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Críticas

Cineplayers

Há dois shows nesse filme: as interpretações e os diálogos. Recomendado!

9,0

Em setembro de 1958, Gata em Teto de Zinco Quente chegou aos cinemas norte-americanos totalmente desacreditado pelo seu autor original, Tennessee Williams, que escreveu a peça teatral na qual se baseou o filme. Williams desgostou tanto da adaptação para o cinema, após ler o roteiro, que chegou a afirmar que o filme “traria a indústria do cinema 50 anos de volta ao passado”. Hoje o filme é considerado por legiões de pessoas, entre público e crítica, como um dos grandes dramas daquela época. Isso mostra como os tempos e as cabeças mudam, afinal filmes assim não se fazem mais hoje em dia – e isso não é papo de saudosista não, vou explicar o porquê daqui pra frente.

Primeiro, a sinopse! Brick (Paul Newman), um ex-famoso jogador de futebol americano, agora alcóolico pela vergonha, nega sua bela esposa (Elizabeth Taylor), a quem culpa, por causa de um incidente com seu amigo de campo Skipper, de ter abandonado sua carreira profissional. Brick também não quer saber de seu pai Harvey – ou “Big Daddy”, como todos o chamam, interpretado por Burl Ives -, que está morrendo de câncer, pois ambos nunca tiveram um diálogo aberto e são demasiado orgulhosos para se tornarem amigos nessa altura da vida. Porém, no dia do aniversário de Harvey toda a família está reunida, incluindo seu irmão advogado, e nesse dia segredos serão desenterrados e verdades serão ditas entre todos os presentes à festa.

Não é necessário dizer que o melhor do filme são as interpretações. E estas  são boas por dois motivos, especialmente: (1) os atores realmente são geniais e (2) os diálogos entre eles são excelentes. Por ter sido originado de uma peça teatral, claro, é mais óbvio que os diálogos sejam a parte mais forte do roteiro, e não as situações em si (embora estas sejam sempre bem estruturadas também). Elizabeth Taylor estava em alta na carreira, e tinha muito mais a mostrar que sua beleza (fascinante!) e Paul Newman estava apenas começando a aparecer para valer para seu público. Hoje - todos sabem - ambos são lendas ainda vivas do cinema de Hollywood.

Sobressaindo-se sobre os dois ainda há o personagem de Burl Ives, no grande trabalho de sua carreira, como o homem orgulhoso e duro que sabia que iria morrer em breve, e agora despejava suas mágoas para todos ouvirem. A cena entre Newman e Ives no porão da casa é provavelmente a melhor de todo o filme. Quando os dois finalmente deixam o orgulho de lado e lembram o que os levou a serem o que eram naquele momento, de coração aberto,  o show de interpretação, tanto física quanto mental, é para qualquer espectador lembrar por muito tempo e se deliciar. O filme realmente fica marcado por esse e alguns outros momentos.

Claro que nem tudo são flores. Por melhor que seja o texto e os diálogos presentes no roteiro, em alguns momentos ele se torna auto-importante demais, com frases colocadas em momentos estratégicos para tentar impressionar o espectador, como que para dizer: “vejam como sou inteligente”. Um exemplo fácil de recordar é o diálogo que dá nome ao filme, quando Maggie, a personagem de Taylor, fica se auto-denominando uma “gata em teto de zinco quente”. Soa falso! Algumas situações também são apropriadas demais (além de previsíveis), como quando Brick revela a seu pai, sem querer, que este está realmente doente e não há esperanças. O momento, que era para ser chocante, ou pelo menos emocionante, não apenas para o pai, e sim para os espectadores, chegou muito abruptamente, ou seja, o filme ficou preparando esse momento por muito tempo e de repente ele chega quando é mais óbvio, tirando a toda a graça. Não é exatamente ruim, mas faltou o tempo certo do roteiro nesse caso. De qualquer forma, é apenas um detalhe entre tantos fatores positivos.

Uma curiosidade é que a peça original tinha um teor homossexual, levemente insinuado, coisa que foi deixada totalmente de lado por causa de um certo código de ética de Hollywood na época. Esse deve ter sido um dos principais motivos para Williams, escritor da peça original, ter dito o que disse. Realmente, não se pode dizer que há traços de homossexualismo no filme. O personagem de Paul Newman ama sua esposa mas é muito orgulhoso para perdoá-la, apenas isso.

Além das interpretações e dos diálogos serem ótimos, o filme também possui um clima extraordinário. Quase todo o filme se passa em uma só noite e a cada minuto que passa os personagens vão descendo mais e mais, até chegaram ao fundo do poço em termos morais. Uma outra curiosidade: nisso (e em vários outros detalhes) o filme Quem tem Medo de Virginia Woolf?, lançado oito anos depois, também com Elizabeth Taylor no elenco, lembra muito este aqui. Mas o que há de extraordinário nisso, afinal? A evolução com que as coisas acontecem. Ela é simplesmente quase perfeita! "Quase" por causa daquela pequena reclamação que fiz anteriormente. Fora isso, as coisas acontecem de uma maneira que fica difícil tirar os olhos da tela. Os diálogos e acontecimentos podem realmente prender o espectador, como o fizeram comigo. Conseguir prender a atenção com tanta força hoje em dia quase não acontece mais. Daí o porquê de eu ter afirmado anterioremente que não fazem mais filmes como esse nos dias atuais. Pelo menos não sem efeitos especiais. Gata em Teto de Zinco Quente é um filme que deve ser recomendado para qualquer um que ama o cinema, e fim de papo.

Comentários (5)

Gustavo Hackaq | sábado, 26 de Julho de 2014 - 03:23

"A verdade é tão suja quanto a mentira".

Robson Nakazato | domingo, 27 de Julho de 2014 - 17:44

Newman e Taylor são o casal ficticio mais belo do cinema de todos os tempos. E é uma pena dos dois (já falecidos) estarem apenas neste filme e também muita injustiça tanto da dupla ter perdido os premios de melhor ator e atriz para David Niven e Susan Hayword quanto o próprio filme e Richard Brooks pederam Oscar para o idiota musical GIGI😈


Mas pelo menos a Academia é famosa de reunir os astros (http://www.youtube.com/watch?v=28ZkmJJ8320)

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