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Críticas

Cineplayers

Grandes efeitos especiais e roteiro muito ruim marcam o início da temporada de grandes bilheterias em 2008.

5,0

Abrindo a temporada de filmes-pipoca de 2008, Homem de Ferro é mais um capítulo no já muito desgastado mundo das adaptações de super-heróis para o cinema. E o filme é bem isso: desgastado como o seu gênero. Totalmente dependente de efeitos especiais para trazer emoção ao público (o que não é realmente algo novo nesse tipo de filme), o trabalho do diretor Jon Favreau sofre de falta de personalidade aguda, ou seja, tudo o que existe nele (bem, quase tudo) é puxado de adaptações anteriores. Vulgarmente, poderíamos considerar Homem de Ferro uma mistura insípida de Hulk (este, muito melhor emocionalmente) e O Quarteto Fantástico (toda a parte tecnológica do filme).

É no mínimo ridículo vermos um Robert Downey Jr. preso em uma caverna construir uma revolucionária armadura capaz inclusive de voar. Alguém lembra das reclamações de O Quarteto Fantástico, onde o Sr. Fantástico inventava as mais impressionantes máquinas em poucos dias, sob pressão imensa? Pois é, em Homem de Ferro, esta é apenas uma das facetas que o fraquíssimo roteiro, escrito por muitas mãos, traz para nós. O personagem de Downey Jr., o rico e arrogante Tony Stark, pode muito bem funcionar nos quadrinhos, onde a necessidade de ligação emocional entre leitores e o material não precisa ser tão rica quanto no cinema. Agora, se um personagem só se faz sentir quando está lutando ou explodindo coisas, esse é um mau sinal. A culpa não é exatamente do ator, e sim do roteiro, que lhe deu um material muito pobre para lidar.

Todos sabem que todo grande filme de ação de super-heróis precisa ter um grande vilão. O vilão de Homem de Ferro, sinto dizer, também é muito fraco. Caricato ao extremo, seu objetivo único é “matar Tony Stark e dominar o planeta”. Sua profundidade emocional é nula. E isso porque não falamos do ato inicial do filme, onde mais uma vez um americano é vítima de pobres guerrilheiros/terroristas do Terceiro Mundo. A falta de originalidade impera, e somos obrigados a suportar esse velho clichê novamente. Mais tarde, quando somos apresentados a uma reviravolta “surpreendente” (e o vilão acima aparece, finalmente, já perto do ato final do longa-metragem), o filme adquire um tom auto-importante que simplesmente não se justifica.

Já o elenco coadjuvante tem seu maior destaque com Gwyneth Paltrow, que faz a assistente de Tony Shark, e acaba tendo envolvimento emocional com nosso herói. Paltrow conseguiu ser a personagem mais simpática do filme, e pelo menos aí entende-se porque Tony se apaixonaria por ela. O desenvolvimento dessa relação, como não poderia deixar de ser, deve ficar mesmo para as sequências. Já Terrence Howard fica totalmente em segundo plano com suas idas e vindas vestido com uniforme do exército, quase como uma muleta para Tony Stark se apoiar durante o filme todo. Para os fãs dessa grande promessa como ator, é muito pouco, e certamente decepcionante.

Mas, claro, o filme foi feito para divertir, certo? Creio que ninguém vá assistir a um filme baseado em quadrinhos de ação com o objetivo principal de se emocionar e se identificar com os personagens. Se isso acontecer, é lucro – talvez por isso Homem-Aranha tenha sido um fenômeno nos seus dois primeiros exemplares. Ainda assim, mesmo aí Homem de Ferro derrapa. O filme limita-se a um par de cenas realmente excitantes. Confesso que achei ótima a cena nos céus com os caças do exército norte-americano. Já o restante das cenas de ação parecem uma coleção de momentos reciclados de outros filmes: o vôo até os céus de Hulk, a batalha no trânsito de O Quarteto Fantástico e até mesmo uma cena onde bandidos têm reféns com armas apontadas para as suas cabeças e o herói encontra um jeito de, utilizando seu computador, acabar com eles, já foi vista no velho Robocop.

Pelo menos o uso do humor foi bem empregado, como deve ser para essa espécie de filme, mas quando o personagem mais engraçado e as melhores piadas vêm de um robô extintor de incêndio, pode-se ver que as coisas não vão muito bem. É claro que o filme foi construído para ter sequências – muitas delas de preferência – e o sucesso da primeira semana nas bilheterias praticamente garantirá a produção de mais filmes com o personagem. Um filme riquíssimo em efeitos especiais (capricharam nesse quesito e o filme é quase perfeito nele), mas emocionalmente nulo, onde mocinho e vilão ficaram devendo interpretações que fizéssemos torcer, de fato, pelo destino do planeta. Este filme teve o objetivo de apresentar-nos um novo personagem, definir sua personalidade e o clima que veremos nos filmes seguintes, mas ao contrário de outras tentativas mais felizes para outros heróis (sobretudo Homem-Aranha e Hulk), tudo que ele entregou foi um par de boas cenas de ação no meio de uma história desinteressante sobre nada em especial.

Comentários (1)

Lillian Marçal | quarta-feira, 27 de Maio de 2020 - 22:32

Críticas que envelheceram mal

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