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Críticas

Cineplayers

O anti-anti-herói.

7,0
O pastiche não é estranho a Edgar Wright. Envolvido com o cinema de gênero pelo menos desde A Fistful of Fingers (1995), seu primeiro longa-metragem, Wright já passou pelo faroeste, o filme de zumbis, policial e, claro, a comédia screwball. Em Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010), sua adaptação para o cinema da graphic novel de Bryan Lee O’Malley, ele se aproveita de sua habilidade com o cinema de gênero para explorar referências à linguagem dos quadrinhos e do vídeo-game a partir de uma estética de excesso pop. Mas nem mesmo em Scott Pilgrim Wright se entregou ao pastiche e aos afetos da cultura mainstream de forma tão dedicada e passional quanto em Em Ritmo de Fuga.

A construção de cena do filme parece aquela cinefilia pulp dos primeiros filmes de Quentin Tarantino. E o domínio da ação em cena de Wright certamente o leva por esse caminho. Em Ritmo de Fuga, sobre um jovem motorista de carros de fuga, Baby (Ansel Elgort), fecha-se em um enredo relativamente simples. Baby, que vive com o pai adotivo idoso e com deficiência auditiva (CJ Jones), trabalha para Doc (Kevin Spacey) para pagar uma dívida de juventude. Perto de quitar essa dívida, ele conhece e se apaixona por Debora (Lily James), garçonete da mesma lanchonete onde sua mãe trabalhava antes de morrer em um acidente de automóvel. Seus planos de levar uma vida normal são frustrados quando Doc exige que ele faça mais um trabalho.

O desenvolvimento da história de Baby conecta as várias sequências de ação do filme, que geralmente envolve Baby fugindo da polícia ou de seus antigos parceiros de carro. Mas a sensação de repetição a cada nova sequência vem acompanhada de um reconhecimento de mudança na situação do personagem. Então as sequências, por mais que sejam parecidas umas com as outras, implica cada uma em um momento específico dos personagens e age sobre eles, principalmente sobre o protagonista, de modos distintos.

Apesar de a ação do filme estar sujeita aos personagens, é neles que está talvez o principal problema de Em ritmo de fuga. Wright não aceita qualquer contradição na moral do protagonista, e o afeto notável do diretor pelas figuras que criou prejudica até mesmo a coerência da relação entre eles. A estima de Wright pelo universo de seu filme é provavelmente a característica mais marcante de sua assinatura. Afinal, não se engane pelo tom de pastiche, Em Ritmo de Fuga é totalmente um filme de seu autor, pelo carinho com a cultura pop, o apego às cores e a devoção ao ritmo.

Ainda assim, o modo como Wright toma partido de seu protagonista e resiste a dissuadir dele qualquer benesse de heroísmo abre caminho para uma série de chavões, inconsistências e estereótipos. Essa invulnerabilidade do personagem é especialmente problemática quando se percebe que o filme busca nos trejeitos de Ansel Egort, no seu silêncio e isolamento, uma espécie de anti-herói. Mas o resultado é um anti-herói que vive sob todos os preceitos e valores de bom-mocismo: ele é criminoso, mas passivo no crime, não atira ou fere, apenas se for o necessário para proteger quem ama; é um anti-anti-herói.

É uma pena que não seja mais sofisticado nesses aspectos, porque o cinema de Wright, e este filme incluso, busca uma relação de proximidade muito admirável com o espectador, explorando afetos comuns e uma experiência coletiva de cinema. Não conheço as circunstâncias do seu afastamento de Homem-Formiga, mas, se foram realmente as divergências criativas com a Marvel/Disney o que lhe tirou a direção do filme, o equívoco do estúdio é indesculpável. Edgar Wright é um dos diretores que poderia trazer algo realmente interessante para esse tipo de obra sem abrir mão de seu estilo ou da personalidade comercial da produção.

Em Ritmo de Fuga poderia ter sido um filme melhor, mas ainda é totalmente Edgar Wright no que seu cinema tem de maior êxito. Os problemas do filme são atenuados pelo adorável carisma do elenco (Egort e James, principalmente) e pela prodigiosa tenacidade da direção.

Comentários (2)

Bruno Godinho | sexta-feira, 21 de Julho de 2017 - 18:42

Na minha opinião é o melhor filme de Edgar Wright, se bem que te o Scott Pilgrim, mas o novo é melhor.
Acho que se 2 Coelhos fosse estrangeiro, conseguiria o mesmo êxito.

Rodrigo Torres | segunda-feira, 07 de Agosto de 2017 - 19:53

2 Coelhos é horrível!

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