Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Apesar da ambientação incomum, o filme traz pouco de novo à temática fílmica dos rituais de passagem criança - adulto.

5,0

Filme de nacionalidade tripla (Israelita+Alemã+Japonesa), Exuberante Deserto é uma narrativa sobre o rito de passagem da infância à juventude. Acontece que Dvir (Tomer Steinhof), o protagonista, é um garoto que precisa enfrentar esse momento de transição em meio a variados problemas e particularidades, de ordem social e cultural.

Dror Shaul, o diretor e roteirista deste filme, ganhou o prêmio do júri no Festival de Sundance 2007 retratando a exceção dentro da exceção numa realidade que ele conhece bem. A ação se passa em 1974, num kibutz, espécie de associação comunal judaica de caráter agrícola e auto-suficiente regida pelo chamado sionismo trabalhista, onde todos procuram encaixar-se de maneira útil, e cuja principal intenção é a sobreposição do coletivo ao individual, exemplificado pelo fato de que todas as crianças são separadas dos pais, ficando sob os cuidados daqueles a quem foi designada a função. Essas comunidades ficaram muito conhecidas e por sua característica socialista recebiam muitos voluntários estrangeiros, que iam até lá para conhecer de perto a experiência.

Nessa realidade diversa é que se passa o drama de Dvir. Às vésperas de completar 13 anos, ele e todos os garotos de sua idade que vivem neste kibutz estão sendo preparados para a cerimônia do Bar Mitzvah, que na cultura judaica simboliza a entrada na vida adulta. Além disso, Dvir vive em uma família desestruturada, com um irmão despreocupado (Pini Tavger), um pai morto e uma mãe que sofre de depressão. A todo o momento é fácil perceber que os membros da família de Dvir não se adaptam bem à rigidez hipócrita das regras no kibutz, sendo este também o motivo para o desequilíbrio de Miri (Ronit Yudkevitz), sua mãe.

Dviri, como é carinhosamente chamado, vive dividido entre as obrigações que lhe impõe a comunidade e a realidade dos deslizes que freqüentemente vê acontecer: traições, pequenos furtos e zoofilia são os ingredientes que ajudam-no a desiludir-se desde cedo com a vivência comunal, descobrindo sozinho que aquela experiência não é o exemplo que pretende demonstrar ao mundo.

Além disso acompanha a sucessão de erros e desencontros na vida de sua mãe, que depois da morte do marido (cujo motivo é camuflado durante boa parte do filme) adquire uma dependência química das brabas e com quem o menino além de não poder contar, precisa mesmo cuidar. Toda a comunidade conhece a situação de Miri e até tenta ajudá-la, permitindo que seu namorado suíço (que ela conheceu numa das idas ao sanatório, fora do kibutz) passe algumas semanas entre eles. A relação entre Dvir e Stephan (Henri Garcin) que começa equivocada, acaba engrenando, para logo depois ser rompida.

Uma alegria na vida do rapazinho é a chegada de Maya (Daniel Kitsis), garota francesa que é mandada ao kibutz devido à instabilidade financeira do pai. Pouco a pouco eles se aproximam, cada vez de forma mais irreversível. Dvir, em sua suposta rebeldia, acaba ganhando como desafeto o líder da comunidade, Avraham (Shai Avivi) que participa de muito na vida de todos e é também aquele que mais infringi as leis que deveria resguardar.

Com uma fotografia que alterna entre luminosa e sombria para demarcar o sentimento geral que prevalece em cada cena, o drama de Dvir comove pela atuação de Tomer Steinhof. Um dos destaque é a última cena de Miri, cuja fotografia me remeteu à pureza ou a um tipo de santificação.

Apesar da ambientação incomum, o filme trouxe pouco de novo à temática fílmica dos rituais de passagem e mesmo as cenas de grande amplitude que serviram para ilustrar o tamanho e a exuberância do lugar também pareceram repetidas. Ainda assim, o filme está longe de ser desagradável.

Comentários (0)

Faça login para comentar.