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Críticas

Cineplayers

Uma impressionante obra-prima dos anos 80 que tem de tudo: ação, comédia, romance, diversão e já é um clássico do cinema.

9,0

05 de Novembro de 1985

 

Os anos 80 foram palco de grandes clássicos da história do cinema. Muitas vezes subestimados no aspecto artístico, filmes como Os Goonies, Curtindo a Vida Adoidado, Os Garotos Perdidos, Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida e, é claro, De Volta Para o Futuro possuem muito mais do que apenas boas histórias: suas estéticas e conteúdos são exemplos perfeitos de que a arte e a diversão podem caminhar lado a lado quando os nomes por trás das obras são competentes o suficientes para tal.

 

Muito antes de sua consagração por Forrest Gump – O Contador de Histórias, Robert Zemeckis lançou seu melhor filme, a obra-prima que seria lembrada por muitos e muitos anos. Viajar no tempo sempre foi um tema fascinante, afinal, aproxima dois pólos distantes através de um único recurso, presente em qualquer ser humano: a imaginação. Imagine, então, reviver os grandes momentos da história, mas ao invés de livros e estudos, estar lá, presente, no local.

 

Steven Spielberg, na época já famoso por lançar suas principais obras-primas de início de carreira, resolveu apostar no roteiro escrito pelo próprio Zemeckis em conjunto de Bob Gale e produzir o longa. O resultado? Um dos filmes mais divertidos de todos os tempos, extremamente inteligente e com personagens marcantes – tanto heróis quanto vilões, todos são cativantes ao extremo e cheios de características próprias que os imortalizaram de imediato na história do cinema.

 

05 de Novembro de 1955

 

A história é espetacular e nos apresenta Marty McFly, um jovem normal, símbolo de sua geração, insatisfeito com seus pais (apesar de os amar), com uma bela namorada e perseguido no colégio pelo diretor, já que vive aprontando. É amigo do famoso Dr. Emmett Brown, um velho inventor considerado louco, que anuncia sua última e incrível invenção: a máquina do tempo.

 

A essa altura, todos já sabem o que acontece: devido a um imprevisto, Marty acaba indo parar no passado, exatamente na época em que sua mãe e seu pai se conheceram, e, por interagir com eles, acaba por alterar o futuro, pondo em risco sua própria existência. Com essa interferência, eles não se conheceram como deveriam e Marty passa então a sumir – sim, desaparecer! Disposto a não deixar que isso aconteça, ele ajuda seu pai a conquistar sua mãe, enfrenta a pose de Biff e ainda tenta arrumar uma maneira de retornar ao futuro!

O roteiro é perfeito e aproveita todas as oportunidades que seu tema propõe: Marty interage com seus pais, deve escapar da paixonite de sua mãe, deve enfrentar Biff, e como cada detalhe é explorado de maneira brilhante (onde, logicamente, não posso citar exemplos para não estragar a surpresa daqueles que ainda não viram o filme, se estes ainda existirem). Os diálogos são extremamente afiados, cheios de sub-textos e com um perfeito equilíbrio entre diversão e narrativa. Sempre levam o filme à frente, adicionam ao psicológico dos personagens e refletem em forma de palavra tudo aquilo que queríamos ver.

Não tenha a menor dúvida de que este filme é feito para ser visto muitas e muitas vezes, e a cada vez visita, novos detalhes serão descobertos. Perceba como cada mínimo detalhe serve para ligar presente / passado de maneira brilhante: a cidade, os moradores, o que não havia sido inventado...

De Volta Para o Futuro!

Se a história é complexa, detalhada e simplesmente cativante, a parte técnica teve de manter a altura do projeto para que tudo fosse crível e deixasse o público preso à história que estava sendo contada. O resultado é excelente e continua a funcionar mesmo depois de tantos anos de seu lançamento. Isso porque tudo é pensado, nada está na tela gratuitamente. Procure as ligações feitas pela arte, fotografia, direção com o futuro e verá que nada foi coincidência, nada foi por acaso.

 

As referências à época em que Marty vivia são explícitas e incrivelmente bem encaixadas: o que dizer, por exemplo, da aparição de Darth Vader? E a espetacular seqüência em que ele toca Chuck Berry e o diretor faz a brincadeira de que Berry poderia ter roubado a idéia da inovação de Marty? A todo o momento estamos sendo surpreendidos com pequenas brincadeiras como estas, rodeados por uma convincente construção de época, detalhada nas roupas, carros, costumes... Tudo funciona surpreendentemente bem.

