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Indiana Jones e A Última Cruzada

(Indiana Jones and the Last Crusade, 1989)
8,2
Média
653 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Concluímos nossas matérias sobre a trilogia principal de um dos maiores ícones do cinema.

9,0

Enquanto algumas trilogias são marcadas pela decadência progressiva de suas seqüências, a série Indiana Jones sofreu algo curioso: o primeiro episódio, Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, 1981), lançado sem expectativas em 1981, foi um enorme sucesso, o que gerou uma óbvia seqüência, Indiana Jones e o Templo da Perdição (Indiana Jones and the Temple of Doom, 1984), em 1984, duvidosa. Porém, em 1989, quando foi lançado Indiana Jones e a Última Cruzada (Indiana Jones and the Last Crusade, 1989), teoricamente o último filme da franquia (retomada em 2008, quase vinte anos depois), o mundo estava por imortalizar o arqueólogo mais amado da história do cinema; sim, Jones havia chegado ao máximo que essa homenagem às aventuras poderia chegar.

A história resgata a origem da série: Indiana Jones (Harrison Ford), com a ajuda do pai, Henry Jones (Sean Connery), parte em busca do Graal, o lendário cálice sagrado de Cristo. Nada de feiticeiros e templos de rituais macabros, isso é passado. Óbvio que o cálice também é procurado pelos alemães, perigo muito mais eminente neste filme, visto que a Segunda Guerra Mundial estava mais próxima de eclodir e até Hitler faz uma pontinha no longa.

Como todo filme da franquia, este aqui também inicia com o logo da Paramount transformando-se em algo real, seguido por um mini-filme aventura do herói. Só que, dessa vez, não é Ford que encarna o papel de Indiana: o jovem River Phoenix (que faleceu tragicamente pouco tempo depois) foi o encarregado de viver o papel durante a adolescência de Indy, em uma de suas primeiras aventuras, que conta um pouco mais sobre os pensamentos do personagem, explica o início de sua fobia por cobras e ainda tem uma aparição relâmpago de Connery, fazendo suspense para sua real chegada, tempos depois.

Tudo está com o mesmo aspecto, mas não a mesma proporção: com duas horas e sete minutos de duração, A Última Cruzada poderia ter, facilmente, três horas. Isso porque as passagens estão maximizadas: Jones visita mais lugares dessa vez (mais do que os dois filmes anteriores juntos), enfrenta inimigos mais poderosos, as cenas de ação são empolgantes ao extremo (retornarei a esse ponto mais a frente), o humor está ainda mais constante, mas sem tirar a seriedade de tudo o que acontece, a companheira de Indy não é apenas uma mulher, mas uma verdadeira femme fatale, e até o final, apesar de menos explosivo, é muito mais impactante do que todos os outros filmes anteriores. Lembrando de Connery, podemos dizer até que o filme tem dois protagonistas, e não apenas um.

A dupla que Harrison faz com ele é simplesmente brilhante: apesar da diferença de idade entre os dois parecer ser muito maior do que é na vida real, o pai e filho arqueólogos funcionam como contra-ponto perfeito para tudo: “Estão tentando nos matar”, “Eu sei, pai!”, “É uma experiência nova para mim”, “Acontece comigo o tempo todo!”. A química é simplesmente perfeita e os diálogos / situações, brilhantes. Eles são, simplesmente, a alma do filme. O conflito pai e filho é sempre usado, desde o primeiro momento em que Connery aparece em cena (se preocupando mais com o vaso do que com o filho), até o fim, quando descobrimos de onde vem o nome Indiana Jones e como o pai chamava, carinhosamente, seu progenitor.

As cenas de ação são um destaque a parte: com um orçamento claramente mais largo para serem realizadas, elas acontecem a todo o momento, e em todos os cenários passados pelo doutor. Baseando-se em grande número em perseguições, as seqüências de ação são bem feitas e, em nenhuma delas, você encostará o cotovelo no braço da cadeira para bocejar. Desde o filme introdutório, onde o jovem Indy foge dos arqueólogos no trem do circo, até a resolução dos enigmas finais, passando por todo o confronto com nazistas, o combate aéreo, a luta no tanque (repito, a luta no tanque!), tudo é feito com o mais absoluto cuidado para agradar aos fãs de tais passagens. Há, obviamente, também, seqüências com animais nojentos, mais uma característica da série, e dessa vez o nervoso da vez será passar por ratos. “Meu pai odeia ratos”. Nós também.

Se há um defeito que pode ser indicado, diria que é a pressa em algumas situações. Óbvio, como falei, acontece tanta coisa no filme que ele poderia caber em três horas de duração, mas a principal passagem em que isso é perceptível é quando Indy vai para o centro do nazismo, para recuperar o diário de seu pai. Ali muita coisa poderia acontecer, mas fomos resumidos a um “basta eu gritar” e pronto, acabou. Indy saiu inteiro. Ok, ele é garanhão e tudo mais, mas depois de tudo o que havíamos visto, fica difícil aceitar esse tipo de pressa. Imagino o tanto de material que não teve que ser cortado para que o filme coubesse em duas horas de duração e não descaracterizasse à homenagem aos filmes de aventura que a série sempre foi. Só que, por méritos total da equipe, o que ficou não nos faz sentir falta de nada.

E já que falei de novo sobre os nazistas, cabe aqui mais um parágrafo sobre eles: verdadeiros vilões da série (feiticeiro que arranca o coração da vítima está lá na esquina dançando frevo e comendo paçoca), fica muito fácil saber que eles são perigosos, mas não pelo que está no filme, e sim por sabermos quem eles são. Se você parar para pensar, pouco antes da guerra acontecer, nazistas procurando o Santo Graal que pode dar a vida eterna e juntando com o pré-conhecimento histórico que todos temos, fica um vilão de fácil aceitação pelo público. Desconsiderando o conhecimento pré-filme, só percebemos que eles são realmente uma ameaça lá para a metade da coisa, quando já estaríamos perdidos o suficientes para perder o fio da meada. Só que como isso não acontece, sabemos perfeitamente os perigos que eles podem oferecer ao nosso arqueólogo sem que o filme precise reservar maiores momentos para isso.

Como não se empolgar quando a canção tema premiada da série começa a sonorizar durante uma bela cena de ação? Os premiados Efeitos Sonoros (Oscar) são realmente fascinantes: propositalmente exagerados, um soco fará um estalo maior do que uma espoleta, assim como o chicote ecoará muito mais potente do que é na verdade. Isso é mágica, isso é cinema, isso é arte. Um filme que faz balançar a emoção entre euforia da ação, a comédia com sorrisos e o drama nas lágrimas, só pode ser uma obra imortal.

Quando os personagens caminham para o pôr-do-sol, felizardos foram aqueles que puderam acompanhar toda essa magia no cinema. Tudo bem, tivemos um quarto episódio e ele serviu para nostalgia e ouvir a trilha no cinema, mas queria ter nascido um pouco antes para ter visto este novo clássico no cinema antes da era da computação gráfica.

Comentários (1)

Samuel Nascimento | segunda-feira, 22 de Junho de 2015 - 00:50

"Estão tentando nos matar”, “Eu sei, pai!”, “É uma experiência nova para mim”, “Acontece comigo o tempo todo!”

Esse filme é genial. Saudades de filmes assim. Parabéns pelo texto, também sou muito fã das aventuras do Indiana Jones. Poderia ter parado aqui. Mas ainda querem fazer mais filmes e mais filmes...

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