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Críticas

Cineplayers

A letargia do tédio.

6,0
Um grupo de seis mulheres conversam. Choram, dançam, cantam, discutem sobre diversos assuntos enquanto tomam sol no terraço de um prédio, em Buenos Aires. A história se passa em meio à década de 90. Ao longo de uma manhã e de uma tarde ensolaradas, as acompanharemos, ouvindo relatos pessoais e parte de seus sonhos particulares, em geral relacionados a sombra de coqueiros e um banho de mar como fuga da condição cotidiana a qual vivem em uma grande cidade, numa Argentina pré-crise. Mas não é só isso que a obra traz. O tédio é manifesto e a letargia vivenciada por estas mulheres traz algumas questões que outrora não fariam. 

O novo filme de Gustavo Taretto, diretor do elogiadíssimo Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual (Medianeras, 2011), vem falar de enclausuramentos em cidades e em situações econômicas, e as possíveis saídas destes problemas. Alimentadas por anseios simples discutidos ao longo de mais de 90 minutos, o sexteto interage horas antes de uma apresentação competitiva de Salsa a qual irão participar. O campeonato é uma conquista bastante desejável, mas há alguns outros propósitos a serem conquistados e resolvidos por cada uma delas.

Semelhante a sua escolha em Medianeras, Taretto optou em filmar num espaço reduzido, trazendo para si próprio o desafio que já havia enfrentado: construir uma narrativa metalinguística dentro de limitações espaciais. Seu cenário restrito é uma referência explícita a ideia de confinamento. Dentro dessa elaboração, em vários pontos se sai muitíssimo bem. O problema é que os diálogos, ainda que descontraídos, relevantes e amistosos, não se sustentam o tempo inteiro, lançando o espectador para fora daquele espaço reduzido. A experiência não é a de cinema como janela.

A visão é calorosa. A temperatura aumenta ao longo das horas. Cenas extras aparecem de tempo em tempo anunciando o horário e qual a temperatura atual. As seis mulheres vão ficando douradas e cada vez mais se destacam em seus biquínis e toalhas coloridas. Entre tantos assuntos discutidos, um diz respeito a cromoterapia, onde uma comenta o tratamento para logo após outra discordar racionalmente enquanto outra demonstra interesse na possibilidade disso ser verdade. É a crença na qualidade de consolo. Esse é um dos vários exemplos que provoca interações entre elas, destacando individualidades e concedendo alguns aprofundamentos. Além de seus nomes, elas ganham caracterizações, profissões e interesses próprios. Tudo a serviço da empatia junto ao público.

Simples em suas aspirações, Las Insoladas é uma drama coletivo e cultural que retrata jovens da classe média idealizando o que poderia fazer melhorar suas vidas inanimadas. Em certo instante, em meio a tantas indagações, lembram de Cuba e do comunismo, pensando que lá as condições podem ser melhores, sem entenderem de fato como tal sistema funciona. Projeções sobram no texto de Gabriela García Rivas e do próprio Taretto. Protagonizado por mulheres – seis competentes atrizes –, o filme demarca algumas sujeições que poderiam ampliar interpretações. Ali, no alto do prédio, um paraíso colorido, quente e privado. Do lado de fora, as dúvidas, as incertezas e o cinza característico. 

Comentários (2)

Daniel Mendes | domingo, 21 de Agosto de 2016 - 12:58

Vi o visual e achei que era Almodovar.

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