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Críticas

Cineplayers

Sétimo filme é mais um passo no amadurecimento da série, e se as previsões confirmarem, ela encerrará muito bem.

8,0

Chega ao fim uma das mais longas e criativas franquias do cinema mundial. Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte I pretende abrir todos os caminhos para que ano que vem a série encerre com chave de ouro. Os estúdios prometem ainda o último capítulo em 3D (por pouco a parte 1 também não foi), o que deve gerar recordes de público ainda maiores. Aliás, disso a Warner não pode reclamar. Harry Potter foi sempre eficiente na hora de engordar os cofres. O que teve menor bilheteria, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, arrecadou quase 800 milhões de dólares pelo mundo. Harry Potter e o Enigma do Príncipe, o último lançado até então, chegou a quase 1 bilhão. As duas partes desse final pretendem bater todos esses números, e são bem capazes de conseguir.

Relíquias da Morte começa sem nem uma introdução. Muito justo, afinal foram 6 filmes antes, e se formos parar pra contar o que aconteceu nos capítulos anteriores, o filme, que já tem 2h30, ficaria ainda mais longo. Além disso, o diretor David Yates parece ter desistido de fazer um filme simplesmente comercial, onde qualquer um vá entender sem nenhum conhecimento prévio. Harry Potter é um fenômeno cultural, é um ícone pop, é o livro mais lido do mundo, perdendo apenas para a Bíblia, e sua autora é mais rica que a Rainha da Inglaterra. David Yates conta com isso, e sabe que nesse ponto, já passamos por toda a fase animais fofinhos, mágicas inocentes, e olhos brilhando com cada visita a Hogwarts. Em Relíquias, você já está apaixonado pelos personagens, ou pelo menos interessados neles. Você já conhece o universo em que eles vivem e até teme por eles. Afinal, nos últimos 3 filmes fomos “brindados” com mortes significantes nos últimos minutos. Aqui as mortes começam mais cedo, o que só realça a sensação de que ninguém está a salvo e a todo instante, com um simples Avada Kedavra, teremos mais um corpo estendido no chão.

Ainda assim, e esse é um problema recorrente na série inteira, Harry Potter tem problemas de ritmo. Aliás, ele sempre teve. Isso acontece em grande parte pois os livros, assim como na Saga Crepúsculo, tem fãs xiitas que não deixam passar nada desapercebido e fazem listas com todas as diferenças entre o livro e a tela grande, e se reclamam demais, certamente afeta o boca a boca e a bilheteria. E com uma patrulha tão intensa, é difícil tomar liberdades. Pra piorar a situação, a cada livro lançado, J.K. Rowling perdia sua capacidade de condensação, o que fez de Relíquias da Morte um verdadeiro tijolo. Será que era extremamente essencial que o livro virasse dois filmes? Não poderia ter sido feito apenas um com um ritmo muito mais ágil? Talvez. Mas a verdade é que Harry Potter ganhou muito com essa divisão. Pela primeira vez não temos a sensação que o diretor estava tentando incluir o maior número de referências literárias por frame, os tempos são exatamente o que os personagens precisam. E em uma história repleta de mortes, perdas e responsabilidades, era de se esperar que fosse diferente.

Harry, Ron e Hermione passam o filme inteiro fugindo, literalmente sendo caçados por Voldemort e seus Comensais da Morte. Eles são a última esperança para os bruxos, que têm vivido em um regime muito parecido com o nazismo. Um paralelo interessantíssimo, com muito crédito para Rowling, mas que visualmente também foi muito bem construído nos filmes, seja na propaganda contra sangue-ruins (pessoas que não nasceram bruxos) ou em toda concepção do Ministério da Magia. E para se preparar para o duelo final, Harry precisa achar e destruir as 7 Horcruxes, objetos que possuem um pedaço da alma de Voldemort. Sem destruí-las primeiro, Voldemort não pode ser plenamente derrotado.

