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Críticas

Cineplayers

A atriz Drew Barrymore se arrisca na direção com filme realista e levemente pessimista direcionado aos jovens.

6,0

Drew Barrymore já havia se aventurado na produção de longas antes, como, por exemplo, em seu cult Donnie Darko. Porém, mesmo com toda sua bagagem na indústria (estreou no cinema em 1980), foi apenas com Garota Fantástica, lançado diretamente em DVD no Brasil, que a atriz resolveu expandir um pouco sua carreira para a cadeira de direção e trabalhar sua visão de cinema.

Reunindo um pouco das características da diretora como pessoa, temos a história de uma jovem interiorana que se sente deslocada da sociedade tradicionalista em que vive. É quando descobre o esporte roller derby, uma espécie de corrida competitiva de patins, e talvez tenha descoberto também um sentido para sua vida. Adolescente em crise existencial, vive um clima oitentista na atitude e no modo de viver, em guerra com os pais, que não querem que ela repita os mesmos erros de suas vidas.

Esse clima, ao contrário do que parece, nem sempre é 100% feliz e beira a depressão sentida em muitos momentos por esses jovens que tão cedo devem decidir o que fazer com suas vidas. Faculdade, emprego, romance... Com uma fotografia realista e figurinos que não fazem o sonho de menina amante das cores, o filme é bem pé no chão no sentido de família e objetivos na vida, trazendo algumas discussões interessantes sobre os jovens e uma boa direção de Drew Barrymore, principalmente casando seus planos com a ótima trilha sonora – que merece uma conferida à parte.

Com um elenco recheado de alguns nomes fortes da interpretação feminina em Hollywood, como Juliette Lewis e Kristen Wiig, a parte dramática estava obviamente garantida, mas não se pode dizer o mesmo das seqüências de ação: por muitas vezes as corridas são convincentes, mas muitas outras somos conscientizados de que aquilo tudo não é real por um descuido ou outro das atrizes enquanto patinam, desajeitadas e sem a menor pinta para aquilo.

Se Drew Barrymore faz um trabalho eficiente na direção (suas escolhas realistas deram um tom perfeito ao filme, além de algumas passagens muito bonitas visualmente), o mesmo não pode ser dito na sua participação: a personagem que interpreta é extremamente irritante e a todo momento parece só querer fazer piadinhas em tom exagerado e sem graça. Totalmente dispensável e fora do tom.

Ellen Page, que em 2007 ganhou o respeito e o reconhecimento internacional por seu papel em Juno, mais uma vez faz um trabalho bastante eficiente ao retratar uma adolescente padrão. E, mesmo que no Brasil não se tenha tanto apego a esportes diferentes como nos EUA, é crível a paixão da menina por aquele estranho e sem muito futuro esporte. Sua naturalidade com as coisas simples é que faz a diferença; os detalhes, o jeito de olhar, de falar, a tranqüilidade e espontaneidade, consegue facilmente carregar um filme nas costas. Já deixou de ser promessa e se tornou uma realidade como atriz, depende apenas das escolhas que fizer daqui para a frente.

Com um discurso mais pessimista do que próspero, será que aquilo tudo realmente levará sua vida a algum lugar? As equipes, por exemplo, não tem portas nos vestiários e dividem várias vezes o refeitório, pois não tem outro lugar para comer, competem em um galpão sem a menor estrutura; em termos comparativos, seria um campeonato de futebol de fim de semana no Brasil. Aquelas meninas não tem quase nada na vida, apenas a amizade e um uniforme imponente, uma armadura perante aos defeitos de suas vidas, seu único sucesso.

Direcionado para jovens que tem a mesma idade da protagonista (e mais velhos que não conseguem se desprender do passado), com certeza vai encontrar identificação em algumas pessoas – e ter sua mensagem fortalecida nessas mesmas. Poderia muito bem ser um clássico da Sessão da Tarde.

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