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Críticas

Cineplayers

A história de Mary, uma boa menina estudante de uma escola aparentemente rigorosa e cristã, fará surpreender você com boas risadas.

7,5

Realmente, como todos poderíamos esperar (ou quase todos), o final de 2004 sem um único filme da saga de Peter Jackson fez bastante falta. A falta de opções nos cinemas nacionais para quem não mora nos grandes centros - rejuvenescidos pela graciosa presença dos festivais trazendo muitas novidades - neste final de ano vem mostrando-se um grande empecilho para as pessoas que procuram novas alternativas. Aqui, na cidade de onde estou escrevendo essa crítica, Campo Grande, ainda estão em cartaz vários filmes datados do início de novembro. Seria um mísero detalhe, caso não estivéssemos a poucas horas da virada do ano.

Eis que surge um filme novo em cartaz que, confesso, não sabia absolutamente nada a seu respeito. Entrei na sala de projeção simplesmente por já ter assistido todas as outras películas e, como não poderia deixar de ser, minhas expectativas estavam lá embaixo para um filme cujo cartaz trazia um casting "aborrecente" escalonado culminando com a aparição de Mandy Moore no centro. Para quem não conhece a moça, Mandy é mais uma das várias cantoras pop dos Estados Unidos que faz muito sucesso entre os adolescentes. Seu estilo, seu jeito, sua aparência remete totalmente a "cantora" Britney Spears, só que Moore é um pouco mais recatada, e não sai mundo afora dizendo que é virgem. Aliado a tudo isso, o título: "Galera do Mal", mas falaremos dele mais adiante. Francamente, a primeira impressão que temos não poderia deixar de ser sofrível. Ainda bem que, com o passar da projeção, ela mostrou-se errônea.

O filme conta a história de Mary (Jena Malone), que é uma boa menina estudante de uma escola aparentemente rigorosa e cristã. Quando seu namorado se descobre homossexual, ela tem uma "visão divina" e tenta ajudá-lo, mas acaba ficando grávida. Uma passagem muito criativa e engraçada, levando em consideração a ingenuidade da protagonista. De repente, Mary começa a questionar tudo em que acreditava, e Hillary (Mandy Moore), sua melhor amiga, junto com suas devotas discípulas, voltam-se contra ela. Agora Mary está sozinha e acaba conquistando novas amizades na escola, aproximando-se de outros excluídos como ela: Roland (Macaulay Culkin), um deficiente físico que se move em cadeira de rodas; o skatista rebelde (Patrick Fugit); o filho do diretor do colégio e a única garota judia da escola, a rebelde Cassandra (Eva Amurri).

Mas o que faz de Galera do Mal um filme tão interessante? Sim, como não poderia deixar de ser, a âncora da produção é a religião cristã, o principal foco do filme. O que vemos aqui é a história de um pequeno grupo de alunos que se reúne e se rebela para combater os preconceitos de todas as áreas da escola. O humor negro está sempre presente, o que irá, com toda certeza, despertar a ira dos ortodoxos de plantão e causar a revolta dos costumeiros diretores de escolas cristãs norte-americanas. Nada fora do comum até aqui. Todo esse cenário só serve (e ajuda) ainda mais o filme, uma forma de auto-promoção.

Para nós, brasileiros, o filme é ainda mais interessante por revelar uma a uma das camadas da sociedade norte-americana, que não estamos assim tão acostumados a ver. Sim, sabemos da atução de escolas direcionadas a nichos religiosos nos Estados Unidos, mas justamente por não termos experiências iguais em nosso país, o filme torna-se curiosamente divertido. E, para quem assiste tudo de fora, as críticas e as alfinetadas que o diretor dá no "sistema" ficam bem mais claras e plausíveis.

No ramo das atuações, o elenco todo se sai razoavelmente bem. Mandy Moore, Jena Malone, Macaulay Culkin (quem diria) e Eva Amurri dão um toque subversivo a seus personagens que agradam bastante quem assiste, enriquecendo ainda mais o filme como um todo. Jena Malone, que interpreta a protagonista Mary, é envolta em questionamentos a partir do momento em que sua vida muda. Sua ingenuidade frente a determinados assuntos é hilária. Mandy Moore faz o papel da cristã boazinha que acha que pode converter qualquer um para o reino de Deus. Macaulay Culkin e Eva Amurri (a judia rebelde) formam um par romântico esquisito, mas deliciosamente divertido.

Infelizmente, Saved! é mais um filme que entra na lista das películas com os piores títulos traduzidos da história. Triste! Pior que um subtítulo clichê mal aplicado (que por tantos anos assustam as produções estrangeiras que aqui chegam), é um título extremamente mal traduzido, não só ridículo como também dá uma imagem completamente errônea acerca do clima da produção. O cartaz e o título nacional que o filme recebeu são exemplos de como não marquetear um filme desse tipo. A julgar por esses dois itens, a primeira impressão que se tem é que o filme é mais uma comédia boba voltada ao público teen, contendo a mesma fórmula que vem desgastando-se desde anos atrás com a invasão dos filmes-paródia ao melhor estilo Todo Mundo em Pânico. Tudo errado! O filme não é sequer destinado a esse público-alvo.

Saved! ainda é regado por uma boa direção e uma boa trilha sonora. Mas, sem sombra de dúvidas, suas melhores qualidades são as boas interpretações por parte do elenco principal e os diálogos deliciosamente divertidos. A cena em que a estudante judia começa a proferir frases como "eu estou excitada" em aramaico diante de uma platéia cristã é imperdível. É interessante notar também como um país como os Estados Unidos, que se gaba de sua liberdade religiosa, lida (ou melhor, não lida) diretamente com os fanáticos (ou semi-fanáticos) religiosos.

Finalizando, não poderia deixar de recomendar Galera do Mal a todos aqueles que procuram por uma boa alternativa independente (a não ser, claro, que você seja um cristão fervoroso) para esse fraco final de ano para nós, que só devemos ver as esperadas produções de fim de ano norte-americanas em meados de janeiro ou fevereiro. Galera do Mal é uma comédia bastante interessante que, tenho certeza, irá surpreender você também, apesar da fraca primeira impressão que você possa vir a ter. Infelizmente, a rede Cinemark conseguiu, de alguma forma, a exclusividade da produção nos cinemas nacionais. Caso você não tenha a oportunidade de ir ao cinema, não esqueça de dar uma conferida em DVD.

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