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Críticas

Cineplayers

As muitas embalagens da mediocridade.

1,0

A aceitação e o acolhimento por parte do público é um objetivo que todos os filmes têm em comum, uma obstinação que vem à mente de seus criadores mesmo no momento que a obra é apenas uma ideia estampada no papel. Ao embarcar nessa meta, Eu Sou o Número Quatro (I Am Number Four, 2011) não mede qualquer tipo de esforço para que possa ser agregado por sua plateia-alvo: os adolescentes. No entanto, todos os seus artifícios para tanto diluem-se pela maneira que enxerga seus espectadores, sempre como uma massa que se contenta somente com produtos pobres embalados com luminosos efeitos gráficos.

E esse preconceito é o veículo que conduz a produção do início ao fim, sempre acreditando ingenuamente que qualquer mérito visual possa prevalecer à total ausência de conteúdo. Desse modo, não haveria para quê criar uma “identidade própria”, uma vez que basta apenas reciclar as fórmulas e elementos de alguns sucessos atuais e estará completo o filme, não é mesmo? Este pensamento infantil revela-se sua perdição, ao ter sua completa falta de matéria apenas como uma denúncia à escassez criativa dos escritores do romance em que fora baseado e dos demais envolvidos em sua confecção cinematográfica.

Todas as tentativas de divertir o espectador soam apenas como ecos propagados no vazio, tendo em vista que não há como uma história recrear seu público se todos os subterfúgios que utiliza para isso não provocam qualquer empatia. Para completar essa idéia, utilizemos o exemplo dos personagens, sempre limitados pelas celas de seus estereótipos, rasos por um roteiro que jamais consegue desconectá-los de suas personalidades inexistentes. Portanto, de que adianta adicionar um romance entre o protagonista misterioso e a garota desprotegida se os componentes desta relação são meros rabiscos de um roteiro estéril? E assim são todas as figuras aqui presentes, desgastadas pelo texto ordinário, despreocupado em fazer delas, ao menos, seres que despertem simpatia.

É com este roteiro medíocre que o diretor D. J. Caruso não teme o ridículo de nos apresentar a história de um jovem humanoide que, junto de seu guardião, permanecem em anonimato para fugirem de uma raça que destruira seu planeta anterior. O rapaz é o número quatro. Ele foi escolhido, assim como outros oito jovens, para exterminar estes inimigos e proteger sua nova “casa”, o planeta Terra. No entanto, durante uma de suas fugas, o Número Quatro acaba por se apaixonar por uma jovem fotógrafa, e este vínculo afetivo permite que ele e seu orientador sejam rastreados pelos mogadorianos, as tais impiedosas criaturas que há muito estavam em seu encalço.

Qualquer familiaridade com qualquer história que tenhamos visto por aí não é uma mera coincidência; descaradamente, a trama deste projeto é uma junção de todas as histórias que são apresentadas anos a fio no cinema voltado ao público adolescente, e como o objetivo deste filme é, propriamente, agradar sua plateia, nada mais previsível que investir naquilo que está “na moda”, nos coqueluches que parecem ainda hipnotizar mentes por todo o mundo. Esta aposta nas “sensações do momento” apresenta-se como uma das muitas embalagens da mediocridade, um revestimento para a infertilidade da inovação e singularidade.

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