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Críticas

Cineplayers

Uma comédia romântica que até começa bem, mas cai em estereótipos clássicos em seu ato final.

6,0

“- Bingo!” Deve ter sido o que o diretor Mark Waters disse ao terminar as filmagens de E Se Fosse Verdade, filme que chega aos cinemas brasileiros nesta semana. O filme possui todos aqueles elementos naturais que toda comédia romântica bacana que se preze deve ter: um par romântico simpático vivido por dois atores passando por uma boa fase, uma boa história trágico-cômica melosa, coadjuvantes que nos fazem rir e uma excelente trilha sonora para embalar a produção. Está tudo ali, diversão sem compromisso para uma chuvosa noite de verão. Nada tão cult quanto a um Embriagados de Amor, mas nada tão trash também como comédias românticas J.Lo – like.

Elizabeth Masterson (Witherspoon) é uma médica com todo um currículo voltado a sua vida profissional e um grau de relacionamento zero ou inexistente consigo mesma fora do hospital. Mas quando um acidente quase fatal a transforma em um espírito, Elizabeth é forçada a fazer algo que ela mais evita, “dar um tempo”. Contudo, incapaz de habitar seu antigo apartamento devido sua nova condição, sua irmã decide por alugá-lo para David Abbott (Mark Ruffalo), um bom cidadão que encontra-se em estágio depressivo depois da perda da mulher. Assim começa a história dos dois, com ela exigindo que ele saia imediatamente do apartamento e ele se recusando.

Como já havia citado acima, o envolvimento do casal principal, Masterson e Abbott (Witherspoon & Ruffalo), é simpático e agrada bastante pelo desenvolvimento da história ser genuinamente tímido, mas não no sentindo pejorativo, com ambos os personagens se redescobrindo ao se encontrarem. Ponto para Mark Waters, meio caminho andado para o sucesso comercial de uma comédia romântica. Waters ficara conhecido no Brasil através de seus dois anteriores trabalhos (não bem comédias românticas propriamente ditas) com a sensação teen do momento, Lindsay Lohan, em Freaky Friday e Mean Girls. Dois filmes regulares.

É muito difícil não se simpatizar com o personagem de Ruffalo, seu temperamento, personalidade e tom de voz são quase sempre mantidos num tom bem mais ameno que o da elétrica Witherspoon; para que o público, a primeria vista, perceba o choque comportamental entre ambos, que acaba soando engraçado também, ela sempre ligada em tudo como uma máquina mil e uma utilidades e ele despojado e desiludido depois da perda da mulher. As cenas iniciais do casal no apartamento (o lance dos copos sobre a mesa) realçam tal ponto.

Sem sombra de dúvidas, Reese é quem carrega o filme nas costas (assim como fez com o primeiro Legalmente Loira, quando acabou virando um ícone de muitas patricinhas de plantão); apesar de sua personagem dessa vez apresentar características completamente diferentes, a atriz consegue unir seu jeito extrovertido e meigo para moldar sua personagem assim como manda o figurino de uma boa comédia romântica de sucesso. E por falar em figurino, méritos a Sophie Carbonell, responsável pelo figurino da atriz principal e de quase todo elenco também. Reese está muito bem vestida, diga-se de passagem, quase com a mesma roupa durante o filme todo (calça social, blazer preto e uma blusa vermelha por baixo), sexy sem deixar de ser elegante. Outro nome a ser lembrado é o de Bárbara Haberecht, que cuidou da decoração do cenário em E Se Fosse Verdade. As tomadas no apartamento e os jardins criados por Bárbara são bárbaros (perdoem o trocadilho). Um bom trabalho feito por aquela que já havia feito excelentes sets em Cidade dos Sonhos e Sideways – Entre Umas E Outras.

E Se Fosse Verdade não é um filme com muitas passagens que te fará morrer de rir. Pelo contrário, você consegue contar essas seqüências nos dedos, o envolvimento romântico dos personagens acaba por tomar muito tempo, sobrando alguns poucos minutos para as trapalhadas (como a seqüência do restaurante). Dependendo do seu ponto de vista, isso pode vir a ser um ponto negativo, se você foi ao cinema apenas para rir. Caso o contrário, descobrirá uma comédia não tão “pastelona” como outras, onde o diretor Mark Waters também não abusou do tempo; o filme possui apenas 90 minutos bem distribuídos entre relacionamentos impossíveis e passagens engraçadas.

Infelizmente, o ato final do filme é de fazer chorar (de raiva), literalmente. Justamente porque é aí que o filme desanda para todo seu lado ultra-clichê maquiavélico onde todas as forças do universo conspiram juntas para fazer com que o casal principal fique junto. Nada contra finais felizes, mas meu Deus, não custa ser um pouco mais sutil, certo Mark Waters? É justamente nessa etapa que a produção veste a camisa do estereótipo que ronda a maioria das comédias românticas e quase faz toda aquela boa primeira impressão que o filme causou ir por água abaixo. Tudo bem, estamos já acostumados... mas a decepção com o final é clara.

Para os mais animados com trilha sonora de filmes, E Se Fosse Verdade apresenta alguns bons nomes e algumas boas regravações. Temos o tema principal “Just Like Heaven” nas vozes de Katie Melua e The Cure; além da reprise de “Just My Imagination (Running Away With Me)” na linda voz de Peter Yorn, excelente cantor e compositor. Entretanto, minha escolha pessoal é a música mais lenta do filme chamada “Colors” cantada por Amos Lee, os fãs de Coldplay vão adorar essa música, especialmente nessa versão. Imperdível, corra atrás.

Ainda que embalado por uma boa trilha sonora, E Se Fosse Verdade é uma típica comédia romântica que parece ser diferente, mas desanda aos montes em seu ato final atrelado a clichês exageradamente platônicos do tipo mais perigoso. Ainda assim não deixa de ser uma boa diversão para aqueles dias em que você não está se sentindo muito exigente consigo mesmo.

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