma das figuras brasileiras mais cosmopolitas desde que apareceu com os Mutantes no palco do Festival de Música Popular Brasileira, usando guitarras elétricas - aqueles mesmos instrumentos que pareciam ameaçar a soberania da música nacional e deram origem a uma marcha contra o uso de estrangeirismos na MPB -, parece uma coincidência engraçada. Mas Hélio Oiticica, naquela época, já dizia que a “pureza é um mito”, e Caetano segue para se sentir elogiado pelo taxista que precisou escutá-lo cantando "Come As You Are" para entender do que a canção falava.

Viajando por Nova Iorque, Tóquio e Quioto para promover este único trabalho totalmente gravado em inglês, "A Foreing Sound", Caetano Veloso é o estrangeiro que aparece como o embaixador da música brasileira e leva David Byrne – o músico norte-americano que redescobriu Tom Zé e seguiu advogando em nome da música brasileira mundo afora - para o palco do Carnegie Hall.

Alguns outros depoimentos certificam o cosmopolitismo do cantor brasileiro e seu envolvimento com o cinema. Almodóvar, amigo íntimo, aparece comentando a necessidade que sentiu de levar o músico a gravar uma participação em Fale Com Ela; e também da ex-mulher dele, Paula Lavigne. Michelangelo Antonioni aparece ao lado da filha, visivelmente emocionado, depois de uma rememoração de Caetano sobre a cena final de Profissão: Repórter, quando a câmera sai pelas grades da janela do quarto em que Jack Nicholson dormia, coisa que fez Antonioni se emocionar diante de sua própria obra.

O documentário passa rápido: em sessenta minutos vemos Caetano se negando a passar pela maquiagem antes de entrar ao vivo na TV gringa e até deprimido a respeito de coisas que ele prefere não falar, de onde se conclui que mesmo aparecendo por rápidos segundos sem nenhuma roupa (na cena mais comentada do filme), ainda existem coisas que ele não quer mostrar.

Coração Vagabundo é cantada por japoneses e motivo de reconhecimento por um monge que faz questão de dizer a Caetano que lá no seu exílio sempre canta a canção. Pra quem conhece e não conhece o cantor, o documentário serve para mostrar a pessoa de um cantor que parece conhecido.

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