Dando seqüência a essa onda de quadrinhos, animes japoneses e desenhos clássicos que andam invadindo as telas dos cinemas de todo mundo (tendência que já estava em evidência há bons sete anos), eis que mais uma franquia mundialmente conhecida e até mesmo, porque não, cultuada, tenta a sorte nos palcos da sétima arte. Se há sete anos atrás tínhamos o deslanche das primeiras adaptações de HQs e séries televisivas, hoje temos uma verdadeira tempestade, um "boom" de adaptações que parece não acabar mais. Não que isso seja um ponto negativo, mas em muitos casos, discrição, bom senso e, principalmente, fidelidade, não parecem ser características presentes em muitas dessas adaptações, infelizmente.

Garfield, talvez o gato mais famoso do planeta, criado por ninguém menos que Jim Davis, possui fãs em cada canto do mundo. Sua presença em cena sempre fora marcante e sua postura de gordo, sarcástico e maquiavélico é inesquecível. Nesta mais nova produção de Peter Hewitt, o diretor resolveu explorar um roteiro que poderia gerar uma excelente história: o momento em que John adota Odie para a família. Mais tarde, como todos já sabem, Odie se tornaria o principal alvo das maquinações de Garfield.

Pensando nos pontos positivos da película, podemos citar, sem sombra de dúvidas, o visual de Garfield, nosso protagonista. A modelação em CGi (imagens geradas por computador) ficou excelente, seu estilo gordo e pesado, tomado pelo ócio, ficou bem fidedigno às animações clássicas. Talvez o melhor momento do filme, impossível não rir, seja quando Garfield faz a maior bagunça no apartamento de John e logo após dá aquele sorriso maroto mostrando todos os dentes. Foi a única cena que realmente ficou em minha cabeça após o término do filme.

Infelizmente os elogios param por aí. Sim, foram pouquíssimos mesmo. Apesar do que já fora dito, Garfield - O Filme é uma afronta para o verdadeiro público que esperava por uma adaptação decente da famosa série. O que dói mais ainda dizer, inclusive a mim, um fã do gato mais preguiçoso já visto, já não era surpresa nenhuma que o filme simplesmente seria uma decepção. O próprio trailer do filme já acusava isso.

O principal erro de Peter Hewiit parece ter sido na essência de sua produção. O estilo do Garfield mostrado simplesmente não bate com o Garfield com o qual estávamos acostumados. A impressão que dá é que o diretor ficou tão preocupado em fazer com que o filme tivesse aquele status de um "filme família" (feito tanto para papai, mamãe, quanto para os filhinhos), que acabou esquecendo das principais características que fizeram do protagonista o bichano mais famoso do mundo. Características essas tais como o ócio, o sarcasmo (que simplesmente ficou totalmente de fora dessa produção) e a fome (que aqui no filme foi até usada para promover uma determinada marca nacional de lasanha, como você pode observar nos cartazes da produção).

Outra afronta aos fãs (e aqui chego até mesmo a rebaixar o nível da palavra fã não apenas aos verdadeiros loucos por Garfield, mas incluindo, também, qualquer um que se importe ou tenha gostado do desenho por algum tempo) vem personificada na forma do cão Odie. Algumas características do pobre cachorro foram até conservadas, como o conformismo, o estilo bobão e o jeito amável de tratar aqueles que o desprezam. Entretanto, seria mais coeso também terem utilizado um cão em CGi para que ficasse ainda mais fiel à série. Isso sem contar que o cachorro que escolheram para protagonizar Odie é feio demais e nem em um só minuto consegue lembrar a silhueta do verdadeiro Odie.

As atuações de Breckin Meyer (de O Informante e  Studio 54) e Jennifer Love Hewitt (de Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado), John e Liz, respectivamente, são completamente descartáveis. Nem completamente sofrível, nem perto de algo considerado bom também. A verdade é que seus personagens acabam se perdendo na mediocridade do roteiro de Joel Cohen. Ah, antes que me esqueça, não confunda os créditos pelo péssimo roteiro. O Joel Cohen aqui tratado não é o mesmo e famoso Joel Coen dos irmãos Coen, que já nos trouxe belas produções como Fargo, O Grande Lebowski, O Homem que Não Estava Lá, e, mais recentemente Matadores de Velhinha.

Tendo dito tudo isso, Garfield - O Filme é uma película feita para tentar encantar um novo público infantil que, por sua vez, não possui ligação ou lembrança alguma de como era o velho e bom Garfield. Para todos os outros que gostavam ou gostam realmente das tirinhas de jornais, dos desenhos... enfim, da marca Garfield, fica aqui nossa torcida para que só façam uma continuação, caso decidam fazer algo que realmente remeta à consagrada série de Jim Davis.