Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Documentário irregular em que quase sempre as palavras esmagam as imagens.

6,5

Uma dupla operação se articula na construção do documentário Diário da França (Journal de France, 2012): de um lado, acompanhamos o fotógrafo e diretor Raymond Depardon em seu novo projeto (rodar por pequenos vilarejos franceses procurando lugares para fotografar); de outro, mergulhamos junto com sua companheira, Claudine Nougaret, nas imagens de arquivo produzidas pelo diretor ao redor do mundo durante sua vasta carreira.

O que decepciona em Diário de França, apesar da riqueza do material visto e da investigação sobre o processo de criação estética de Depardon, é a sua tentativa de justificar discursivamente o universo das imagens. Do passado, mal temos tempo de nos apegar ao belo acervo de reportagens, entrevistas e imagens banais sem que a voz over de Nougaret venha explicar, enquadrar, aprisionar cada plano.

Há um único momento de respiro, já no final do filme, quando podemos ficar apenas com as imagens. Mas ainda nesse caso temos a sensação de sermos atropelados pela narrativa do filme: ritmo acelerado, lugares, circunstâncias e países são amalgamados em prol de uma montagem eficiente, porém nem um pouco singular.

No presente, ainda que o road movie do diretor seja a parte mais instigante do filme, mais uma vez há uma tentativa excessiva de articular os discursos: passado com o presente ou as predileções estética de Depardon como fotógrafo. E, logo, o que a viagem poderia ter de linha de fuga se captura dentro da narrativa.

Nesse sentido, os momentos em que as fotografias de Depardon tomam a tela e a câmera se aproxima lentamente, como se quisesse sugar o espectador para dentro da imagem, funcionam de forma muito mais sedutora para o universo do artista. O mesmo acontece quando mais do que explicados sobre do que tratam as imagens de arquivo ou as motivações do diretor, o filma nos mostra todo um segmento construído – como é o caso da cena em que acompanhamos um julgamento de um cidadão comum em um tribunal.

Se a estratégia de construção de Diário da França falha duplamente, resta o consolo nesses poucos bons momentos: momentos raros no filme, em que as imagens tornam-se maiores do que as palavras.

Visto no 14º Festival do Rio

Comentários (0)

Faça login para comentar.