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Críticas

Cineplayers

Um filme irritantemente feminista demais. Só para mulheres que fazem o gênero.

3,0

Divinos Segredos é para as mulheres o que os filmes do Vin Diesel são para os homens. Tenho certeza que pouquíssimos homens irão se identificar com esse drama estrelado por um grandioso elenco feminino, como Sandra Bullock (Cálculo Mortal), Ellen Burstyn (Réquiem para um Sonho), Fionnula Flanagan (Os Outros), Ashley Judd (Alguém Como Você), entre outros nomes consagrados. É um filme de, para e sobre mulheres. Por isso posso dizer que, pra mim, é um dos filmes mais vazios e desinteressantes que vi nos últimos meses.

A diretora Callie Khori ficou razoavelmente conhecida quando, no início da década de 90, escreveu o roteiro do ótimo (e também feminista) Thelma & Louise, dirigido por Ridley Scott. Ganhou o Oscar por isso. De lá pra cá, não fez praticamente nada, até que resolveu adaptar, a partir de um livro, um roteiro para este Divinos Segredos. Haja saco! O filme é sobre um grupo de amigas que, quando adolescentes, formam uma irmandade, que chamam de “Ya-Ya”. Elas crescem de acordo com as normas da irmandade e acabam se tornando inseparáveis por toda a vida.

O filme mostra três etapas das vidas dessas garotas: rapidamente quando são adolescentes e fundam a irmandade; quando são adultas e encaram o casamento (entre outros assuntos); e quando são idosas, quando uma delas, Viviane, interpretada por Burstyn, briga com sua filha, interpretada por Bullock, por causa de um mal-entendido bobo. A partir desta última etapa, quando a irmandade se reúne para tentar reconciliar mãe e filha, o filme passa por inúmeros flashbacks, contando a difícil fase de casada de Viviane (vivida, naquela época, por Ashley Judd), e seu relacionamento conturbado com marido e filhos.

O grande problema mesmo são os tais flashbacks. Porém, ao mesmo tempo, o filme não funcionaria sem a presença deles, porque, de fato, não haveria história para contar se ele se passasse apenas nos tempos atuais. Então a diretora investe na juventude da irmandade, com suas diversas personagens e lembranças. Claro, o final é totalmente previsível (mas se você não quer saber mesmo assim o que acontece, não leia o final deste parágrafo) - a reconciliação entre mãe e filha de fato acontece.

E sendo o final totalmente previsível, apenas nos vemos obrigados a acompanhar, em uma história extremamente lenta e desinteressante, como as personagens chegarão nele. Cada vez que há um flashback ele pouco adiciona à história; e toda vez que a história volta para os tempos atuais, nada acontece. Divinos Segredos é basicamente um drama sobre mágoa e lembranças (boas e más) do passado. Só que estas lembranças são muito, muito monótonas e superficiais.

Nesses flashbacks, vemos as integrantes da irmandade (que até têm um grito de guerra próprio) em diferentes situações, lá pelos anos 50 e 60. Algumas dessas situações são engraçadas (pelo menos tentam ser), como quando todas elas saíram para andar de carro, à noite, semi-nuas, e acabaram paradas pela polícia; e algumas – a maioria – são dramáticas, como as cenas que explicam a rejeição de Viviane a seu marido e filhos, quando era muito jovem. A recriação de época, aliás, ficou muito interessante, talvez seja o único ponto positivo do filme todo.

A parte da história que se passa nos tempos atuais é pura perda de tempo: afim de reunir mãe e filha para o entendimento, as Ya-Yas restantes “seqüestram” Siddalee (a personagem de Bullock, filha de Viviane), afim de fazê-la entender as atitudes da mãe no seu passado. São apenas passagens que servem de desculpa para jogar os flashbacks na tela. Em alguns momentos, a passagem de tempo fica extremamente confusa, e você já não consegue facilmente saber se tal flashback ocorreu antes ou depois do último que acabou de passar.

O filme fez um bom sucesso nos Estados Unidos, ganhando quase 70 milhões de dólares, o que é bom se considerarmos o tipo de filme que é. Porém, é um estilo de filme que já não é quase mais produzido, e as mulheres, falando de modo geral, sentem falta disso, e acabaram apoiando o filme, e tornando-o o pequeno sucesso que é (ajudadas, claro, pelo poderoso elenco).

Divinos Segredos é um filme fraco, extremamente feminino (irritantemente poderia-se dizer), com uma história que é muito monótona, e com uma edição baseada em flashbacks bastante infeliz. O tema pode agradar apenas à sua mãe ou irmã mais velha. Mesmo assim, vai ser um teste de paciência para ambas (pois mesmo se o tema fosse bom, há outras falhas bem grandes). Assista se não tiver outras opções melhores.

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