Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Um filme que poderia ter sido infinitamente melhor se a Miramax mostrasse a coragem de antes.

7,5

Faltou pouco para Hollywoodland - Bastidores da Fama ser um grande filme. O mais problemático, que era arrancar uma interpretação decente do canastrão Ben Afleck (um dos piores atores de sua geração), o diretor Allen Cutler conseguiu contornar com maestria – ele até que está bem, o prêmio de melhor ator em Veneza não foi equivocado, só exagerado. Mas há uma subtrama de amargar: a relação de pai e filho entre o investigador picareta (Adrien Brody) e a cria que ele não consegue entender. Não só é desnecessária como constrangedora, infeliz, péssima escolha; derruba o filme e demonstra que a Miramax da fase Disney tem boas idéias para filmes, mas perdeu a coragem de levá-los adiante a contento.

A história é maravilhosa. Conta a trajetória do ator canastrão (daí Afleck estar tão à vontade) George Reeves, que foi o Superman na série kitsch televisiva nos anos 50/60. O problema é que ele se levou a sério, pensou que poderia se tornar um ator de verdade, mas acabou não só morto como esculhambado pelo público. Na cena mais emblemática, depois de muito esforço Reeves consegue um pequeno papel em A Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity), de Fred Zinemann, contracenando com Burt Lancaster, mas, ao aparecer na tela, os espectadores começavam a rir e a reconhecê-lo pelo papel trash na TV, fato que levou o diretor a cortá-lo na montagem final e enterrar de vez sua carreira.

A versão oficial da polícia dizia que ele cometeu suicídio, mas um detetive igualmente fracassado envolve-se na história e arrasta a mãe do ator junto para tentar descobrir se Reeves deu mesmo um tiro na cabeça ou foi assassinado. Motivos para isso havia, uma vez que ele era amante (consentido) da mulher (Diane Lane, em momento inspirado) do chefão da MGM (grande papel de Bob Hoskins), na época um dos maiores estúdios de cinema – ele era praticamente um gângster. Teria mandado matá-lo após a esposa ter sido abandonada por Reeves e desabado.

O filme dá três versões para o caso, de forma que há praticamente três desenvolvimentos da trama, nenhuma conclusiva. Além da já dita, poderia também ter sido morto pela nova mulher, uma socialite novaiorquina que teria dado um tiro nele durante uma briga em que ambos estavam embriagados. Por fim, teria sido mesmo o suicídio. Afinal, já envelhecido, gordo e afastado das telas, Reeves era a imagem da decadência – um pouco o que é Afleck hoje, que recentemente se internou numa clínica para se recuperar do alcoolismo.

Tudo é resolvido em demorados e bem editados flashbacks – mesmo terminando morto numa cena, a personagem está vivíssima na cena seguinte, mas em outro desenvolvimento da história. O roteiro guarda várias surpresas, mas é convencional demais. Todas essas reviravoltas e contornos por vezes redundam em grandes clichês, que tiram o impacto do filme. Será que, se os irmãos Weinstein ainda estivessem no comando da Miramax (saíram depois que a Disney comprou o estúdio), Hollywoodland teria se tornado o grande filme que poderia ter sido?

Ótima fotografia, excelente vestuário, o diretor sabe dirigir um filme noir. Os demais atores estão bem (Diane Lane está mais do que isso, está ótima; já Adrien Brody nem tanto, mas sua história não ajuda). Incrível como um filme tão inteligente, com gente tão esperta, não soube avaliar que a trama rala e sem apelo da relação pai e filho poderia lançar o filme no mais-do-mesmo do cinemão que o filme pretende criticar. Psicologismo barato, de quinta, mal feito e forçado. Hollywoodland é vítima da própria mentalidade tacanha e provinciana que denuncia.

Los Angels – Cidade Proibida pode dormir em paz: ainda é o melhor filme noir recente, uma vez que Dália Negra tampouco o destronou.

Comentários (0)

Faça login para comentar.