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Críticas

Cineplayers

Cenas de ação ininterruptas e nenhuma inteligência.

3,0

 

... a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.

 

No trecho acima, o escritor português José Saramago estava se referindo a um novo meio de comunicação em rede, mas é fácil identificar nas palavras do Nobel de literatura uma correlação muito próxima também a outras mídias. O cinema é uma delas.

Apesar de ter se consolidado ao longo da história como um dos mais eficazes meios de se contar uma história, o Cinema, sobretudo o estadunidense, parece estar perdendo esta vocação. Quem dita as regras de concepção de um filme, no nosso tempo, não são mais os roteiristas, mas os departamentos tecnológicos dos grandes estúdios.

A preocupação primordial agora é trazer o máximo de inovação em efeitos, que aliados à grandes campanhas de marketing, tentam tirar os adolescentes – principais consumidores – da internet e levá-los aos cinemas, dotados de telas em três dimensões, IMAX e afins.

Não é de se estranhar, portanto, que há anos os principais filmes vindos de Hollywood tenham se baseado em histórias em quadrinhos, séries de televisão, internet, videogames, chicletes e, agora, brinquedo. É o ápice do descrédito intelectual. Não à toa a maior bilheteria do ano pertence à atrocidade Transformers: A Vingança dos Derrotados. E chega mais um exemplar destes aos cinemas, G.I. Joe - A Origem de Cobra.

Baseado nos Comandos em Ação, brinquedos que muito sucesso fizeram no Brasil durante a década de 1980, este novo filme produzido por Brian Goldner  (não por acaso o mesmo produtor dos dois Transformers) repete à exaustão a forma de fazer filmes que está em voga: muita pirotecnia visual, efeitos sonoros atordoantes, edição picotadíssima e zero de argumento, zero de história, zero de inteligência. É um filme “pensado” a partir das cenas de ação que se pretende apresentar, com o miolo narrativo cada vez mais espremido entre elas. Talvez seja ao que Saramago estava se referindo.

G.I. Joe - A Origem de Cobra, por exemplo, nem se dignifica a localizar o espectador, desenvolver personagem, criar um clímax pontual. Sabe-se apenas que uma arma nanotecnológica capaz de destruir elementos metálicos  é roubada por uma organização criminosa chamada Cobra e que um esquadrão de elite internacional, os Comandos em Ação, quer dizer, os G.I. Joe, tem o dever de recuperá-la.

Para isso, haverá uma enorme e bem bolada sequência de perseguição pelas ruas de Paris – não é preciso ser muito esperto para descobrir que a Torre Eifel é o alvo -, que realmente impressiona (apesar dos efeitos, em diversos outros momentos do filme, não serem de todo satisfatórios). Pela primeira vez no filme, nesta sequência específica, as coisas ficam mais claras, mocinhos e vilões já estão bem definidos e a tentativa de montar o quebra-cabeças errático do pseudo-roteiro já tem algum resultado, levando finalmente o espectador a fruir alguma sensação puramente sinestésica.

De resto, o filme de Stephen Sommers (o mesmo responsável por A Múmia e do tenebroso Van Helsing - O Caçador de Monstros) se utiliza dos flashbacks para tentar dar algum background aos personagens (todos arquétipos já usados à exaustão)  e também para criar os intervalos necessários entre as sequências de adrenalina. Há também a vexaminosa revelação de um vilão, atuações canhestras, um final apressado e uma deixa para a sequência, que não tardará a vir. Espero não estar grunhindo até lá.

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