Saltar para o conteúdo

Dunkirk

(Dunkirk, 2017)
6,9
Média
418 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Os heróis anônimos.

7,0
A situação sentencia um destino inevitável. De um lado, o litoral do canal da macha sendo bombardeado por pilotos de Messerschmitts e Heinkels em períodos de tempo aleatórios. Em terra, o exército nazista em massa tomando conta da cidade de Dunquerque e obrigando os Aliados a se refugiarem na praia, onde inevitavelmente acabam expostos ao bombardeio antes de poderem ser resgatados pelos destroiers enviados de Londres. Quem entra em cena para livrar os 400.000 soldados ingleses, belgas e franceses encurralados são os próprios civis da Inglaterra, munidos apenas de coragem e de seus barcos domésticos cheios de voluntários patriotas. A Batalha de Dunquerque, que durou entre 25 de maio e 4 de junho de 1940, é um dos episódios mais incomuns ocorridos na Segunda Guerra Mundial, visto se tratar da maior operação de resgate já registrada, e impressiona que toda a ação tenha sido comandada por civis em salvação de militares. Não é surpresa que essa passagem notável tenha sido pouco resgatada por Hollywood (com a exceção do filme de Leslie Norman em 1958), que tanto ama um filme sobre a Segunda Guerra, mas que aqui não tem o exército americano (de preferência como herói) atuando no relato. No ímpeto de continuar a sedimentar para a mídia a sua imagem de “revolucionário” diretor contemporâneo e “diferenciado”, o inglês Christopher Nolan escolheu justamente Dunkirk (idem, 2017) como exemplar de filme de guerra obrigatório no currículo de qualquer cineasta grandiloquente que se preze. E fez bem. 

Filmado em 70 milímetros e com tecnologia Imax, Dunkirk é puro som e imagem na maior nitidez que o cinema hoje pode proporcionar, inclusive parte crucial da experiência é poder assisti-lo num cinema que reproduza a película em seu formato idealizado por Nolan. Curiosamente, é um dos trabalhos mais enxutos do diretor, tendo menos de duas horas de duração, o que é impressionante diante de sua ambição de fragmentar a narrativa em três histórias paralelas ocorrendo em tempos diferentes. De certa forma, parece que a grande maioria dos filmes que ele dirigiu até então não passaram de tentativas ou degraus para que ele adquirisse a experiência e maturidade necessárias para filmar Dunkirk. Nolan apresenta aqui um senso de síntese muito maior e livra o filme da barriga e da autoexplicação que tanto prejudicaram seus ambiciosos A Origem (Inception, 2010), Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012) e Interestelar (Interestellar, 2014). Também foram tentativas dele em expandir o tempo em vários níveis de velocidade em narrativas simultâneas e desenvolver um clímax ininterrupto com mais de uma hora de duração – nem todas bem sucedidas. 

Pegando esses conceitos de tempo e ápice, que já começam a formar sua almejada marca de autor, Nolan vai na contramão de qualquer narrativa convencional para um filme de guerra e já começa tudo pelo clímax. Mais ainda: ele dirige um filme composto apenas de clímaxes. Nas três histórias ele parte já do meio de uma situação-limite e estica cada uma delas o máximo possível de acordo com o tempo em que cada uma ocorre (uma semana, um dia e uma hora), equilibrando todas até um momento de convergência em que elas se chocam em um único e grandiloquente ato final. A iminência da inevitável morte para os soldados que se acreditam esquecidos ao longo de uma semana em Dunquerque, a corrida de um homem comum e na companhia de seus filhos em atravessar em um único dia o canal da Mancha em um barco doméstico na tentativa de ajuda aos militares encurralados na França e o desespero de dois pilotos ingleses enfrentando em apenas uma hora vários ases nazistas que pretendem impedir a operação de resgate no molhe da praia – essas três vertentes caminham numa desesperadora rota de colisão, e a habilidade do diretor está em acelerar ou retardar o tempo de cada uma delas para que o momento de encontro seja exato. 

Estando sempre no limite da emoção, o filme não tem muito tempo para diálogos ou esclarecimentos, o que é um alívio enorme para quem se traumatizou com as intermináveis explicações didáticas que Nolan adotou em trabalhos anteriores. A história partida em três também não permite a nenhum personagem tempo o suficiente em cena para tomar o posto de protagonista, o que acaba por expandir o quadro de um conflito sem heróis, sendo que nem mesmo os nazistas dão as caras.  A ideia de Dunkirk é muito mais imagética e por conta disso Nolan pinta longos planos abertos e mostra um cuidado quase perfeccionista na maneira como dispõe os atores em cada enquadramento, o que resulta em lindas tomadas na praia fria e pontilhada pelos soldados avistados de longe. O pânico crescente de cada uma dessas narrativas é quase todo amparado no trabalho de som, que de tão nítido e potente acaba provocando mais jump scares que qualquer filme de terror recente e frisa a sensação de total pavor daqueles homens à mercê dos ataques-surpresa nazistas, ainda que a trilha de modo geral seja bastante invasiva e incômoda.

Dunkirk foi apontado com certo exagero pela crítica internacional como um Nolan à altura de mestres como Stanley Kubrick. Obviamente não se encontra nesse patamar, mas ainda assim a empolgação em torno dele é válida, pois se trata do filme em que mais se nota o amadurecimento de Nolan, que equilibrou melhor do que nunca suas ideias grandiosas, dominou os elementos e conceitos trabalhados anteriormente com mais segurança e enxugou os excessos que lhe prejudicaram outras vezes. É uma pena que se conclua num tom meloso já desgastado pelo cinema americano e se veja na obrigação de apelar a um discurso motivacional sobre os efeitos da guerra sobre o homem, não se permitindo adentrar no sentimento de impotência, vergonha e derrota dos soldados resgatados e sim tentando levantar a moral deles com considerações edificantes que simplesmente não se encaixam com a situação. Não era necessário – depois de quase duas horas ininterruptas de ação sufocante, todos já ficaram bem convencidos sobre a conclusão de que a guerra é um veneno que atinge até mesmo os cidadãos comuns e que, da adversidade causada por ela, às vezes se contrapõe o mais inesperado sentimento de união e solidariedade. 

Comentários (6)

Lucas Nunes | segunda-feira, 24 de Julho de 2017 - 19:41

Nolan é um gênio e sim,já está no patamar de outros gênios da Sétima Arte.
Estou ansioso para assistir este filme.[2]

Matheus Johan Darswik Rodrigues Barbosa | segunda-feira, 24 de Julho de 2017 - 23:17

Na grande maioria dos sites que pesquisei,o filme é muito bem elogiado,mostrando que Nolan é um visionário e gênio,todos os seus filmes são brilhantes e espetaculares.
O talento de Nolan em extrair do roteiro e do elenco,ótimas performances,coloca ele,em um seletíssimo grupo de gigantes da Sétima Arte.
Mentes brilhantes sempre enfrentam ferrenha oposição,por estarem à frente de seu tempo,Nolan é criticado,por ser um visionário,seus filmes estão muitos anos à frente de seu tempo.
E sim,sou admirador do talento do grande cineasta inglês.

Faça login para comentar.