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Críticas

Cineplayers

A estreia de um militante político-social.

7,0

Benh Zeitlin surge como um cineasta das causas sociais. Ele joga seu olhar para os excluídos e marginalizados e tenta compreender o sentido da existência para aquelas pessoas. Para tirar o peso da história – o que é de gosto duvidoso - ou para conferir beleza onde claramente não há, o diretor estreante usa alegorias que, de fato, agregam à estética suja, mas que parecem ao mesmo tempo deixar a história razoavelmente vazia até a primeira – e única – virada de roteiro.

Esse cinema militante guarda relação com uma clara visão política de esquerda moderna de Zeitlin que, ao mesmo tempo pelo uso das alegorias, transmite essa mensagem sem pedantismo, mas também sem suscitar de fato o debate sobre a organização perversa da sociedade. Essa visão esquerdista moderna é decorrente não só da mensagem social por vezes escondida, mas também da militância pelo cuidado com a natureza, com a repetição de frases que carregam o significado do universo sendo composto por elementos que coexistem em harmonia. Além de imagens de geleiras derretendo e do grande alagamento causado pela interferência do homem.

A comunidade da pequena Hushpuppy e de seu pai, motores da história, fica em uma área de risco praticamente escondida pela construção de uma barreira de contenção de água, que, no horizonte ampliado, enquadra imagens feias para reafirmar o discurso crítico do desenvolvimentismo sem preocupações com a natureza. O cenário de fato são as famílias de regiões isoladas pós-furacão Katrina. Ao mesmo tempo, estabelece um contraste ao mostrar o convívio harmônico daquela comunidade com animais e da noção de partilhar para viver. Assim, apesar de miserável, Hushpuppy não hesita em dividir a comida com os animais, por exemplo.

Outra questão basicamente social levantada por Zeitlin é a assistência que o Estado busca dar àquelas pessoas. Elas são invisíveis até o exato momento em que a existência delas interfere na harmonia daqueles que estão do outro lado do muro. Da mesma forma, a comunidade não faz questão de ser vista, num misto de ignorância natural por quem não foi incluído na sociedade, e de uma clara noção de liberdade. Isolados, são protagonistas de suas histórias, não são julgados e vivem conforme suas vontades. Assistidos tardiamente e de forma discutível (apesar de necessária muitas vezes) pelo Estado, aquelas pessoas são submetidas a abrigos que retiram deles seu único bem, a própria liberdade.

Assim, a grande alegoria é a introdução das bestas selvagens do título original. Explicadas no início, são símbolos de ameaça ao crescimento do homem enquanto espécie. Por isso, o maior desafio da protagonista mirim será enfrentar essas suas bestas interiores, amadurecer, crescer e estar pronta para a vida. A realidade à volta dela a prepara para domar as ameaças exteriores, mas, antes de qualquer coisa, trata-se apenas de uma criança invisível, que precisa buscar as formas de ser vista. E é esse crescimento individual transmitido pela marcante interpretação de Quvenzhané Wallis, a forma pela qual Zeitlin transformou sua história mais digestível a uma quantidade maior de pessoas.

Para quem não enxergou a militância político-social do diretor, até porque ele a maquiou de certa forma, ficou a experiência do amadurecimento e do crescer. Para quem a viu, tem-se um produto mais completo. Contudo, mesmo visto em sua plenitude, Indomável Sonhadora não é arrebatante e demora a mostrar a que veio. 

Comentários (11)

Paco Picopiedra | domingo, 17 de Março de 2013 - 12:00

Então agora somos obrigados a passar a mão na cabeça de diretor, é mole? Acusar de simplista atinge a mensagem que a obra quer passar, mas de modo algum alguém aqui discorda do fato do quão complicado o processo de realização de um filme é, o resultado são outros quinhentos - neste caso, apesar de partir do ponto de vista de uma garotinha, realmente é irregular e raso por se esforçar demais na inserção de recursos estéticos do que em trabalhar a crítica.

Dio Brando | segunda-feira, 18 de Março de 2013 - 22:16

" Um cara que prefere Hitch: Um Conselheiro Amoroso do que Luzes da Ribalta, merece menos atenção que um fake. Não, não sou de ficar julgando listinha ou gosto, mas um cara tão cheio de moral, como este merece ser julgado. Fora que, segundo a lógica desse Diogo, só vamos poder julgar aquilo que podemos fazer melhor, ou seja, só curtas ou filmes bostas... "

E segundo a tua lógica, um cara que prefira Hitch do que Luzes de ribalta merece menos atenção que um Fake. Essa sua lógica é ainda mais burra e idiota. Fora que segundo a lógica desse Ricardo, ele diz que não é de ficar julgando mas teceu um dos comentários mais ridiculos do site...

Victor Ramos | terça-feira, 19 de Março de 2013 - 13:20

Todos nós estamos aqui para conhecer novos filmes e também para julgá-los. Por que não, camarada? Isso chama-se senso crítico e não serve apenas para a arte, mas para a vida em geral.

Ricardo Nascimento Bello e Silva | terça-feira, 19 de Março de 2013 - 14:10

Mas todo mundo julga, não tem como não julgar, Diogo. De uma forma ou de outra sempre estamos julgando. Minha lógica não é burra nem idiota, posso até ser arrogante ou qualquer coisa do tipo, mas sim, só não entendo tanta moral na hora de falar de algo. Agora não me venha dizer que ele não foi grosso por que foi. E até onde eu sei é impossível falar de um filme sem dar a sua opinião e se é possível, não é esse o papel da crítica..

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