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Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum

(Inside Llewyn Davis, 2013)
7,7
Média
325 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

A falsa encruzilhada.

9,0

A crítica contém detalhes sobre a trama do filme.

Quem nutria altas expectativas pelo novo longa de Joel e Ethan Coen não vai se decepcionar. Para os fãs de musica folk então, serão 105 minutos de puro deleite. Ali está o cinema autoral que tanto apreciamos, transposto para a Greenwich Village dos anos 60. Roteiro inteligente, personagens complexos, diálogos e atuações brilhantes, fotografia e arte impecáveis, sem falar no delicioso sarcasmo que perpassa até mesmo as cenas mais dramáticas. Inside Llewyn Davis (2013) é um filme de época, recheado de belas músicas. Passa-se na cena folk de Nova Iorque e reúne um elenco cheio de boas surpresas: o astro pop Justin Timberlake, Adam Driver e Alex Karpovsky (ambos atuam na “série da moda” Girls, do canal HBO); os veteranos John Goodman e F. Murray Abraham; a cobiçada Carey Mulligan; e Oscar Isaac, no seu primeiro grande papel no cinema.

Inside Llewyn Davis é o nome da mais recente gravação (em disco vinil) de um cantor folk cuja dupla, com quem fez relativo sucesso no passado, cometeu suicídio. Se o filme revela algo sobre seu protagonista, ao adentrar na sua intimidade e subjetividade, é que para ele não há possibilidade de redenção. Não pelo mundo ser cruel, injusto e as pessoas não se mobilizarem a seu favor, mas porque Llewyn é simplesmente incapaz de se mover. A musica é sua única via de comunicação com o mundo, a única forma de se conectar com as pessoas. Mas suas composições parecem ter perdido a capacidade de transformar a realidade à sua volta. Quando toca no carro para desconhecidos com quem divide a gasolina para Chicago, um dorme e o outro sequer reage. Quando performa para um importante empresário musical, este lhe devolve com dureza e pragmatismo uma proposta medíocre. Finalmente, quando canta para seu pai (internado com Alzheimer numa casa de idosos), este esboça uma reação mas logo sabemos que ele estava defecando nas próprias calças.

A sinopse anuncia: Llewyn se encontra de frente a uma encruzilhada. O filme na verdade o coloca diante de sucessivas bifurcações, potenciais turning points na sua vida pessoal e profissional. Elas aparecem inclusive de forma insistente, reiterativa. O protagonista precisa cuidar de um gato por um ou dois dias até conseguir devolvê-lo ao casal de amigos que o abrigou no sofá da sala por uma noite. O animal se esgueira pela porta quando Llewyn sai do apartamento, no dia seguinte, sem que ninguém mais estivesse em casa. Mas Llewyn não é capaz de impedir que o gato escape de novo e o perde para a cidade. Quando retorna à casa dos amigos com o gato que encontrou na rua, dias depois, pensando ser o mesmo, e descobre tratar-se de outro animal, imaginamos que ele vai adotá-lo, apegar-se ao bicho, pois ele o leva consigo para Chicago. Em vez disso, ele o abandona no meio do caminho para seguir viagem sozinho.

Quando descobre a gravidez de Joan (casada com seu amigo Jim) e, já no consultório do médico que fará o aborto, descobre que, dois anos antes, sua antiga namorada não havia interrompido a gravidez como pensava, nem por isso Llewyn a procura e, chegada a oportunidade de visitá-la (ela e o filho ou filha), não desvia seu caminho. Por fim, a aparente reviravolta profissional, com o abandono da música para trabalhar novamente na marinha, não é levada a cabo.

Assim, o filme segue dando falsas pistas de mudanças, sempre abortadas. A começar pela falsa narrativa cronológica, que revela-se quando descobrimos que a cena inicial não é o ponto de partida, mas de chegada da história. O show que abre o filme mostrava o oposto do discurso do fracasso e, a principio, parecia que as sucessivas desventuras que acontecem ao personagem só têm início depois que um homem o enche de socos, na saída dos fundos do bar onde tocou. O filme começa e termina na mesma cena porque, no fundo, o personagem nunca saiu do mesmo lugar. Suas escolhas não o levam a lugar nenhum, ele está apenas andando em círculo. Quando diante das diversas encruzilhadas que encontra em seu caminho, Llewyn escolhe sempre a via que o faz retornar ao lugar de onde saiu.

Visto no 66º Festival de Cannes

Comentários (16)

Francisco Bandeira | quinta-feira, 30 de Janeiro de 2014 - 23:16

Disse tudo, Oscar Isaac mandou muito bem mesmo. Eu tinha gostado dele, já em Drive, depois ele fez papel de músico no filme \"10 Anos de Amizade\" e eu gostei dele no filme. Agora, bem dirigido, mostrou enorme talento. Goodman roubando as cenas, sempre subestimado e esquecido nas premiações. Trilha sonora nem precisa dizer e a fotografia é uma lindeza! 😁

Vinícius Aranha | sexta-feira, 31 de Janeiro de 2014 - 13:46

Esse é um que prefiro esperar pra ver no cinema.

Jairo Simões | quinta-feira, 06 de Março de 2014 - 09:54

Nunca li e nunca vou ler uma crítica antes de ver um filme. Vi o filme ontem e adorei. E o texto ficou bem legal.

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