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Críticas

Cineplayers

Sim, este é um "filme de mulher", mas, mesmo com seus clichês, é uma obra carregada de grande competência.

7,5

Curtis Hanson é um diretor incrivelmente versátil. Depois de realizar suspenses meia-boca na primeira fase de sua carreira, como A Mão que Balança o Berço, o cineasta demonstrou seu talento em filmes tão díspares quanto a obra-prima noir Los Angeles – Cidade Proibida, o irônico Garotos Incríveis e o contundente 8 Mile. Continuando a surpreender em suas escolhas, Hanson realizou este Em Seu Lugar, um competente drama que poderia se encaixar facilmente na definição “filme de mulher”.

Escrito por Susannah Grant a partir de um livro de Jennifer Weiner, Em Seu Lugar conta a história das irmãs Maggie e Rose. Rose é uma advogada bem-sucedida, que tem o trabalho como prioridade em sua vida. Já Maggie é uma mulher fútil, desempregada, que vive em festas e em busca de homens. Quando Maggie é mandada embora da casa do pai pela madrasta, Rose a acolhe. Logo em seguida, as irmãs brigam e Maggie sai em busca de uma avó que descobre estar viva. É o reencontro com essa avó que poderá mudar Maggie e reaproximar as irmãs.

Em Seu Lugar não começa de forma promissora. Estabelecendo desde as primeiras cenas a diferença de personalidade entre as duas irmãs, Hanson parece demonstrar falta de sutileza na apresentação das personagens, levando o público a crer que elas serão estereotipadas como a loira burra e fútil e a feiosa certinha e inteligente. De certa forma, é isso o que acontece, mas a condução da história é realizada de maneira tão eficaz que o filme vai conquistando o espectador a cada minuto que passa.

A principal qualidade de Em Seu Lugar é que o desenvolvimento da trama, apesar de não oferecer a mínima surpresa ou originalidade, é feito de maneira convincente. O espectador não encontra problemas em acreditar nas brigas e reconciliações de Maggie e Rose, pois o roteiro é cuidadoso ao não pular etapas; pelo contrário, a platéia sempre compreende o motivo das ações das personagens, fazendo a história fluir de forma natural.

Da mesma maneira, o próprio desenvolvimento das personagens é satisfatório. Fugindo do estereótipo inicial, Hanson é hábil ao fazer de Rose e Maggie pessoas reais, de carne e osso. Encarnada pela sempre ótima Toni Collette, Rose demonstra ser mais do que uma advogada bem-sucedida, revelando todas as suas inseguranças ao longo da obra. Mais do que isso, ela é obrigada a admitir que, por mais que a irmã a irrite, Rose depende de Maggie, como se a utilizasse como um centro de estabilidade em sua vida.

Por outro lado, a personagem de Diaz é a que passa pelo arco dramático mais definido de todo o filme. O roteiro demonstra inteligência ao “culpar” a futilidade de Maggie em uma dificuldade de aprendizado (dislexia) e não apenas numa opção de vida. A mudança sofrida pela personagem é carregada de forma talentosa por Cameron Diaz, que jamais deixa esta transformação parecer falsa. Um dos melhores trabalhos de Diaz, indiscutivelmente.

A construção do relacionamento entre Maggie e Rose, aliás, é tão bem realizada que o filme não perde o ritmo mesmo com as personagens passando bom tempo separadas. Isso graças a constante sensação de que uma depende da outra. Além disso, por mais todos saibam que elas vão se reencontrar, não é por este momento que o espectador anseia: o interesse aqui é acompanhar elas solucionando, em primeiro lugar, seus próprios problemas, para somente depois partirem para a reconciliação.

Fechando o talentoso trio de atrizes principais, está a veterana Shirley MacLaine (só por curiosidade, uma das minhas atrizes favoritas). MacLaine adota um estilo de interpretação minimalista, sem afetações. Apesar de funcionar e de ser adequada à sua personagem, a escolha acaba obscurecendo a atriz diante de Collette e Diaz, que parecem ter muito mais brilho em tela. Ainda assim, é sempre um prazer assistir MacLaine.

Mesmo com todas estas qualidades, o roteiro acaba pecando em certos momentos. Em uma necessidade desnecessária de deixar todo mundo feliz no final, algumas soluções soam forçadas, como o perdão entre a personagem de MacLaine e o pai de Rose e Maggie. Da mesma forma, a madrasta das protagonistas chega a ser irritante de tão unidimensional, parecendo a bruxa malvada de um conto de fadas.

Difícil acreditar que uma obra singela e tocante como em Seu Lugar tenha sido realizado pelo mesmo diretor da injeção de testosterona que foi Los Angeles – Cidade Proibida. A última obra de Curtis Hanson trata de temas relacionados ao coração, os homens não passam de coadjuvantes e oferece momentos genuinamente emocionantes.

Se for com essa competência, que continuem fazendo “filmes de mulher” por um bom tempo.

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