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Críticas

Cineplayers

A animação é bonita, mas completamente vazia.

3,5

A premissa era ao menos interessante: um filme espanhol com animação feita a partir de pinturas a óleo, sem diálogos, com apenas uma trilha sonora que embala a trama. O longa-metragem De Profundis é a estréia do galego Miguelanxo Prado na direção e fica evidente que ele errou a mão ao ampliar uma história composta de certo charme e beleza num longa-metragem.

O filme começa com uma mulher tocando violoncelo em uma casa maravilhosa, feita de pedra no meio do mar. Suas belas melodias atraem a atenção de vários golfinhos e baleias, que promovem alguns espetáculos ao estilo do Sea World. Em paralelo, temos a história de um pintor que parte em um barco de pesca para aprimorar seus desenhos, vivendo em meio aos trabalhadores do mar, e conhecendo novos peixes que comporão suas obras.

A vida deles muda quando um acidente atinge o barco, e o pintor ao afundar é salvo por uma sereia, que o apresenta ao mundo subaquático, cheio de maravilhas e belezas que o espantam e colocam em xeque seu retorno ao mundo real.

Os 70 minutos de filme parecem intermináveis, mesmo com os cerca de impressionantes quatro mil desenhos feitos a mão e redimensionados em 3D com o auxílio de tecnologia digital. Um dos problemas é a falta de ritmo que o diretor, com pouquíssima experiência cinematográfica, consegue impor. As cenas, por mais que tenham a intenção de parecer fluidas, não se sustentam e logo cansam. A trilha sonora, composta por Nani Garcia, também é muito convencional e pouco criativa para segurar a atenção e promover a junção entre as cenas, como deveria acontecer um projeto deste porte, que tem metade de sua força na música, já que o longa-metragem também não aproveita uma chance que teria de criar um bom trabalho de som.

O clima onírico não se sustenta e causa sonolência logo nos primeiros minutos do filme. A poesia visual, como se pretendia, não é alcançada, e é uma pena, pois as belas imagens poderiam ser suficientes para um curta-metragem de sucesso. Não conhecemos direito as personagens, muito menos seus motivos, aspirações, desejos e sentimentos. Nos sentimos completamente afastados delas, ou seja, faltando um envolvimento mesmo de parte mínima. As decisões que o protagonista têm que fazer nos são completamente alheias. O espectador por momentos parece não ser convidado de forma alguma em participar da experiência fílmica.

A animação é boa, principalmente nas paisagens, mesmo que algumas expressões faciais pareçam muito estranhas e falsas. De Profundis ainda causa espanto por alguns deslizes bobíssimos, como na cena final, em que um golfinho (ou uma baleia?) pula e a câmera faz uma panorâmica ao estilo Cidade de Deus. Nada muito diferente do resto do filme, que se apropria de muitos truques e artimanhas formais para tentar passar uma áurea inteligente e cult.

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