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Críticas

Cineplayers

Alfonso Cuarón, com este filme, torna-se o melhor diretor do ano. Imperdível.

9,0

Fantástico. Essa é, talvez, a melhor definição para o novo trabalho de Alfonso Cuarón, diretor de filmes como E Sua Mãe Também e Harry Potter e o Prosioneiro de Azkaban. O novo trabalho de Cuarón permanece vivo na memória, mesmo passado um bom tempo do final da projeção.

No ano de 2027, o mundo está caótico. Os países já não contam com nenhum tipo de infra-estrutura, e as pessoas se autogovernam, com exceção da Inglaterra que é o único país a contar com um governo e um exército organizados. Cercado de muros por todos os lados, o país faz uma caça desenfreada contra todos os imigrantes ilegais. O ponto de partida do filme é a morte do ser humano mais jovem do planeta, o “bebê Diego”, de 18 anos. A essa altura, as mulheres não podem mais ter filhos, e a morte de Diego causa um surto de tristeza em todos. Theo Faron (Clive Owen) é seqüestrado por um grupo de ativistas, liderado por sua ex-esposa (Julianne Moore). O seqüestro tem um objetivo: obter a ajuda de Theo para transportar uma garota grávida para um lugar onde ela possa dar à luz com segurança.

O enredo de Filhos da Esperança é uma profecia caótica do futuro da humanidade. E, para desespero de todos, o filme parece estar correto em sua visão do futuro. As constantes hostilidades entre os povos, os atos terroristas, as guerras, a poluição, o desmatamento, tudo isso parece nos levar para um caminho sem volta. Infelizmente, parece que só perceberemos a gravidade de nossos atos, quando eles forem praticamente incorrigíveis. O longa consegue com muita competência fazer sua denúncia sobre os caminhos errados que o homem tem escolhido trilhar.

O grande destaque desta obra de ficção científica é o mexicano Alfonso Cuarón. Junto com sua equipe técnica, principalmente o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, Cuarón consegue conceber cenas extraordinárias. O diretor, ao longo do filme, realiza algumas seqüências sem nenhum tipo de corte. Dentre essas cenas, a mais impressionante é a do último ato do filme, na qual, por duradouros minutos, o diretor filma um ataque do exército inglês. A veracidade obtida pelo diretor é impressionante, fazendo parecer que o espectador está diante de um documentário de guerra. A câmera trêmula que segue o personagem a todo instante, sem cortes, prende o público na cadeira, principalmente por conta de pequenos caprichos de Cuarón, como o fato de deixar a câmera manchada de sangue. O resultado é uma cena brilhante. O único corte possível de identificar nessa cena é quando a imagem, antes manchada de sangue, volta a ficar limpa. 

O trabalho de fotografia é outro ponto forte do filme. Londres está sempre representada por cores escuras e cinzentas, demonstrando, dessa maneira, a falta de alegria da população e o ar sombrio que tomou conta do mundo. Outro aspecto que merece ser ressaltado é a direção de arte, que enriqueceu de detalhes os cenários, representando da melhor maneira possível uma Londres do futuro, destruída, com diversos entulhos e pichações pelas ruas. 

O filme ainda é capaz de pequenas sutilezas. O personagem Theo veste em determinado momento, um casaco com a inscrição “London 2012”, em referência às olimpíadas que a cidade sediará em seis anos, mas que no filme é representado como um evento do passado. 

O elenco de peso não decepciona e presenteia o público com atuações que beneficiam o filme. Clive Owen não é exagerado na composição de seu herói. Não chega a ser brilhante, mas consegue transmitir muito de seus sentimentos por pequenas expressões faciais. Embora apareça pouco, Julianne Moore aproveita os momentos em que está em cena para deixar sua marca na personagem; Michael Cane é um ator completo, e ao interpretar Jasper Palmer – um velho amigo de Theo – consegue ter a melhor atuação de todo o elenco. Há, ainda, uma performance rápida, porém ótima do ator Peter Mullan que interpreta o militar Syd. A jovem Claire-Hope Ashitey não deixa nada a desejar ao viver a adolescente grávida.

Filhos da Esperança consegue o que muitos filmes tentam sem êxito. Envolver o espectador de tal maneira que este torça desesperadamente para que fugas dêem certo – como a cena em que o carro teima em não pegar -, e fique apreensivo e envolvido com o que está vendo na tela. Este filme consegue tudo isso, em grande parte devido ao diretor Alfonso Cuarón, que apresenta ao público, além de um dos melhores filmes do ano, a melhor direção de 2006.

Comentários (2)

jorge lucas | terça-feira, 02 de Outubro de 2012 - 12:49

Crítica perfeita.

Guilherme Santos | quinta-feira, 14 de Agosto de 2014 - 09:52

O que me incomodou no filme foi o roteiro, que teve um argumento tão original mas um desenvolvimento muito muito previsível e irritante(span, poxa todo mundo ao redor da menina ir morrendo a cada cena, os personagens que se encontram no meio de uma guerra, o problema no carro justo na hora que eles vão fugir, isso irrita) porém o filme ainda sim é dono de ótimos momentos e uma direção incrível com os seus planos sequências, que me arrisco a dizer um dos mais geniais que existem, isso junto com o ótimo elenco e a boa história base conseguem levantar o filme, mas não achei essa obra prima toda não

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