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Críticas

Cineplayers

Um copo meio vazio no caminho do deus dos monstros.

4,0

Nas redes sociais, leio: "quem quiser ver construção de personagem, vá ver Douglas Sirk". Fico tentando essa colocação... sim, porque a nova adaptação do clássico filme de monstro japonês, que já tinha rendido uma ótima versão ano passado (Círculo de Fogo [Pacific Rim, 2013]), não aprofunda apenas personagens, como nada. Tudo é muito raso e banal, típica 'sessão da tarde' feita para esquecer. Por isso, a dúvida: de onde veio nossa expectativa?

Veio na contratação de um muito jovem diretor britânico, de apenas um longa anterior no currículo (não a toa, o longa chama Monstros [Monsters, 2010]), que poderia ser capaz de oxigenar um gênero que é produzido no padrão linha de produção em Hollywood; veio na contratação de um elenco não apenas de primeira, mas completamente livre de associações a gênero; atores geniais, premiados no mundo todo e adeptos de um cinema exigente na filmografia particular; veio na entrega de trailers que deixavam claro os cuidados plásticos na construção imagética do todo, sem exploração gratuita dentro de um grupo de filmes relegados a diretores do nível (nível?) de Roland Emmerich e Michael Bay.

Finda a sessão, e resta a certeza de que Gareth Edwards recebeu como pagamento um cheque bem abaixo do valor que seria desembolsado para pagar os senhores citados. Mas a burocracia, a falta de rigor, a mesmice estética (e histérica), essas são idênticas... e quanto as tais cenas dos trailers, onde tudo antevia um produto refrescado, foram inseridas no filme deixando-as deslocadas e tristes, com sabor amargo do que "poderia ter sido, mas não é".

E aí finalmente ele chega, em todo seu esplendor: Gojira, o maior de todos. Suas mínimas aparições até a revolução completa de sua chegada são as poucas verdades do filme, onde o espectador parece de fato agradado no que um típico filme 'kaiju' parece corresponder. Lá pelas tantas, um entristecido Ken Watanabe manda: "deixa eles brigarem". É a deixa pro filme abandonar razão e emoção (que nunca houve, no modorrento casal de mocinhos vivido por Aaron Taylor Johnson e Elizabeth Olsen), e se concentrar no que interessa: Godzilla chutando bundas. Mas é tarde.

Enquanto isso, passeiam pela tela Juliette Binoche, Bryan Cranston, Sally Hawkins, David Strathairn... os tais atores que deveriam correr atrás de um Douglas Sirk pra ver e entender que seus personagens poderiam ser feitos por Lindsay Lohan, Rob Schneider, Michelle Rodriguez e Danny Trejo, já que tanto faz (mesmo!) talento e carisma a esses personagens ridículos. O lance é ver Gojira brigar, mesmo que tenham descoberto isso tarde demais.

Comentários (48)

SÁVIO MINA DE LUCENA | quinta-feira, 22 de Maio de 2014 - 09:35

Alguém sabe se o 3-D vale a pena ou é apenas mais um dentre tantos filmes que a mudança é mínima?

André F. F. | domingo, 25 de Maio de 2014 - 00:54

Me considero bastante exigente com os filmes, e digo que gostei do que vi. É um filme de catástrofe e, óbvio, de um monstro! Qual o problema com isso?

Willian Lig | quarta-feira, 28 de Maio de 2014 - 02:25

O filme atende a sua proposta: entreter. Esperar qualquer coisa a mais é se iludir. Seria, sim, lindo se na poltrona do cinema encontrássemos um blockbuster recheado de personagens profundos e complexos, mas, convenhamos, que nada apontava para tanto.
Li algo sobre Pacific Rim ser melhor. Acho, primeiramente, que Pacific Rim é muito mais próximo da estrutura de Neon Genesis Evangelion e das pelejas do intergaláctico Ultraman do que com a própria franquia japonesa. Tudo bem piorado, aliás.
Godzilla é, essencialmente, um bom filme da franquia. Só. Nada revolucionário. Vemos o monstro em ação conduzido por uma narrativa que não compromete.

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