Em Relíquias da Morte temos a clara sensação de que tudo o que assistimos até agora nos preparava para algo. Todos os feitiços que os personagens aprendiam a duras penas, e que pouco eram utilizados, agora fluem, conforme a necessidade vai surgindo. É como se eles vivessem na cena final da Ordem de Fênix, constantemente duelando, se protegendo. Ninguém segura, ou economiza na magia, que nunca esteve tão presente e utilizada. A história, que já foi bobinha e leve, agora está sombria e intensa. Hermione, por exemplo, começa o filme se apagando totalmente da memória dos pais, para protegê-los, e passa o filme todo atormentada por essas lembranças, sabendo que provavelmente nunca mais vai vê-los, e que se o fizer, eles não a reconhecerão. Ron é outro que deixou de ser alívio cômico para começar a enfrentar seus próprios demônios, e passa boa parte do filme escutando um rádio, com medo de ouvir a notícia da morte dos seus pais ou irmãos. Com isso, Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint, enfim nos entregam interpretações de qualidade, com cenas que exigem mais deles em um filme do que em toda a série. O elenco de apoio continua magistral. Difícil imaginar um Voldemort melhor do que Ralph Fiennes, ou uma Bellatrix melhor do que Helena Boham Carter. Ponto pra eles que apostaram nos personagens, sem saber como eles seriam de fato desenvolvidos.

Apesar dos muitos momentos de reflexão entre as fugas, e com momentos muito tenros, como a dança entre Harry e Hermione, as cenas de ação estão em sua melhor forma em Parte 1. Muito bem construídas, com uma tensão que beira o filme de terror, principalmente na sequência na casa de Bathilda Bagshot. E ao perceber a eficiência com que os personagens conseguem sair das situações, dão um misto de orgulho e melancolia, ao constatar como o tempo passou para Harry e Hermione, e em como estivemos presentes por todo o caminho.

Mas nem tudo são flores. Hogwarts fez muita falta. Por mais interessante que este sétimo filme seja, não tem como não se perguntar o que estará acontecendo na escola, e quando Harry abre o mapa do maroto, brevemente, foi o suficiente para ansiar por acompanhar um pouco do que estaria acontecendo por lá. Também faz falta Michael Gambon e seu Albus Dumbledore, mas neste caso, é sem retorno. Pra quem não lembra, ele levou um Avada Kedavra no último filme, e agora só volta em flashbacks (ou pensamentos da Penseira, no caso). Também não foi bem trabalhado o romance entre Harry e Gina. Embora eles sejam o principal casal, aquele para quem deveríamos estar torcendo depois de sete filmes, acabamos torcendo estranhamente por Harry e Hermione. Nos livros não há nenhuma tensão romântica entre eles, mas é algo que aconteceu naturalmente nos filmes, sem pretensões, o que só aumenta a carga dramática dos personagens. Mas deixar a Gina Wesley tão apagada, principalmente depois do destaque que ela teve em O Enigma do Príncipe, é inaceitável.

No final da projeção, a impressão que fica é que Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1 é um divisor de águas na série. É o primeiro filme onde não temos Hogwarts e a divisão de tempo que engessa tanto os filmes. Sempre acabamos os filmes porque o ano letivo acabou. E nunca o arco dramático do filme podia terminar antes de acabar o ano letivo. Dessa vez há uma ruptura em tudo que ficou pré-determinado como ritmo e narrativa até aqui, e isso é muito bom. É mais imprevisível, e isso foi essencial para a série. Fica a impressão de que o melhor filme, na verdade, é aquele que está por vir. É torcer pra não termos essa expectativa frustrada.

Comentários (1)

wolgonon miranda alves maciel | domingo, 19 de Fevereiro de 2012 - 02:58

😁um filme feito especialmente para os fãs, não perde tempo com explicações que só tomaria tempo, tempo que foi muito bem usado no desenvolvimento dos personagens. um granded começo do fim.

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