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Críticas

Cineplayers

Os verdadeiros Comandos em Ação.

5,5

O caráter excessivamente comercial da indústria hollywoodiana não é apenas uma afronta a cinéfilos minimamente exigentes, sendo, também, responsável por algumas situações verdadeiramente hilárias. Exemplo recente mais representativo e constrangedor dos métodos adotados por essa indústria, devido aos inúmeros contratempos ocorridos durante sua fase de produção (curiosidades que ganham o merecido destaque ao final da crítica), G.I. Joe: Retaliação (G.I. Joe: Retaliation, 2012) surpreende por, mesmo cometendo quase todos os equívocos de G.I. Joe – A Origem de Cobra (G.I. Joe: The Rise of Cobra, 2009), ser consideravelmente melhor que seu antecessor.

A trama, novamente, é exígua: os G.I. Joes são dizimados devido a uma conspiração que se alastra pela cúpula do governo norte-americano, e caberá aos sobreviventes Roadblock (Dwayne Johnson), Lady Jaye (Adrianne Palicki) e Flint (D.J. Cotrona, expressivo como uma porta) recrutar novos e antigos soldados para recolocar os Joes na posição de heróis nacionais.

Tamanha simplicidade antevê a função narrativa de um roteiro exposto a todo tipo de conveniências e resoluções fáceis e previsíveis (a exemplo de toda subtrama envolvendo Storm Shadow), sendo montado com a clara pretensão de privilegiar um sem número de situações que envolvam bem coreografadas cenas de lutas e tiros, sempre com muita pirotecnia, slow-motion e uso interativo (e pobre) do 3D. Portanto, o que diferencia o novo filme do péssimo A Origem de Cobra é a versatilidade dos roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick.

Embora a ação seja frenética, a dupla responsável por Zumbilândia (Zombieland, 2009) propõe uma história menos dependente de efeitos especiais e enxertada de alívios cômicos melhor desenvolvidos. A receita é semelhante à aplicada em Os Mercenários 2 (The Expendables 2, 2012), sequência em que Stalone e Simon West mostram-se brilhantes em, simultaneamente, homenagear e satirizar os característicos filmes de ação dos anos 80. Em GI Joe 2 os clichês não são adotados como inspirada e fina ironia àqueles exemplares, mas são eficientes no resgate do vigor e do carisma do “cinema de ação brucutu”, além de remeter à época em que os Comandos em Ação se tornaram febre mundial.

Apesar de toda questão mercadológica que envolveu a brutal (e necessária) mudança de elenco, esta também mostrou-se acertada. Dwayne Johnson faz todo jus ao codinome The Rock e surge tão forte, grande e bronco como um Schwarzenegger em tempos de Comando Para Matar (Commando, 1985). Escalado como o lendário general Joe Colton, Bruce Willis surge já na metade do filme, deslocado, mas Reese e Wernick levam sua rápida aparição do desastre ao hilário. Com mais tempo de projeção, Willis poderia ter roubado a cena, como fora a participação especial de Bill Murray no já citado Zumbilândia.

Pouco experiente, o diretor Jon M. Chu (de pérolas como a série Ela Dança, Eu Danço 2 [Step Up 2: The Streets, 2008] e 3 [Step Up 3D, 2010] e Justin Bieber: Never Say Never [idem, 2011]) teve como desafio atender à excessiva e descerebrada demanda de ação do roteiro (certamente requisitada pelo estúdio), administrar a veia cômica do roteiro – onde cabe escrachada sátira ao belicismo do(s) governo(s) Bush – e sustentar um ritmo vertiginoso (cansativo) até o fim. E até que o saldo é positivo, principalmente se comparado a trabalhos em outros blockbusters recentes e considerada a forma intervensiva como a indústria se comporta com cineastas de menor prestígio.

Filme de ação, comédia na produção

O lançamento de G.I. Joe 2 estava marcado para junho de 2012. Material promocional desenvolvido, campanha publicitária milionária em pleno curso e, três semanas antes da nova continuação do pedaço chegar aos cinemas, foi anunciado seu adiamento em 10 meses. Dez meses! A alegação oficial, conversão do filme para o 3D, atentado artístico cuja única função é servir como anabolizante no momento da arrecadação. Extraoficialmente, muitos rumores. Um deles aponta para a influência decisiva da Hasbro, companhia de brinquedos detentora dos direitos dos Comandos em Ação, preocupada em ver se repetir o fracasso de Battleship – A Batalha dos Mares (Battleship, 2012). Mas não para por aí.

A sequência de bolas foras da Paramount começara ainda em 2009, quando o estúdio demitiu o diretor Stephen Sommers na fase de pós-produção do primeiro G.I. Joe devido à baixa avaliação do filme em suas sessões de teste. E o resultado, nas telas e nas bilheterias, foi realmente tenebroso. Mas seus executivos decidiram insistir numa continuação (risos), adotando como primeira decisão escalar um elenco comercialmente mais atraente. Escalados Dwayne Johnson e Bruce Willis, hora de rodar o longa-metragem. Tudo correu perfeitamente – até o bendito (?) teste de audiência, carma da Paramount.

As avaliações oscilavam entre o medíocre e o ruim (mais risos), e o público que assistiu à prévia do filme apontava que o único ponto positivo de Retaliação eram as cenas entre Johnson e Channing Tatum (Duke). Protagonista do filme anterior, Tatum fora relegado ao posto de coadjuvante na sequência, mas viu, sorridente, sua popularidade crescer junto ao público-alvo, por filmes como Anjos da Lei (?) e Para Sempre (???). Coube à Paramount não dispensar John M. Chu, mas acioná-lo, solicitando a inclusão de mais cenas entre Johnson e Tatum – que, certamente, teve mais motivos para sorrir, acertando um contrato mais polpudo.

Apesar do tom irônico dos parágrafos acima, a situação é séria, e incomoda. A interferência de quem comanda a indústria cinematográfica não se restringe ao adiamento da data de lançamento por conta de um concorrente de peso – como era o caso, pelo lançamento de O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, 2012) –, mas se estende por todo processo de produção. Assim acontece em todo o mundo. E são esses filmes, de grande orçamento e qualidade duvidosa, que tomam as salas de cinema do país. Para que tal panorama se equilibre, cabe ao espectador definir se mais vale se limitar a filmes que doutrinam o fazer cinema através de estratégias de consumo, ou se permitir experimentar obras com valor artístico genuíno. Fica a reflexão.

Comentários (19)

Victor Ramos | sábado, 06 de Julho de 2013 - 18:23

Hahaha, estava demorando para alguém citar Nolan.

Cristian Oliveira Bruno | terça-feira, 26 de Novembro de 2013 - 16:30

O primeiro foi um dos piores filmes que já vi nos últimos 10 anos e esse nem vou me prestar a ver. Também esperei muito tempo pra ver um filme dos bonecos, mas isso que fizeram é até triste. Tem muito dinheiro sobrando mesmo em Hollywood.

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