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Críticas

Cineplayers

Vendo sem compromisso, pode até divertir. Fora isso, fique longe.

5,5

Adulto conhece criança e passa a enxergar a vida sob outro prisma: histórias assim são cada vez mais comuns, principalmente numa indústria que visa principalmente ao lucro e preocupa-se também com histórias vazias e sem conteúdo, reproduzindo fórmulas e perdendo-se em clichês. O começo de 2004 revelou um filme assim, pertencente a este grupo, mas que surpreende por se revelar num enredo divertido e agradável.

Grande Menina, Pequena Mulher conta a história de Molly (Britanny Murphy), filha de um famoso cantor de rock. Infelizmente, o astro vem a falecer e ela herda a fortuna a que tem direito, apaixonando-se também por um cantor de rock (Jesse Spencer). Infelizmente, em meio a sua vida desregrada, ela acaba sendo roubada e é obrigada a arranjar um emprego - é aí que Molly conhece Ray (Dakota Finning), uma garota muito amadurecida para a idade.

Até esse ponto do filme, em que precisa conseguir um trabalho, Britanny Murphy atua como uma atriz qualquer, passando uma idéia pouco convincente de uma pessoa realmente desesperada. Amigas e outros conhecidos vêm e vão, pouco contribuindo para o crescimento pessoal de Molly. Porém, quando a personagem finalmente se depara com a pequena Ray, a atriz Brittany Murphy demonstra-se capaz de segurar o papel até o fim do filme. O destaque na película fica mesmo por conta de Dakota Finning, que interpreta com muita competência a garota demasiadamente séria e madura que é sua personagem.

Grande Menina, Pequena Mulher trata basicamente de uma inversão de papéis. Molly é uma adulta atrapalhada, brincalhona e sem regras, despreparada para a sociedade cobradora que a espera. Ela não leva as situações a sério e expõe-se à sociedade consumista e hedonista. Ray, pelo contrário, é extremamente compenetrada, consciente de suas atitudes e não sai para brincar. Ela é o tipo de criança que gosta de música clássica, vive numa mansão e tem pouco contato com os próprios pais.

Quando Molly é aceita para ser a babá de Ray, há uma discussão entre as duas, obviamente. A garota sente-se ofendida por ter que aturar pessoa tão imatura, e a mulher impressiona-se com os cuidados excessivos dedicados à pequena: remédios, motorista, um quarto perfeito, tudo a que uma garota da alta sociedade tem direito. Porém, à medida que elas vão se conhecendo, descobre-se uma afinidade entre as duas personalidades e há uma troca de experiências: Molly amadurece (e Britanny Murphy deixa clara esta mudança através de sua evolutiva atuação) e Ray aprende a ser mais "criança" - enfim, as duas ensinam e aprendem.

Paralelamente, Neal, o cantor por quem Molly apaixonara-se, começa a fazer sucesso - e, para a surpresa desta, com uma música baseada em sua convivência com ela. Ela sente-se enojada, justamente por ter sido rejeitada pelo amante pouco antes de este ter sua carreira impulsionada. Os dois até tentam voltar, mas Molly de fato não perdoa o cantor.

A partir daí, a história do filme gira em torno apenas de Molly e Ray, e como as duas vão se transformando, tornando-se mais parecidas com o que realmente são - uma adulta e uma garota, respectivamente. As pitadas de comédia são equilibradas, e as risadas fazem-se mais presentes na primeira metade do filme. Depois, o filme toma um tom mais sério e dramático. O diretor Boaz Yakin certamente acertou no equilíbrio entre essas duas atmosferas, deixando o enredo mais balanceado e menos enjoativo, sem ares de comédia estúpida e vazia.

Para este tipo de filme, espera-se que a produção técnica não se destaque em nenhum ponto, e é o que ocorre. Não há efeitos especiais que valham a pena ser comentados, tampouco efeitos sonoros fora do comum ou fotografia diferente. Há apenas uma menção em especial que deve ser feita a duas peças musicais, ambas feitas pela personagem Neal. Uma delas, quando Molly e ele vivem juntos. A outra, a que acontece no momento final do filme, e que transmite o amadurecimento de Molly e Ray.

Nesta ocasião, Ray tem uma apresentação de balé, e a mãe da garota, como sempre, não comparece. Porém, Molly esforça-se para chegar a tempo, tentando não chamar a atenção (o que é impossível), e se encanta com a performance de sua pequena amiga. Como se não bastasse, Neal entra no palco para arrematar com sua canção, levando os fãs à loucura e encantando Molly mais ainda. É neste instante que Ray e Molly sentem-se realmente felizes por terem se conhecido e trocado experiências.

Enfim, Grande Menina, Pequena Mulher é um filme para ser visto sem compromisso, como uma oportunidade que simplesmente apareceu. Se o espectador for vê-lo com uma má impressão inicial, deparar-se-á com um filme bobo e mongolóide. Porém, se a mente estiver vazia, sem saber exatamente o que esperar, encontrará um bom momento de diversão.

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