 

A direção de Zemeckis merece um parágrafo à parte: sua sutileza na hora de apresentar o mundo de 85 para o público, sem subestimar nossa inteligência com narração, deixando que interpretemos cada tomada, e o modo como tudo muda em 55 é fantástico. A narrativa é leve, sempre para frente, sem se preocupar em explicar, cientificamente falando, as possibilidades de sua veracidade – por isso não considero a obra ficção, apenas com elementos da mesma. Porque, na verdade, não é isso que interessa para De Volta Para o Futuro. Temos de tudo: seqüências dramáticas, divertidas, ação, tudo balanceado e com efeitos especiais não para impressionar, apenas para tornar possível todos os elementos exigidos pela história.

 

O Delorean tem um design fantástico, e o modo como a história brinca com as possibilidades de se visitar o futuro são geniais – e exploradas de maneira ainda mais brilhantes e complexas no segundo filme da franquia. Quem, com mais ou menos mais do que vinte e cinco anos de idade, nunca quis ter um na garagem um dia? O efeito de foguinhos no chão tornou-se clássico de imediato, assim como diversas outras seqüências: a do relógio, a perseguição nas ruas, o baile... De uma ponta à outra, tudo o que você verá é necessário para a máquina interna e inesquecível para o público alvo.

 

O elenco foi uma daquelas peças fundamentais para tornar o filme imortal: desde Michael J. Fox até Crispin Glover, todos combinam perfeitamente com seus papéis e, assim como falei em outra certa crítica, deixou impossível imaginar outros rostos para tais papéis. Christopher Lloyd, como o Doutor Emmett Brown, é uma das figurinhas carimbadas da série e não poderia ter dado um tom mais certo ao seu personagem. Torço muito para que, se for mesmo realizado um quarto filme da série, todos aceitem retornar à seus papéis, e não que seja um mero remake com Michael J. Fox no papel do Doutor, como sugeriram alguns boatos.

 

E a trilha sonora? Uma das melhores da década: The Power of Love, Back in Time, Earth Angel, Johnny B. Goode, de Eric Clapton à Chuck Berry, a todo momento você estará sendo bombardeado pelas melhores composições que ambas as décadas têm a oferecer. Os efeitos sonoros também foram pensados com carinho, uma vez que detalhes importantes, como a viagem do Delorean e demais apetrechos sonoros deveriam ser adicionados ao longa. Som sempre preocupa, afinal, é peça fundamental de qualquer filme, e não é que tudo funciona? Quando tem que dar certo, parece que tudo ajuda e funciona mais do que deveria.

 

Finalmente de Volta

 

Quando tudo se resolve, temos a certeza de ter assistido a um dos filmes mais divertidos, cativantes e inteligentes de todos os tempos. Do início ao fim, uma aula de como se fazer cinema. Apesar de não parecer, é um prato cheio para todos que gostam de discutir sobre ciência, psicologia, ficção, viagem no tempo e muitos, muitos outros assuntos.

 

Parece ser fácil falar de um filme que se ama tanto, mas é impossível não ser parcial tamanha sua importância. Um filme bem realizado, completo, que mexe com todas as oportunidades que consegue criar. Se você ainda não assistiu a esta obra-prima, faça-o já. Vai ser uma experiência única, inesquecível e fascinante, assim como deve ser uma viagem no tempo de verdade. Pelo menos Robert Zemeckis nos faz sentir o gostinho de como poderia ser...

Comentários (2)

Vinícius Oliveira | quarta-feira, 19 de Junho de 2013 - 01:36

Ótima crítica, sem dúvida, um filme atemporal, e acho que nunca existirá uma trilogia com tantos aspectos únicos como a de DE VOLTA PARA O FUTURO. Acredito que o segundo filme seja mais eletrizante, pelas reviravoltas que possui, e pela carga de dramaticidade pelos quais todos os personagens passam durante todo o longa. Creio que o terceiro seja o mais leve de todos, até pela época em que se passa. E não sei qnto as outras pessoas, mas vejo os 3 filmes como apenas um, como toda trilogia deveria ser, e muitos não são. A sensação é sempre de vermos um grande filme dividido em três excelentes partes, mesmo se contarmos o desparate que foi o doutor Brown construir outra máquina do tempo sem recurso algum a sua disposição, porém, acho que alguma gafe haveria de ter.

Cristian Oliveira Bruno | segunda-feira, 25 de Novembro de 2013 - 15:13

Disse tudo, Vinícius!!! De Volta Para o Futuro é como O Poderoso Chefão e O Senhor dos Anéis: um só filme dividido em três!! Meu sonho de criança era ter um tênis que se amarrasse sozinho!!!!

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